Votorantim vai em busca de startups para inovar em mineração
Com foco em reduzir o impacto de resíduos e os gastos com energia, grupo centenário lança campanha para atrair empresas iniciantes
O Estado de S. PauloO efervescente mercado de startups como provedoras de inovação para grandes corporações pelo mundo vai, aos poucos, ganhando força também aqui no Brasil. Depois de iniciativas recentes anunciadas por Samsung, Embraer, Itaú e Unilever, na próxima segunda-feira, 21, será a vez da Votorantim estrear no ramo, por meio de sua divisão de mineração. O grupo quer peneirar entre até 200 startups mapeadas, 10 projetos capazes de reduzir o impacto dos resíduos e dos gastos com energia nas plantas de extração de minérios – dois pontos considerados estratégicos para ampliar a competitividade da companhia no setor.
Batizado de Mining Lab, neste primeiro ciclo, a Votorantim vai se concentrar em projetos nas áreas de nanotecnologia e de energias renováveis. A ideia é depurar as ideias e desenvolver um plano de negócio para as startups com projetos e protótipos já concluídos para as tecnologias. “A gente quer uma parceria, dividir com a startup as nossas necessidades na área e apoiá-las no processo de depuração dos projetos”, conta o gerente de tecnologia da Votorantim Metais Rodrigo Gomes. Em 2016, a empresa deve investir em inovação aberta R$ 28 milhões.
Das 200 startups selecionadas, a expectativa é que até 90% seja da área de energia renovável. Parceira da Votarantim, a aceleradora mineira Tech Mall está na busca pelos projetos junto a instituições do setor e universidades, principalmente em São Paulo, Minas Gerais e no Sul do Brasil. "Os projetos de energia renovável já são mais pulverizados em termos de solução no Brasil, com ideias mais avançadas. Já nanotecnologia é um setor mais específico, precisamos garimpar mais, ir atrás para encontrar. O nosso grande desafio é integrar esses projetos mais inovadores que saem do ambiente de startup com a cultura mais engessada das grandes empresas", destacou Vinicius Roman, CEO da Tech Mall.
- Segundo Milton Mori, diretor-executivo da Agência de Inovação da Unicamp, o movimento de grandes empresas em busca de startups justifica-se sobretudo pela redução do custo na inovação. “A inovação aberta tem o orçamento e os riscos compartilhados”, afirma.
É nesse sentido que, por exemplo, a sul-coreana Samsung mantém no Brasil dois programas de incentivo às startups, o Programa de Promoção da Economia Criativa, para a formação de incubadoras e aceleração de startups, e o Samsung Ocean USP, que busca soluções para tecnologias digitais móveis. “Nós já estamos na segunda edição do programa de Economia Criativa. Nossa inspiração é o trabalho feito em nossa matriz”, conta o gerente de Pesquisa & Desenvolvimento da Samsung, Antonio Marcon. Segundo o executivo, a Samsung mantém dois centros de economia criativa e inovação na Coreia do Sul (CCEI, da sigla em inglês) e já atendeu mais de 1.000 empresas.
Outra que começa a dar os primeiros passos no setor em esfera nacional é a Unilever, uma das principais investidoras do ramo no contexto global. Sua divisão para investimentos de capital de risco no exterior, a Unilever Ventures, tem participações em cerca de 40 startups e, no ano passado, desembolsou US$ 1 bilhão para adquirir a startup Dollar Shave Club, um clube de assinaturas de produtos para barba, numa tentativa de fazer frente à liderança da companhia Procter & Gamble, dona da Gillette, nesse setor. “Aqui no Brasil a gente está começando ainda. Temos um trabalho com a Cuponeria, que é uma startup de cupons grátis, e acabamos de pré-selecionar cinco startups para um programa em que pretendemos transferir parte de nossos conhecimentos”, destaca o executivo Ricardo Marques, vice-presidente da Unilever Foods Solution.
A Unilever participa do programa UP Innovation Lab, realizado pela Accenture. Ao todo, são 14 empresas clientes da empresa, entre elas Santander e Ambev, e 11 startups com produtos em um bom nível de maturidade. É o caso da Cuponeria, que atua, por exemplo, coletando informações sobre o consumidor final para a empresas. "Para se chegar num nível de inovação disruptivo, é preciso falhar muito, e a startup trabalha com isso, com a falha. A falha numa grande organização nao é valorizada, pelo contrário, ela é punida. Isso faz com que boa parte das áreas de inovação com o tempo façam melhorias incrementais e não inovação de fato", disse Guilherme Horn, diretor executivo de inovação aberta da Accenture.
Já na Embraer, a estratégia para o médio prazo é começar a adquirir startups. Na semana passada, Sandro Valeri, gerente de inovação da empresa, estava no Vale do Silício, nos EUA. Segundo fontes, o executivo procura um espaço na região para descolar parte de sua equipe. A missão será a de ampliar a comunicação com os empreendedores que interessam à empresa.