Volkswagen vai investir R$ 460 mi em São Carlos
Aporte será destinado para a produção de motores com uma nova tecnologia; cenário de desaceleração preocupa montadora
Estado de S. PauloA Volkswagen do Brasil anunciou, nesta quarta-feira, 24, investimento de R$ 460 milhões na fábrica de motores de São Carlos (SP). O valor será aportado até 2018 para iniciar a produção no Brasil de propulsores com tecnologia TSI, que, segundo a montadora, melhora o desempenho do motor com menor consumo de combustível.O investimento faz parte do programa de R$ 10 bilhões previsto para ser aplicado no País no período de 2014 a 2018. Com esse aporte, os investimentos na unidade de São Carlos feitos desde 2012 chegam a cerca de R$ 900 milhões.
Entre 2012 e 2013, por exemplo, a companhia já havia feito aporte na unidade, de R$ 425 milhões, para o desenvolvimento do novo prédio produtivo, instalação de novas linhas para motores e o aumento de capacidade produtiva.
Os investimentos anunciados ontem em cerimônia com a presença do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), serão divididos em três fases na nova família de motores EA211: uma linha de produção, incluindo uma plataforma para montagem de componentes da tecnologia TSI; preparação para o aumento da capacidade produtiva da fábrica e uma inédita linha de produção de virabrequim a partir de 2016, peça que hoje é importada. "Estamos trazendo o que há de melhor no mundo Volkswagen para o Brasil. A produção local de motores TSI significa a introdução de uma tecnologia mundial de ponta", disse o presidente da Volkswagen do Brasil, David Powels.
A tecnologia TSI consiste em um motor turbo e compacto com injeção direta de combustível e com consumo 20% menor nos modelos luxuosos importados pela Volkswagen nos quais o propulsor já é utilizado, como Golf, Tiguan, Passat, Jetta e CC. O primeiro modelo nacional a recebê-la será o up!.
O compacto com o novo motor será lançado oficialmente em julho, chega às concessionárias em agosto e será o primeiro com motor 1.0 litro flex produzido no Brasil a contar com a tecnologia. Segundo a Volkswagen, a TSI faz parte da estratégia de "downsizing", com motores menores e mais eficientes, assim como os já oferecidos na Europa.
Com a tecnologia TSI, a potência do motor 1.0 litro de três cilindros foi aumentada de 82 cavalos (cv) para 105 cv, abastecidos com etanol.
Inaugurada em 1996, a fábrica de São Carlos está perto de atingir 10 milhões de motores produzidos e é responsável pela fabricação dos propulsores das famílias EA111 e EA211 de 1.0 litro e 1.6 litro que equipam os modelos up!, Voyage, Saveiro, Fox, CrossFox, SpaceFox e Gol. A unidade produz para o mercado brasileiro 100% dos motores com tecnologia bicombustível e motores a gasolina para exportação.
Situação crítica. Na primeira entrevista desde que assumiu o cargo, no início de 2015, o presidente da Volkswagen do Brasil, David Powels, traçou um cenário sombrio sobre o setor automotivo no País e afirmou que a economia precisaria crescer de 4% a 6% para que as vendas de veículos leves atingissem o recorde de 3,6 milhões de unidades, obtido em 2012.
Como o mercado brasileiro em 2015 deve ficar entre 2,7 milhões de 2,75 milhões de unidades, em um cenário de retração na economia, Powels estimou que o recorde só deve ser atingido daqui ao menos cinco anos. "É uma situação muito crítica para todas as companhias pensarem em investir. Nossa expectativa é que esse cenário não vai melhorar muito durante os próximos anos. A indústria precisa se preparar para viver com isso."
Com uma capacidade instalada de 5,5 milhões de veículos leves e entre 46% e 47% utilizada pela indústria automotiva, Powels disse que nenhuma montadora fará investimentos no Brasil para ampliar a produção nos próximos anos, e os recursos serão destinados apenas para produtos novos, como o anunciado pela Volkswagen.
Para o executivo, nem mesmo a recente alta do dólar tranquiliza as montadoras, que poderiam buscar vendas em outros mercados para suprir a queda no País. Segundo ele, os aumentos dos custos de mão de obra, energia e logística "estão comendo" os impactos positivos que a alta da moeda americana poderia trazer para o Brasil.
Como exemplo de desvantagem para o Brasil em busca de aumento nas vendas nos mercados da América Latina, Powels citou o México, cujos custos são de 8% a 9% inferiores aos daqui. "As condições do México são muito mais favoráveis que o Brasil neste momento e precisamos trabalhar para reduzir os custos e melhorar a competitividade", concluiu.