Viracopos deve ser o primeiro aeroporto indústria a entrar em operação no país
Valor EconômicoCom cinco multinacionais engajadas no projeto – quatro do setor eletroeletrônico e uma do farmacêutico --, Viracopos, em Campinas, promete ser o primeiro aeroporto indústria a funcionar em escala comercial no Brasil. A BH Airport, concessionária de Viracopos, reservou para o empreendimento 300 mil metros quadrados adjacentes ao terminal de carga e prevê inaugurar as operações dos primeiros 60 mil metros no fim do ano que vem. Só para a construção da infraestrutura dessa fase inicial, a concessionária está investindo R$ 50 milhões.
Aeroporto indústria é uma zona franca aeroportuária destinada a empresas que usam intensamente o modal aéreo, sobretudo as importadoras e exportadoras de alta tecnologia. Os benefícios fiscais e as vantagens logísticas reduzem seus custos, estimulando exportações e o desenvolvimento local. No caso de Viracopos, a BH Airport calcula que o aeroporto indústria deve baratear cerca de 5% o preço final dos produtos no mercado internacional, além de aumentar a agilidade dessas empresas.
Embora no modelo brasileiro os impostos pagos pelas empresas do aeroporto indústria sejam, no final do processo, os mesmos cobrados de outros exportadores, elas e seus fornecedores escapam de pagar os tributos que acabam devolvidos, meses depois, no caso de os produtos serem exportados. Isso reduz o custo do capital de giro e o trabalho burocrático. Ao restringir o transporte terrestre, o modelo também diminui os custos logísticos, as perdas decorrentes do roubo de carga e o preço do seguro.
“Além do custo, as empresas ganham em agilidade e segurança, vitais para sua competitividade. Basta pensar que algumas indústrias podem ter de paralisar uma linha de montagem porque o caminhão que trazia um componente importado foi roubado”, explica Jorge Lobarinhas diretor comercial de Viracopos, por onde passam hoje 38% das importações e 29% das exportações nacionais pelo modal aéreo. Ele estima que cerca de 50 empresas da região poderiam se beneficiar do aeroporto indústria em Viracopos.
Os aeroportos indústria se multiplicam pelo mundo à medida que aumenta a participação do transporte aéreo no comércio internacional. Em valor, os aviões já transportam 42% do comércio mundial e o percentual cresce rapidamente consolidando os aeroportos como os principais vetores de desenvolvimento deste século como foram no passado os portos, ferrovias e rodovias. Segundo a Internacional Air Cargo Association, em termos globais, os aeroportos já atraem investimentos e geram empregos numa taxa cinco vezes maior à de qualquer outra área.
Com isso, alguns aeroportos industriais tornaram-se gigantes. É o caso do Industrial Alliance, em Fort Worth, no Texas, zona franca aeroportuária que se estende por 11 milhões de metros quadrados ocupados por uma centena de empresas do porte da Nestlé, Dell, Zenith, Nokia, AT&T, BFGoodrich Aeroespacial. Mas é o primeiro deles que mostra a importância que essa infraestrutura pode ter em economias em desenvolvimento. O pioneiro surgiu em 1957, em Shannon, para combater a decadência econômica da pequena cidade da Irlanda ainda rural. Hoje, mais de uma centena de companhias do porte da Nortel e da Intel, funcionam no local, empregando mais de 8 mil pessoas.
Apesar disso, o aeroporto indústria é uma realidade que está custando a decolar no Brasil. Regulamentada por decreto de 2002 e portaria de 2011, a ideia inspirou propostas, estudos de viabilidade e pré-projetos em São José dos Campos, Petrolina, Fortaleza e Pelotas. Mas nenhum deles avançou. A Infraero, que ainda administra a imensa maioria dos aeroportos do país, não tem nenhum projeto do gênero em andamento. Já as concessionárias dos aeroportos internacionais de Guarulhos e do Galeão, ambos aventados como candidatos a hospedar zonas francas aeroportuárias, informam estar fazendo grandes investimentos na infraestrutura para cargas antes de considerar a ideia do aeroporto indústria.
A única experiência concreta de aeroporto industrial que o Brasil já teve foi um projeto piloto que funcionou, entre 2006 e 2007, no Aeroporto Internacional Tancredo Neves, na região metropolitana de Belo Horizonte, tendo como participante uma única empresa: a fabricante de equipamentos eletrônicos Clamper. Depois disso, em parceria com a Infraero, o governo do Estado implantou a infraestrutura básica para um Distrito Industrial numa área de 45,7 mil m2 e promoveu duas concorrências, sem candidatos, para a concessão da área. Com isso o aeroporto industrial, oficialmente inaugurado em 2014, nunca entrou em operação. Cinco meses depois, a BH Airport assumiu a administração do aeroporto e, em abril deste ano, o governo do Estado delegou a ela também a implantação e desenvolvimento do Aeroporto Indústria. Segundo a concessionária, eles estão estudando o modelo de negócios e em negociação com potenciais indústrias interessadas.