Valor real da produção agrícola dobra e leva desenvolvimento para o interior
Receitas com algodão subiram nove vezes em duas décadas; as com soja, três
Folha de São PauloA evolução da agricultura movimentou boa parte da economia brasileira nas últimas décadas. Essa participação pode ser constatada pelo avanço do VBP (Valor Bruto da Produção).
Nas duas últimas décadas, o VBP, que de certa forma mostra a renda do produtor, dobrou em termos reais, conforme dados do Ministério da Agricultura.
O estudo, que inclui 17 tipos diferentes de lavouras e foi coordenado por José Garcia Gasques, da Secretaria de Política Agrícola, prevê receitas de R$ 346 bilhões neste ano no campo. Se considerada a pecuária, o valor atinge R$ 516 bilhões.
O maior destaque fica para o algodão, cujo valor da produção atual supera em nove vezes o de há duas décadas. Nesse mesmo período, o valor da produção da soja evoluiu três vezes, e o do milho, uma vez.
O café praticamente manteve o valor de produção de há duas décadas, com evolução real foi de apenas 7%.
Os dados foram corrigidos pelo IGP-DI (Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna) da FGV (Fundação Getulio Vargas).
A pesquisa da Secretaria de Política Agrícola mostra que os produtos voltados para o mercado externo tiveram evolução maior no período analisado. Já os destinados ao mercado interno tiveram queda.
Para Heron do Carmo, professor da FEA-USP (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo), o avanço da agricultura é importante por dois fatores: abre a economia brasileira ao mercado externo e interioriza a produção.
Ao exportar, o Brasil compete com vários outros países e é obrigado a desenvolver ou a trazer mecanismos competitivos de produção para dentro do país, segundo Heron.
O economista acrescenta, ainda, que a lavoura e a pecuária levam o desenvolvimento para o interior. "A evolução recente começou com o Centro-Oeste, avançou para Rondônia e agora chega ao Norte e Nordeste, estados que antes se dedicavam menos à agricultura."
O crescimento da agropecuária não é isolado, segundo Heron. Há uma inter-relação da atividade no campo com a indústria de máquinas, com a distribuição de combustíveis e de insumos e com a área de serviços. Todos caminham juntos, segundo o economista da USP.
OS NÚMEROS
Pelas contas do Ministério da Agricultura, a soja mantém a liderança na arrecadação neste ano. Serão R$ 120 bilhões.
A bovinocultura e a cana-de-açúcar vêm a seguir, com R$ 71 bilhões e 61 bilhões, respectivamente.
Já arroz e feijão terão valores de produção de R$ 9,2 bilhões e R$ 6,2 bilhões. Ambos com recuos na comparação com dados de duas décadas atrás.