19/05/14 16h03

USP 'quebra preconceito' e já é líder em mestrados profissionais no Brasil

Último Segundo

A Universidade de São Paulo (USP) já é a instituição que possui mais mestrados profissionais no país. Com a aprovação recente de programas dessa natureza e a abertura oficial, neste mês, do curso em Matemática, Estatística e Computação Aplicadas à Indústria, a USP já contabiliza 18 mestrados profissionais. O número é superior à quantidade de cursos existentes em instituições como a Universidade Federal do Rio de Janeiro, que tem 15 mestrados profissionais, a Universidade Estadual Paulista (Unesp), que conta com nove, e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que tem apenas quatro. Os dados são da Capes, a agência do Ministério da Educação (MEC) responsável pela avaliação de cursos de pós-graduação.

A modalidade, que ainda enfrenta resistência por parte de universidades públicas, é o mais novo tipo de pós-graduação autorizado pelo governo. O mestrado profissionalizante foi reconhecido a partir de 1998, tornou-se mais popular a partir de 2005, com os mestrados profissionais da Universidade Aberta do Brasil (UAB), e passaram por novas regras de regulamentação em 2009. Mesmo depois de tanto tempo, ele ainda é considerado "o primo pobre" dentro dos programas de pós das universidades.

Novo curso
Com o mestrado acadêmico em Matemática, Estatística e Computação Aplicadas à Indústria, a USP - reconhecida como uma instituição ainda resistente à iniciativa privada - busca romper essa relutância para se aproximar mais do setor produtivo. Ofertado pelo Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC), esse novo mestrado profissional tem o objetivo claro de "melhorar a formação dos profissionais e atender à demanda da indústria", afirma o instituto, sediado em São Carlos (SP). Um enfoque bem diferente dos mestrados tradicionais, que são mais acadêmicos e voltados, prioritariamente, à formação de investigadores e professores universitários.

Para o novo curso da USP, serão oferecidas 20 vagas, todas elas voltadas a profissionais que tenham tido experiência de mercado nos últimos dois anos. As inscrições para esse mestrado são gratuitas e podem ser feitas pela internet até o dia 6 de junho. O início da primeira turma está previsto para agosto. "Com o nosso curso, damos um passo à frente nesse processo de aproximação com o setor produtivo. Como trabalho final de conclusão, os alunos farão uma dissertação voltada a gerar patentes, produtos ou métodos que estimulem o avanço das empresas", afirma Antonio Castelo Filho, coordenador do novo programa.

Preconceito
Mesmo com esse passo dado pela USP, a realidade é que nas instituições públicas do país, o mestrado profissional ainda tem menos força que o mestrado acadêmico. Por vezes, a nova modalidade é vista como um "curso secundário", mesmo que o diploma tenha o mesmo valor que o do mestrado acadêmico, conforme parecer do Conselho Nacional de Educação.

"Esse tipo de curso não traz nenhum prejuízo para as universidades, se ele for complementar e acessório aos programas de pós-graduação. Mas nossa finalidade mesmo é o mestrado regular. Quem faz o profissional vai continuar no mercado", diz Gustavo Balduíno, secretário executivo da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes). De acordo com ele, os programas de pós-graduação devem focar na formação de futuros professores-pesquisadores.

No entanto, para a Associação Nacional de Pós-graduandos (Anpg), as instituições devem ter um enfoque mais amplo. "A universidade não tem que só formar para a academia. Precisamos melhor formar os recursos humanos de outros setores produtivos", diz Tamara Naiz, presidente da Anpg. Mesmo valorizando a iniciativa das universidades que ampliam o número dos mestrados profissionais, Tamara critica a condução de alguns cursos, especialmente os voltados para a educação.

A Universidade Aberta do Brasil, que oferece cursos de mestrado acadêmico a distância para professores da rede pública, tem o desafio de combater a evasão dos seus mais de 230 mil alunos. Atualmente, são oferecidos por meio do sistema da UAB cursos nas áreas de Matemática, Letras, e Física. E, na última terça-feira (13), houve a criação de mais três novos programas: os mestrado profissional em rede nacional de Artes (ProfArtes), Administração Pública (ProfiAP) e Ensino de História (ProfHistória).

Meta 14 do PNE
De acordo com José Fernandes de Lima, presidente do Conselho Nacional de Educação (CNE) - órgão consultor do Ministério da Educação (MEC) -, a criação de mestrados profissionais pode contribuir ainda mais com a meta proposta pelo Plano Nacional de Educação (PNE), que prevê o aumento no número de mestres e doutores no país. "Vários países do mundo já possuem esse tipo de modalidade. Só recentemente que o Brasil começou com o mestrado profissional. Acreditamos que eles podem sim contribuir com a meta do PNE de termos até mais doutores em 2020", diz Lima.

Atualmente, o país forma mais de 42 mil mestres e 12 mil doutores por ano, segundo dados do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), organização ligada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). A meta do PNE – que ainda está em discussão no congresso - é chegar a formar, em 10 anos, 60 mil mestres e 25 mil doutores anualmente.