UPL investe US$ 30 milhões em fábrica e em centro de pesquisa
Valor EconômicoA indiana United Phosphorus Limited - UPL, focada em defensivos genéricos (também chamados de "pós-patente"), prepara sua maior investida no Brasil desde que começou a produzir localmente, quase três anos atrás. A multinacional vai destinar US$ 30 milhões para a ampliação da capacidade de sua fábrica em Ituverava (SP) e para a construção de um centro de pesquisa em Campinas (SP), onde fica a sede administrativa da companhia no país, conforme antecipou ontem o Valor PRO, serviço em tempo real do Valor. "Nossa meta é que este seja um centro de excelência para a empresa na América Latina, especialmente para soja e milho", disse Jai Shroff, CEO global da UPL.
Maior empresa de defensivos da Índia, a UPL ingressou no Brasil em 2011, por meio da aquisição do controle da subsidiária brasileira do grupo alemão DVA - da qual herdou a estrutura fabril. À época, por US$ 150 milhões, a múlti ficou com 51% da empresa, enquanto os 49% restantes foram divididos entre a própria DVA e um grupo de empresários brasileiros. Antes da entrada oficial no Brasil, a UPL havia estabelecido um escritório no país, em 2003, mas importava os produtos vendidos.
Com o novo investimento, a UPL pretende pavimentar o caminho para multiplicar a receita no mercado nacional. Atualmente, do faturamento global de US$ 1,6 bilhão, um total de US$ 243 milhões (15%) vêm do Brasil - ainda aquém dos 22% da Índia e dos 19% da América do Norte.
A perspectiva, contudo, é que o país contribua com uma receita de cerca de US$ 1 bilhão dentro de cinco anos. "Acreditamos que, ainda que todos os demais mercados estejam crescendo, a fatia do Brasil alcançará em torno de 25% em uma companhia muito maior que seremos nos próximos cinco anos. Esperamos dobrar de faturamento nesse período", afirmou Shroff.
O montante, cada vez mais expressivo, reflete a projeção conquistada nos últimos anos pela empresa indiana, que nasceu na década de 1960 como um pequeno negócio familiar, fundado pelo pai de Jai. "O objetivo dele era conseguir uns US$ 20 mil dólares. Se ganhasse isso, já estaria satisfeito", contou o atual CEO.
A iniciativa tímida deu lugar a um projeto ambicioso. Originalmente uma indústria química que atendia a diversos mercados, a UPL se especializou no setor agrícola nos anos 1980. Uma década mais tarde, iniciou a internacionalização do negócio, com o investimento em plataformas de produção e distribuição ao redor do mundo.
Nos últimos dez anos, foram 28 aquisições - no mesmo período, a empresa avançou 25% por ano, em média, segundo Shroff -, e hoje tem ações negociadas na bolsa de Mumbai. "Nosso maior crescimento veio da Europa e dos EUA, mas acreditamos que os mercados de avanço mais acelerado no futuro serão a Índia e o Brasil", previu.
Para fazer frente à concorrência de gigantes como Syngenta, Bayer e Monsanto, a indiana "nadou contra a corrente" e apostou em seu conhecimento de manufatura. Enquanto a maioria das empresas de defensivos moveu suas unidades fabris para a China nos últimos anos, terceirizando a produção, a UPL investiu em suas próprias plantas pelo mundo.
Hoje, a companhia mantém 25 unidades na Europa, na Ásia e nas Américas. "Agora, a China está deixando de ser aquele paraíso, porque o custo de mão de obra tem subido, assim como os custos ambientais, o que nos dá uma vantagem importante em relação aos nossos competidores", disse Carlos Pellicer, CEO da UPL no Brasil.
Ainda que os produtos da UPL utilizem moléculas desenvolvidas por outras empresas, Pellicer observa que a empresa também obtém suas próprias patentes, ao criar novas misturas ou novos processos de produção. "Em resumo, aplicamos uma nova inteligência às moléculas que já existem", afirma. O executivo cita o caso de um produto que era oferecido em pó no mercado, e em baixa concentração, o que gerava dificuldades de manuseio. "Nós fizemos um produto mais concentrado e, em vez de pó, ele é granulado, o que facilita inclusive a medição das quantidades a serem utilizadas", exemplificou.
A UPL tem cerca de 30 produtos registrados no país, e a expectativa da companhia é dobrar esse número em cinco anos. Entre os defensivos em destaque, estão os destinados ao controle de importantes pragas da soja (caso da lagarta helicoverpa e da ferrugem asiática), do milho, algodão, arroz e da cana-de-açúcar.
A expectativa é de, em breve, entrar também nos mercados de café, arroz e hortifruti. Conforme Pellicer, a empresa tem o único inseticida natural registrado no mercado brasileiro, à base de nim (óleo vegetal de origem indiana) e com certificação do Instituto Biodinâmico (IBD).
Além dos agroquímicos, a múlti tem crescido em outros segmentos no país, caso de sementes e fertilizantes, e em pós-colheita - cujo carro-chefe é um produto destinado a aumentar o tempo de prateleira de frutas e legumes.