17/09/10 15h16

Unilever quer varejo mais perto

Valor Econômico – 17/09/10

Logo ao entrar numa das salas do primeiro (e único) centro de inovação da Unilever na América Latina, Kees Kruythoff não se contém. "Muito legal, não é? Muito bacana", repete o CEO da companhia no país, que imediatamente já começa a dar detalhes da construção, com um incontrolável sorriso no rosto. Com 700 m2 e batizado de Customer Insight and Innovation Center (CiiC), o espaço ocupa praticamente um andar inteiro de um dos prédios da Unilever, na zona sul de São Paulo. Ali, estão vários ambientes, como salas de reunião, cozinha para testar produtos e até um minimercado a ser usado como laboratório. Numa das salas, há uma projeção de uma loja numa imensa parede de 10 metros de comprimento. É possível interagir com a imagem. A sensação é de estar dentro de um supermercado, tocando nos produtos.

Ali, a Unilever planeja se reunir com todos os varejistas do país e da América Latina. A agenda está cheia. Já estão marcadas reuniões a cada dois dias, com clientes e entre os funcionários da empresa. "Nós queremos nos aproximar mais do varejo. Precisamos saber o que eles pensam, contar o que nós estamos fazendo e principalmente, mostrar que eles podem ser mais rentáveis", afirma o executivo. Kruythoff dá exemplos. Diz que nos supermercados pelo país, "há gôndolas inteiras de arroz e feijão", mas para aqueles produtos de maior valor agregado, "os espaços são tão pequenos". "Não dá para ter mais equilíbrio nisso? Commodities têm margem tão menor se comparadas a outros itens", diz ele, discretamente defendendo o portfólio da Unilever, com vendas globais em € 40 bilhões em 2009 e fabricante de 400 marcas no mundo, como os caldos Knorr, sucos Ades e xampus Seda.

O centro de inovação construído no Brasil (em 68 dias apenas e seis meses de projeto) será o quinto da Unilever no mundo. Apenas Nova York, Londres, Xangai e Paris possuem igual espaço. O local deve ser oficialmente inaugurado no dia 28 de setembro e o CEO mundial, Paul Polman, pode vir ao Brasil conhecer o espaço. A empresa não revela o valor do investimento. É um projeto que dá a noção certa do que a subsidiária planeja para o futuro. Mas tudo vai depender do ritmo dos negócios nos dois países. Por aqui, a companhia tem crescido entre 5% a 8% ao ano na última meia década. Expandiu-se quase 7% em 2009, quando o grupo no mundo encolheu 1,7% - e as vendas nos Estados Unidos (em ano de crise global) caíram 4,7%.

Para chegar lá, a filial brasileira precisaria crescer mais de 50% em dez anos (pelo ritmo atual, isso ocorreria em sete ou oito anos) e torcer para os americanos consumirem pouco. "Nós temos condições de ser os maiores. Eles (os americanos) estão crescendo menos", diz Kruythoff. Em 2008, o executivo disse que tornaria a operação local a segunda maior do grupo até 2012. A filial passou o Reino Unido em 2009. Para alcançar a nova meta, a empresa pode ter que ser mais agressiva e trazer novas marcas ao país. Concorrentes como Procter & Gamble e Reckitt Benckiser já informaram que vão acelerar os lançamentos por aqui. Além da concorrência lá fora, Kruythoff vai ter que lidar com rivais prontos para pegar parte de seu mercado.