União e SP financiam pesquisa no setor de recursos hídricos
Valor EconômicoO Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e o governo do Estado de São Paulo assinam hoje um convênio de R$ 60 milhões para financiar pesquisas relacionadas a tratamento de água e esgoto pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp).
O programa usa recursos da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), e vai focar projetos de inovação em tecnologias de reutilização da água, redução do impacto ambiental das estações de tratamento, secagem do lodo gerado a partir do tratamento do esgoto e transformação dos resíduos do esgoto em energia, inclusive etanol.
Apesar de ser um projeto desenvolvido em São Paulo, o financiamento prevê que os avanços tecnológicos desenvolvidos a partir da pesquisa sejam compartilhados com empresas de saneamento de outros Estados do país, segundo o ministro de Ciência e Tecnologia, Aldo Rebelo.
"No médio e longo prazos haverá grande aproveitamento dessas pesquisas para a redução do desperdício e para o aproveitamento da água no reuso", disse o ministro. "A ideia é combater não apenas o desperdício que resulta da água que é utilizada, mas o desperdício da água que não é reutilizada. É uma dupla economia."
O reaproveitamento da água pela indústria é a principal área de atuação entre os projetos de pesquisa acertados. Os estudos desses sistemas de produção vão obter financiamento de quase R$ 42 milhões (cerca de 70% do total) e têm potencial de ampliar em 285% a oferta de água de reuso. Apesar do incremento, esse tipo de reaproveitamento da água ainda representa menos de 1% do volume de água usado em SP.
"O objetivo é melhorar o armazenamento, a distribuição e o reuso da água", explicou Rebelo, que falou ao Valor por telefone direto da Califórnia, Estado americano que sofre com a falta de água. "O desafio do aproveitamento da água é um campo de investigação e de pesquisa que se estende pelo mundo", disse.
Definido em um momento em que o Estado de São Paulo sofre com uma grave crise hídrica, o financiamento tem objetivos de mais longo prazo, sem efeitos imediatos na falta de água. "Não vai ser essa unidade de reuso que vai nos salvar da crise hídrica que temos", explicou o presidente da Sabesp, Jerson Kelman. "Essas obras vão ajudar apenas marginalmente nesta crise. No médio prazo deve ter algum efeito, mas são projetos de longo prazo, para desenvolvimento tecnológico."
Para Kelman, a pesquisa sobre reuso pode ter relevância para combater a falta de água em São Paulo no futuro. "Quando conseguirmos controlar melhor essa tecnologia, teremos uma maior aceitação da água de reuso na indústria. E quanto menos a indústria competir por água potável, mais sobrará para abastecimento da população."
O acordo para financiamento de pesquisa foi anunciado uma semana depois de o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), e a presidente Dilma Rousseff acertarem liberação de R$ 747 milhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para obras da Sabesp.
A medida foi uma tentativa de diminuir os impactos da crise hídrica de forma mais rápida, com obras de grande porte. Apesar da proximidade entre os dois financiamentos, Kelman disse que o projeto que será assinado hoje tem objetivo apenas de pesquisa e inovação.