26/10/15 14h47

Unesp injeta R$ 170 mi na economia

Estudo revela que este foi o montante gasto no município de Bauru por professores, funcionários, alunos e pela própria universidade em um ano

JCNET

Um estudo divulgado em encontro realizado em São Paulo revelou que o câmpus da Universidade Estadual Paulista (Unesp) em Bauru foi responsável por injetar, em um ano, R$ 170,368 milhões na economia da cidade. Do encontro, participaram prefeitos de municípios onde existem unidades da Unesp e representantes da instituição de ensino, que debateram ações para ampliar parcerias e, assim, intensificar as relações da universidade com a comunidade (leia mais abaixo).

Os números apresentados pelo estudo “A contribuição da Unesp para o dinamismo econômico dos municípios”, coordenado pelo professor, agora aposentado José Murari Bovo, do curso de economia da Faculdade de Ciências e Letras da Unesp de Araraquara, têm como base uma ampla pesquisa realizada em 2012 em 22 dos 24 municípios paulistas onde a Unesp está presente.

“Em 2015, com certeza, o valor será maior, como tem sido a cada nova pesquisa”, explica ele, destacando que o levantamento foi realizado também em 1996, 2001 e 2007, com o objetivo de dimensionar o montante movimentado pelos câmpus da Unesp nos municípios onde estão instalados. Em Bauru, o trabalho foi coordenado pela professora Dagmar Aparecida Cynthia França Hunger, da Faculdade de Ciências.

Os R$ 170,368 milhões correspondem a uma parcela dos salários que os 883 professores e funcionários ativos e inativos gastaram na cidade, à despesa estimada da universidade com a aquisição de produtos e serviços de empresas do município e ao que foi desembolsado pelos 5.718 estudantes no ano. Os dois primeiros cálculos, somados, totalizaram R$ 87,334 milhões e o terceiro, R$ 83,033 milhões.

Alunos

A quantia representa 48,79% do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) arrecadado pela prefeitura e 19,65% da receita municipal de 2012. Vale destacar, no entanto, que, quando o estudo foi iniciado, em 1996, os recursos injetados na economia local a partir da existência do câmpus da Unesp correspondeu a um percentual bem maior, de 33,3%, do orçamento do município.

“Por algum motivo, neste período, a receita municipal cresceu em ritmo mais acelerado do que os valores gastos pela Unesp, seus professores, funcionários e alunos”, comenta Bovo, sem precisar os motivos. Ele destaca, contudo, que o aumento acelerado de valores ocorre, quase sempre, quando há expansão no número de cursos oferecidos pelo câmpus – que provoca elevação da quantidade de alunos, o que não foi o caso de Bauru.

A participação dos discentes, inclusive, responde por quase metade dos recursos oriundos da Unesp que chegam à economia de Bauru. Segundo a pesquisa, cada um dos alunos gastou R$ 1.325,52 por mês e R$ 15.906,24 no ano 2012, sendo que quase 30% deste valor foram destinados ao pagamento de aluguel.

O setor imobiliário, aliás, ganha destaque no levantamento, que aponta que 77,23% dos estudantes unespianos pagam aluguel e vivem em imóveis com média de três moradores. Dos bolsos destes alunos, o segmento recebe, anualmente, cerca de R$ 20,3 milhões.

Pesquisa

Já aposentado, o professor José Murari Bovo destaca que uma nova atualização da pesquisa só ocorrerá se um docente da Unesp assumir o trabalho, o que ainda não está definido. Bovo destaca, contudo, que o levantamento – que depende de entrevistas com alunos de acordo com metodologia própria, custa caro, já que profissionais precisam ser contratados para aplicar os questionários. “E, neste momento atual da economia, fica difícil pensar em refazê-la neste ano ou no ano que vem”, adianta, sem divulgar valores.

Interação da universidade com o município é considerada incipiente

No encontro em que o estudo foi divulgado – que contou com a presença do reitor Julio Cezar Durigan e da vice-reitora Marilza Vieira Cunha Rudge, um dos principais temas debatidos foi a necessidade de aproximar a universidade do poder público, para que o conhecimento científico possa ser aplicado às necessidades do município, resultando em ações mais aprimoradas e eficazes para atender à população.

Assim como o coordenador da pesquisa, professor José Murari Bovo, o prefeito Rodrigo Agostinho, que também participou da reunião, avalia que esta interação ainda ocorre de maneira incipiente em Bauru, onde a Unesp mantém seu maior câmpus em todo o Interior paulista. “A cidade não fica sabendo de muita coisa interessante que acontece na universidade. Os alunos de arquitetura, por exemplo, produzem uma enormidade de projetos durante o curso, que poderiam ser postos em prática, mas ficam engavetados”, lamenta.

Ele cita, ainda, que a prefeitura mantém um programa de contratação de estagiários para alunos que estão cursando faculdade, cujas vagas, quase em sua totalidade, são ocupadas por estudantes de instituições privadas. “Ou seja, a nossa intenção não é apenas aproveitar o que a universidade tem a oferecer e sim estabelecer uma troca benéfica para os dois lados. Mas o universo acadêmico e o do resto da cidade ainda continuam muito divididos”, completa.

Como exemplos de projetos de extensão mantidos pela Unesp em Bauru, a pró-reitora de extensão universitária Mariângela Fujita cita a unidade auxiliar que presta atendimento psicológico à população e o cursinho preparatório para o vestibular que, neste ano, atende 620 alunos de baixa renda da cidade. “Temos intenção de criar um núcleo de extensão em um prédio na região central da cidade que foi doado à Unesp e, assim ampliar e divulgar melhor este e outros projetos. Mas temos grande dificuldade em manter, financeiramente, estas vagas, que já tiveram de ser reduzidas em 2015. Seria importante poder contar com a contribuição da prefeitura neste sentido”, detalha.

Ela também reconhece que a aproximação entre a universidade e a administração municipal precisa ser “melhor resolvida”, já que projetos de extensão como este acabam, por vezes, sendo realizados sem a participação e o acompanhamento dos agentes públicos. “A ideia é trabalharmos em conjunto. Temos condições até mesmo de organizar equipes de professores e alunos de outros câmpus do Estado para ajudar a encontrar soluções para as demandas da cidade”, completa Mariângela.