Unesp e Oxford assinam acordo em prol da ciência translacional
Cooperação com britânicos envolve USP e Unicamp e prevê oferta de disciplina na graduação
UnespO reitor da Unesp, professor Pasqual Barretti, e a professora Sue Ann Costa Clemens, representante da Universidade de Oxford, no Reino Unido, assinaram nesta terça-feira, dia 30, um protocolo para cooperação técnico-científica entre as duas universidades para o oferecimento na graduação da disciplina de "Ciência Translacional", voltada a pesquisas científicas cujos resultados sejam aplicáveis em benefícios diretos à sociedade.
Liderado pela Unesp, o acordo com Oxford envolve também as duas outras universidades estaduais paulistas, USP e Unicamp, e prevê o oferecimento conjunto da disciplina de "Ciência Translacional" em formato híbrido, com aulas online síncronas com as universidades participantes e também aulas presenciais marcadas por visitas a instalações das universidades estaduais que atuem diretamente com pesquisa translacional.
A primeira turma da disciplina terá 30 vagas, compartilhadas entre os estudantes de graduação de Unesp, USP e Unicamp, cada uma com dez vagas disponíveis. Na Unesp, só na Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ), sede da disciplina, foram registradas 23 inscrições. Estudantes das demais unidades universitárias unespianas poderão pleitear uma vaga nesta sexta-feira, dia 2, das 8h às 11 horas, solicitando inscrição como “aluno especial” mediante preenchimento de formulário disponível no site da FMVZ e envio de documento por e-mail para [email protected].
Para o reitor Pasqual Barretti, a oferta da disciplina de "Ciência Translacional" e o acordo com Oxford, que já fora parceira da Unesp na imunização em massa da população do município de Botucatu para estudo clínico da vacina contra a covid-19 em 2021, mostram o amadurecimento de iniciativas pensadas tendo o interesse público como norte, em especial a aproximação dos gestores das universidades estaduais. No vídeo de lançamento, os pró-reitores de graduação de Unesp, USP e Unicamp falam sobre a importância do oferecimento da disciplina conjunta.
"Este trabalho em conjunto, particularmente com o apoio da Universidade de Oxford, mostra a liderança da Unesp nessa área (pesquisa clínica e desenvolvimento de biomedicamentos) e o estabelecimento de laços de confiança. Hoje, existe confiança e um ambiente de parceria bastante saudável. Fico muito feliz de, no último ano da minha gestão, presenciar tudo isso", afirma o reitor Pasqual Barretti.
O oferecimento da disciplina de "Ciência Translacional" na graduação dialoga com a infraestrutura que está sendo montada no câmpus de Botucatu da Unesp a partir da construção da fábrica de biomedicamentos do Centro de Estudos de Venenos e Animais Peçonhentos (Cevap), unidade complementar da Unesp.
Segundo a professora Sue Ann Costa Clemens, representante da Universidade de Oxford signatária do protocolo, a pesquisa translacional requer a capacitação de profissionais que possam pensar de "ponta a ponta" o desenvolvimento de um novo produto, seja para contribuir para o surgimento de uma nova vacina ou para dar escala à testagem de novos biofármacos. O trajeto de desenvolvimento de um produto desde a bancada do laboratório até o usuário final envolve tantos obstáculos que o meio desta travessia é apelidado de “vale da morte”, dados os inúmeros potenciais achados oriundos da ciência básica que "morrem", têm seus percursos interrrompidos sem chegarem à etapa final.
"A parceria com a Unesp e com as outras universidades tem uma visão muito estratégica em relação à educação, à capacitação não só em desenvolvimento clínico, mas em suas áreas específicas, como por exemplo a identificação dos antígenos, vigilância e a tradução disso em produtos, vacinas, biológicos", diz Sue Ann Costa Clemens, uma das pesquisadoras responsáveis pela imunização em massa contra a covid-19 realizada em Botucatu. "Temos talento, infraestrutura e fomento, mas cadê a inovação? Cadê a rapidez em trazer um produto ao mercado?", questiona.
Presente à cerimônia de assinatura do protocolo para cooperação técnico-científica, realizada no auditório do Conselho Universitário da Unesp, no prédio da Reitoria, região central da capital paulista, o cônsul britânico em São Paulo, Jonathan Knott, realçou que a disciplina vai contribuir para qualificar ainda mais os pesquisadores brasileiros. "Os alunos de ciência translacional aprenderão muitas coisas novas e, quem sabe, eles não serão os próximos responsáveis pelo desenvolvimento de vacinas no Brasil e também no Reino Unido”, afirmou, lembrando que o sistema britânico de saúde pública, o NHS, foi o inspirador para a criação do Sistema Único de Saúde (SUS).
De acordo com Rui Seabra Ferreira Junior, coordenador executivo do Cevap-Unesp, a disciplina está projetada para se tornar no futuro uma habilitação acadêmica. Ou seja, para complementar, ao final do curso de graduação, a formação dos estudantes participantes das mais diversas áreas, que sairiam habilitados em ciência translacional. "A ciência translacional tem impacto em todas as áreas do conhecimento. No nosso curso (de pós-graduação) de pesquisa clínica, já orientei administrador de empresa, advogado, publicitário. Os estudantes podem se matricular e vão passar pelo sistema de seleção", diz.
Internacionalização
Secretário estadual da ciência, tecnologia e inovação, o professor Vahan Agopyan destacou a importância de as três universidades estaduais paulistas estarem juntas nesta iniciativa. "A parceria é encabeçada por uma das universidades, as outras acompanham e, com isso, todas ganham", afirma. "No mundo atual, globalizado, é imprescindível que a ciência, a tecnologia e a inovação sigam padrões internacionais. Internacionalização não é somente mobilidade. É criar ambientes internacionais no próprio estado, na própria universidade brasileira", diz o secretário estadual.
O professor Marco Antonio Zago, presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), também frisou o traço de "internacionalização em casa" que existe no acordo firmado com a Universidade de Oxford. “É uma maneira de fazermos a internacionalização aqui, sem que os nossos estudantes tenham que sair e ir para o exterior. Quer dizer, eles farão parte de um ambiente internacional aqui. Portanto, é um progresso enorme em relação ao passado.”