26/01/12 15h13

Uma cidade gigante nos números, mas também nos problemas

Brasil Econômico

São Paulo chega aos 458 anos como maior centro financeiro e econômico do país, mas com gargalos que não se resolvem

Os números são grandiosos: mais de 11 milhões de habitantes, terceira maior economia do país — só perde para o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro e para o que gira o governo do Estado de São Paulo e terceira maior bolsa do mundo, com companhias que valem juntas R$ 2,4 trilhões. E o gigantismo de São Paulo, a aniversariante do dia, não para por aí. A cidade — que nas últimas décadas virou um polo de referência para os setores de serviços e para o comércio—ainda tem importância fundamental para o setor industrial.

Segundo levantamento realizado pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), 8,7% do Produto Interno Bruto (PIB) da indústria brasileira está concentrado na capital paulista. O montante, cerca de R$ 75 bilhões, legitimam a cidade como a mais industrializada do país. Do total de bens e serviços produzidos no município, 21,5% ainda são detidos pela indústria.

Não à toa, como lembra Paulo Skaf, o presidente da Fiesp na entrevista da página 6, boa parte das grandes empresas nacionais e internacionais escolhem a capital paulista como sede de suas atividades — mesmo as que têm fábricas em outras cidades e até em outros estados. “De São Paulo, eu não saio”, diz Roberto Schioppa, presidente da fabricante de rolamentos para automação que leva o seu nome. Na página 7, Schioppa e outros empresários cujas empresas estão há décadas instaladas em São Paulo explicam o motivo da decisão, que funciona quase que como um ‘acordo pré-nupcial’, para não deixar a capital paulista: consumidor próximo, mão de obra qualificada e facilidade logística para escoar a produção.

E esse também foi o motivo que levou Luiza Helena Trajano a mudar de endereço, como mostra a reportagem na página 8.Em vez de despachar em Franca, no interior paulista, cidade onde nasceu a rede Magazine Luiza, a empresária, passou a tomar decisões na Marginal Tietê, onde fica a nova sede do grupo. “São Paulo é estratégica. É um centro financeiro, comercial e empresarial respeitado e conhecido no Brasil inteiro e mundialmente”, afirma Skaf ao explicar um dos motivos que fazem com que o centro de decisão das grandes empresas nacionais e internacionais esteja aqui.

Mas não é só de indústria e comércio que vive a capital paulista. Ela também é um centro financeiro, onde estão os maiores bancos brasileiros e internacionais, como mostram as reportagens das páginas 10 e 11. Para ser ter uma ideia, a cidade de São Paulo tem 2.470 agências bancárias, segundo levantamento da Federação Brasileiro de Bancos (Febraban). É mais do que possuem os estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro.

Também é aqui que está a sede da Cetip, a câmara de liquidação e custódia— ou seja, é responsável por dar garantia às operações realizadas no mercado financeiro. A empresa, em 2010, trouxe a sua diretoria para São Paulo, cidade onde as grandes operações financeiras de fato são realizadas. Hoje, a Cetip registra diariamente mais de R$ 70 bilhões em operações; supera R$ 3 trilhões em ativos derivativos em estoque e tem como vizinha a Anbima, associação que integra as gestoras de fundos de investimento e que supervisiona nada menos do que R$ 1,77 trilhão em aplicações financeiras.

Urbanismo

Mas claro que São Paulo não é só flores. Aliás, flor é o que quase não se vê nessa terra de asfalto e concreto. Trânsito e poluição também são problemas graves da capital, realidade que afeta a vida de 20 milhões de pessoas que transitam por aqui todos os dias. “O resultado são desequilíbrios no sistema de transportes, riscos ambientais e enchentes, e outras situações igualmente graves”, afirma a ex prefeita e atual deputada federal Luiza Erundina na entrevista da página 12. “Essa imensa massa de pessoas, que é maior do que a população de muitos países, convive com padrões atrasados, marginalidade e uma enorme franja de favelas”, diz.

E essa é uma realidade que para muitos não condiz com um orçamento de R$ 38 bilhões, como o previsto para a Prefeitura de São Paulo neste ano. “Na verdade, a oportunidade que tivemos, poucos tiveram na história da cidade. Ao final do mandato, vamos ter ficado sete anos e isso deu, evidentemente, condições de estabelecer programas de curto e médio prazo (para a cidade). E deixar um legado de longo prazo”, garante o prefeito Gilberto Kassab em entrevista ao BRASIL ECONÔMICO, como mostra a reportagem ao lado na qual ele cita projetos que estão tentando resgatar a autoestima do paulistano.