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Um país em obras

Exame - 31/05/2007

Depois de décadas de pasmaceira, o setor imobiliário local vive um momento de rara euforia. Grandioso até para padrões chineses, o canteiro de obras do empreendimento Parque Cidade Jardim, em São Paulo, é ilustrativo desse novo instante. São 700 operários com seus macacões azuis e capacetes de diferentes cores, 20 engenheiros e seis gruas gigantes. Mais do que um exemplo da riqueza que circula em São Paulo, o Parque Cidade Jardim é um ícone da recente confiança conquistada pelo setor imobiliário em todo o Brasil. Não há um indicador nacional de novos empreendimentos, mas as estatísticas das principais cidades são inequívocas. Em São Paulo, epicentro do boom imobiliário, o número de lançamentos residenciais disparou neste ano -- desde janeiro, um novo prédio é lançado por dia, ritmo mais de duas vezes superior ao do ano passado. Entre janeiro e abril, o volume de operações de crédito imobiliário contratadas pelo Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) atingiu a cifra recorde de 4 bilhões, 71% a mais do que o do mesmo período de 2006. O terceiro Feirão Nacional da Casa Própria, organizado pela Caixa Econômica Federal, não chegou nem à metade das cidades programadas para este ano e o total de crédito contratado já equivale ao da edição de 2005. Esses dados comprovam que um número crescente de famílias brasileiras descobre diariamente que a prestação da casa própria já cabe no bolso. A demanda em alta estimula as construtoras a retirar projetos da gaveta. Como seria previsível, a expansão imobiliária está gerando milhares de empregos. O que torna o fenômeno imobiliário particularmente importante é que, diferentemente da maioria dos demais setores, trata-se de uma área com um poder descomunal de movimentar a economia. As empresas de revestimento cerâmico, por exemplo, já sentiram o novo impulso e, no primeiro trimestre deste ano, registraram taxa de crescimento de 9%, digna de país asiático. Apesar de todos os sinais de negócios em alta, o que realmente aguça o apetite de empresários e investidores são as perspectivas para os próximos anos. O que se espera para o futuro é, sem exagero, uma revolução. Um estudo feito pela Fundação João Pinheiro com apoio do Banco Interamericano de Desenvolvimento e da Organização das Nações Unidas mostra que, para as famílias que ganham até cinco salários mínimos, existe hoje um déficit habitacional de quase 8 milhões de moradias. Segundo estimativas da consultoria FGV Projetos feitas a pedido de EXAME, o fluxo anual de crédito imobiliário irá crescer dos cerca de 16 bilhões de reais computados em 2006 para 40 bilhões em 2010.