Toyota acelera projetos para também ser grande no Brasil
Projetos envolvem mudança de sede, aumento de produção nacional e outros
Valor EconômicoA Toyota demorou meio século até dar, com o lançamento do Etios, a grande tacada para se tornar uma marca popular no Brasil. Daqui para frente, porém, não pretende esperar mais tanto tempo em seus próximos passos no país.
A montadora japonesa - antes extremamente meticulosa em cada movimento no mercado brasileiro - está envolvida em projetos que vão desde transferir a sede administrativa para o ABC paulista a transformar sua fábrica mais antiga, em São Bernardo do Campo (SP), numa base de suporte e lançamento de novas tecnologias, no que pode culminar na produção de carros híbridos no país.
Simultaneamente, avança na construção da fábrica de motores em Porto Feliz, no interior paulista, faz planos para aumentar a produção nacional de outros componentes e trabalha nos bastidores para convencer o governo a liberar estímulos a novas tecnologias de propulsão, abrindo, assim, as portas para o Prius, o automóvel híbrido mais vendido do mundo.
Para começar, a administração dos negócios passará a ser feita a partir da fábrica de São Bernardo do Campo, onde são produzidas peças da Hilux, importada da Argentina, e do Corolla, montado em Indaiatuba, também no interior de São Paulo. Ricardo Bastos, gerente-geral de relações governamentais da montadora, diz que a ideia é concluir já no primeiro semestre de 2015 a transferência da sede administrativa, atualmente na zona sul da capital paulista, para a unidade de São Bernardo, que também vai ganhar um centro de treinamento de funcionários, fornecedores e concessionários da marca.
Depois disso, na segunda metade do ano que vem, a linha de eixos e suspensões da Hilux será levada para a fábrica onde a picape é montada, em Zárate, na província de Buenos Aires. Isso vai abrir um espaço na unidade do ABC que poderá ser aproveitado para expandir a produção de autopeças no local ou, num projeto mais ambicioso - porém, dependente de estímulos do governo federal -, abrigar uma linha de montagem do Prius.
Rafael Marques, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, diz que o acordo assinado com a empresa no mês passado garante, pelo menos do lado trabalhista, a viabilidade de novos investimentos em São Bernardo. Além de estabelecer benefícios e reajustes salariais dos próximos três anos, o acordo, diz Marques, flexibiliza as relações trabalhistas com a implementação do banco de horas - ferramenta que dá agilidade às empresas para adequar a jornada de trabalho à necessidade de produção - e a terceirização de atividades.
O sindicalista conta que a fábrica já está sendo equipada para ser uma espécie de laboratório de testes dos motores que serão produzidos em Porto Feliz, com a chegada de aparelhos como dinamômetros, usados para medir a potência dos propulsores. Oficialmente, a Toyota ainda não se manifestou sobre esse investimento.
O projeto de Porto Feliz, segundo Bastos, está adiantado em um ou dois meses em relação ao cronograma original. Mas o executivo do grupo diz que ainda é cedo para afirmar se a inauguração da unidade, orçada em R$ 1 bilhão, será antecipada. Por enquanto, segue a meta de fazer a inauguração no primeiro semestre de 2016.
Porto Feliz começará produzindo motores para o compacto Etios com 60% de conteúdo nacional. Com isso, o índice de nacionalização do carro, fabricado desde agosto de 2012 em Sorocaba (SP), passará da faixa de 65% a 70% para algo entre 80% e 85%. Em linha com a exigência de maior uso de conteúdo local do novo regime automotivo, conhecido como Inovar-Auto, a fábrica também vai produzir os motores do sedã Corolla a partir de 2019.
Maior montadora do mundo, mas apenas sétima colocada no ranking brasileiro, a Toyota ainda terá de correr muito para ter no Brasil uma presença mais condizente com sua posição em outros grandes mercados internacionais. Nos Estados Unidos, por exemplo, é a terceira marca, com mais de 14% das vendas totais neste ano.
Apesar disso, sua investida no segmento de compactos, o mais popular no Brasil, lhe tem permitido resistir à crise que atinge as marcas do pelotão de frente da indústria automobilística nacional. Enquanto o consumo de carros cai mais de 7% neste ano, a Toyota é uma das poucas montadoras que ainda conseguem crescer. No primeiro semestre, suas vendas subiram 3,5%, respondendo por mais de 5% do consumo de carros no país (veja gráfico acima).
Segundo Bastos, as fábricas de Sorocaba e Indaiatuba estão operando a plena capacidade. A linha do Etios roda no ritmo de 80 mil veículos por ano e a do Corolla deve encerrar 2014 "um pouco acima" da capacidade de 70 mil unidades anuais. O sedã tem uma fila de espera de quase dois meses e as duas unidades estão trabalhando com horas extras e aos sábados, diz o executivo. Enquanto o mercado brasileiro caminha para fechar 2014 com queda superior 5%, a Toyota prevê um crescimento em torno de 1% em relação aos 176,1 mil veículos vendidos em 2013.