31/05/10 11h11

Tendências inovativas

Agência FAPESP

As políticas de ciência, tecnologia e inovação (CT&I) passaram por uma transformação profunda nos últimos anos e as novas tendências foram analisadas, na sexta-feira (28/5), por especialistas que participaram da 4ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (CNCTI), em Brasília. Na sessão "Nova geração de políticas de CT&I", a presidente do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), Lucia Carvalho Pinto de Melo, destacou que os pilares de um sistema moderno de CT&I se baseiam em três elementos: consenso nas escolhas estratégicas, confiança e cooperação.

Segundo Lucia, até a década de 1960 o processo de produção do conhecimento era entendido como um fator socialmente neutro: bastava fazer ciência que isso seria suficiente para que a sociedade a absorvesse e dela tirasse proveito. Mas, desde então, a visão começou a mudar e a CT&I passou a ser vista como um instrumento para o desenvolvimento social. "Nos últimos 20 anos, as tecnologias da informação proporcionaram uma mudança radical e a CT&I passou ser tratada como elemento fundamental para a competitividade do país. Essa tendência deverá se intensificar ainda mais no futuro. Hoje, o papel da CT&I como vetor de transformação econômica e social já é considerado um consenso em muitos países", disse. Lucia acrescentou que, além da transformação provocada por diversas tecnologias emergentes - como as tecnologias da informação e da comunicação, a biotecnologia e a nanotecnologia -, novos atores e novos setores da sociedade passaram a fazer parte do processo de produção de conhecimento.

Mario Cimoli, especialista em estudos sobre Economia da Tecnologia da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), ressaltou que uma política de CT&I moderna deve estar coordenada com as políticas industriais e educacionais. "Esse é o conceito básico. Não se pode fazer boas políticas científicas sem associá-las às boas políticas industriais e educacionais. Outro fator fundamental para que essas políticas funcionem bem, dentro de uma concepção contemporânea de CT&I, é que os investimentos em ciência aumentem incessantemente ao longo do tempo", afirmou. Para o economista argentino, o Brasil está conseguindo se manter em consonância com as tendências modernas das políticas de CT&I, ao contrário dos outros países da América Latina.

Para Glauco Arbix, professor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo (USP), há uma crescente maturidade no debate sobre CT&I no Brasil. "A maneira como as instituições empresariais tentam tratar a tecnologia tem, hoje, uma perspectiva completamente diferente da que víamos há alguns anos. Temos que aproveitar este momento para dar um salto em termos de CT&I", disse. Segundo Arbix, o Brasil está se transformando em uma referência para a América Latina no campo de políticas de CT&I. Mas, segundo ele, o país ainda tem muito a avançar.

De acordo com ele, ainda que haja uma série de problemas - como as dificuldades burocráticas, e a tendência a avaliar projetos empresariais como se fossem projetos acadêmicos, por exemplo -, o Brasil adquiriu uma sofisticação institucional na área de CT&I que é encontrada em poucos países. Arbix defendeu a criação de uma agência nacional de inovação com peso, recursos e capacidade de patrocinar e articular a interação entre programas, instituições e políticas de CT&I. "Defendo que essa agência não seja ligada ao Ministério de Ciência e Tecnologia, mas à própria Presidência da República, para sinalizar que se trata de uma ideia prioritária. O Brasil é muito grande para ter programas pequenos. Precisamos hierarquizar e selecionar melhor nossas prioridades", disse.