06/04/18 11h32

Tecnologia converte biogás do esgoto em combustível para carros em Franca

Em parceria com instituto alemão, Sabesp vai abastecer 200 veículos com biometano produzido em estação de tratamento. Sistema tem benefícios financeiros e ambientais, diz companhia

G1

Em uma parceria considerada inédita no país, a Sabesp inaugurou na quinta-feira (5) em Franca (SP) uma tecnologia que permite a utilização do biogás do esgoto no abastecimento de veículos.

O biometano é adequado para motores que já aceitam o gás natural veicular (GNV) e vai movimentar 200 carros da companhia, que no município recebe 50 milhões de litros de resíduos por dia. A cidade escolhida para o início do projeto é reconhecida por tratar 100% do esgoto gerado.

A tecnologia, que demandou um investimento de R$ 7,4 milhões, representa economia de gastos com combustíveis como a gasolina e benefícios ao meio ambiente, além de ter potencial para ser expandida para todo o país, afirma o presidente Jerson Kelman.

"Esse biogás em várias estações de tratamento de esgoto do país é desperdiçado, é queimado. O que nós estamos fazendo aqui de forma pioneira é utilizar esse biogás de uma forma útil, ou seja, separando os componentes nocivos para a combustão com processos químicos por filtragem. Nós conseguimos produzir um produto puro o suficiente para ser utilizado em veículos", diz.

O biometano é o resultado de uma série de filtragens feitas a partir do gás resultante dos resíduos sólidos processados nos biodigestores da estação de tratamento.

Bruto, o metano traz em sua composição substâncias prejudiciais ao funcionamento do carro, que são retiradas por etapas, explica a superintendente de pesquisa, desenvolvimento e inovação da Sabesp, Cristina Zuffo.

O resultado é um combustível com até 97% de pureza, dentro dos padrões da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis. (ANP).

"O gás de esgoto tem muitas impurezas na composição: gás carbônico, a própria umidade, siloxanos, que vêm dos produtos de beleza e higiene pessoal. E a gente precisa aumentar o poder calorífico desse gás, ter um poder de combustão maior. Então é preciso tirar todas essas impurezas pra gente poder deixá-lo com mais metano possível e atender as condições para colocar em carros", explica.

A ideia não é recente. Nos anos 1980, a Sabesp já havia realizado uma iniciativa parecida, mas não encontrou meios tecnológicos adequados de torná-la viável.

"Pelo fato de a gente não dominar totalmente a tecnologia, isso mundialmente falando, a tecnologia de purificação desse biogás, e também pelo fato de não termos muitos carros adaptados pra uso do GNV, que é a mesma tecnologia que a gente usa para o biogás, esse projeto acabou não tendo muito sucesso, mas foi bom, porque a gente aprendeu os caminhos", afirma.

A implantação do atual sistema levou dois anos e foi possível graças a uma parceria com o Instituto Fraunhofer IGB, fundação de pesquisas aplicadas existente desde 1949 que forneceu os equipamentos que armazenam, beneficiam e comprimem o biogás

Por outro lado, a Sabesp cuidou das instalações necessárias, das adaptações dos veículos para poderem receber o biometano e das questões burocráticas. Com um tempo estimado em sete anos para obter o retorno do investimento, Kelman defende que o sistema é financeiramente viável.

"Talvez o principal desafio seja em cidades em que os veículos já não utilizam o gás natural tenham que fazer a conversão. Essa conversão é um desafio que terá que ser vencido. Em cidades onde já há tradição, já há gás natural isso fica mais fácil, porque o processo é o mesmo."

Ao todo, 1,5 mil litros de gasolina deixarão de ser consumidos por dia somente em Franca, segundo ele. "Isso pode ser replicado país afora. Nós da Sabesp pretendemos fazer isso e outras empresas de saneamento podem seguir o exemplo."