05/03/15 13h10

Suzano vai entrar no mercado de 'fluff'

Valor Econômico

Ao mesmo tempo em que divulgou forte melhora dos resultados operacionais em 2014, a Suzano Papel e Celulose anunciou novo investimento no Estado de São Paulo, para produção em escala industrial de celulose "fluff", usada em fraldas e absorventes. A companhia pretende iniciar a produção em dezembro, a partir da adaptação de uma máquina de papel de imprimir e escrever que poderá produzir também esse tipo de celulose, na fábrica de Suzano. Com capacidade de 100 mil toneladas por ano, a companhia será a primeira fornecedora local de "fluff" - hoje, o mercado doméstico de 400 mil toneladas anuais é atendido por importação - e a primeira fabricante mundial de "fluff" de fibra curta (tradicionalmente, utiliza-se a fibra longa).

Com o desembolso de R$ 30 milhões no projeto, cujos equipamentos já foram comprados, a Suzano deve superar a previsão de investimentos para 2015, que oficialmente é de R$ 1,5 bilhão. Soma-se a esse orçamento ainda um acordo firmado no início deste ano para compra de 8 milhões de metros cúbicos de madeira, com a Transportadora Floresta do Araguaia, para abastecimento da fábrica de Imperatriz (MA), que vai vigorar até 2024. O valor desse investimento não foi divulgado.

"A Suzano não vai parar investimentos por causa de um cenário [macroeconômico] que considera transitório", disse o presidente da companhia, Walter Schalka. "A empresa está em um processo rápido de desalavancagem e tem fôlego para investimentos de alto retorno", acrescentou. Em relação ao mercado de celulose, o executivo destacou que o início do ano é marcado por câmbio e preços favoráveis, além de demanda forte nos mercados mundiais de referência. Na América do Norte, a companhia já anunciou um reajuste de US$ 20 por tonelada, válido a partir deste mês.

Por outro lado, o mercado doméstico de papel iniciou o ano em "ritmo muito lento", segundo Schalka, o que fez a companhia direcionar um maior volume de produção ao mercado externo. Para 2015, acrescentou, a expectativa é a de vendas menores do produto no mercado interno.

A Suzano registrou prejuízo líquido de R$ 197 milhões no quarto trimestre, mais do que o triplo da perda de R$ 58 milhões verificada um ano antes, influenciada sobretudo pelo impacto negativo da valorização do dólar na parcela da dívida que está atrelada à moeda estrangeira. No intervalo, a conta de variações cambiais da companhia ficou negativa em R$ 489,4 milhões, com reflexo no resultado financeiro líquido - a despesa financeira líquida foi de R$ 737 milhões, ante R$ 339 milhões negativos no quarto trimestre de 2013.

Do lado operacional, a companhia continuou a se beneficiar da entrada em operação de sua nova fábrica de celulose e da recuperação dos preços da matéria-prima na reta final de 2014. A receita líquida trimestral da Suzano subiu 31,1%, para R$ 2,177 bilhões, enquanto o resultado antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) avançou 55,9%, para R$ 811 milhões. Em termos ajustados, o Ebitda cresceu 52,1% no trimestre e atingiu o recorde de R$ 826 milhões. Diante disso, a margem Ebitda ajustada da Suzano foi de 38% de outubro a dezembro, frente a 32,7% um ano antes.

Ao fim de 2014, a dívida líquida da companhia estava em R$ 10,07 bilhões, alta de 3% na comparação com setembro. A alavancagem financeira, medida pela relação entre dívida líquida e Ebitda, estava em 4,1 vezes em 31 de dezembro, frente a 4,5 vezes em setembro. "Vamos dar continuidade a esse processo em 2015 e a velocidade vai depender do câmbio, dos preços da celulose e da redução de custos que já está em curso", afirmou Schalka. Dentre os indicadores que mostraram evolução importante no período aparece o custo caixa consolidado de produção de celulose, que mede o desembolso efetivo para produção da matéria-prima. No quarto trimestre, esse custo da companhia ficou em R$ 484 por tonelada, com queda de 15% na comparação anual.