Sucesso no leilão de rodovia em SP poderá animar rodada de abril
Valor EconômicoApós o sucesso do leilão do lote "Rodovias do Centro-Oeste", na sexta-feira, as expectativas do mercado e governo de São Paulo são convergentes: apontam para uma disputa ainda mais concorrida no próximo certame do setor. No dia 25 de abril serão entregues as propostas dos interessados em arrematar o lote "Rodovia dos Calçados", de 720 quilômetros entre Itaporanga e Franca. O valor de outorga é de R$ 450,9 milhões e R$ 5 bilhões em investimentos ao longo dos 30 anos de concessão.
"Não podemos andar de salto alto. Humildade. É claro que começou uma maravilha. Então, estamos otimistas em relação a abril", disse o governador Geraldo Alckmin (PSDB), após a oferta surpreendente de fundo de investimentos do Pátria pelo lote "Rodovias do Centro-Oeste", na sexta-feira. Novato em concessões rodoviárias, o Pátria deu lance ousado de R$ 917,2 milhões, com ágio de 130,89% sobre a primeira parcela da outorga e que será pago à vista, na assinatura do contrato.
A outra metade da outorga - R$ 397 milhões - será paga em maio de 2018. Com o prêmio ofertado, o Pátria terá de pagar R$ 1,3 bilhão de outorga em menos de dois anos - é a segunda maior em valores nominais da história de concessões rodoviárias do Brasil. A primeira foi a da licitação do trecho Oeste do Rodoanel, em 2008, levado pela CCR, por R$ 2 bilhões.
O alto tíquete do desembolso que o Pátria terá de fazer até maio de 2018 apenas com outorga levanta dúvidas no mercado sobre como o fundo vai rentabilizar um projeto recusado por alguns interessados, que alegaram ter margens de retorno baixas.
Como o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) não financia outorga e tampouco compartilha as garantias do projeto a um financiamento desse tipo, a avaliação de parte do mercado é de que a empresa fica com poucas alternativas além de bancar essa despesa com capital próprio. O Pátria não falou com a imprensa. Em nota, disse que vai criar uma nova empresa para administrar os ativos. Este é o terceiro leilão de infraestrutura com participações da gestora.
Em 2016, o fundo estreou em transmissão de energia com investimento de R$ 2,5 bilhões, ao arrematar dois lotes de linhas de transmissão nos leilões promovidos pela Aneel - regulador federal.
Agora, o lote arrematado envolve 574 quilômetros de rodovias entre Florínea e Igarapava. Estão previstos R$ 3,9 bilhões de investimentos ao longo dos 30 anos de contrato, sendo R$ 2,1 bilhões já nos primeiros oito anos.
Segundo o secretário de governo, Saulo de Castro, o leilão marcou o novo modelo de concessões rodoviárias de São Paulo, que prioriza a prestação do serviço em vez da obra. Castro disse que o objetivo era atrair investidores com esse perfil. "É um investimento de longo prazo, são fundos que vêm com recurso que permanece no país, que gera emprego, que não é especulativo", disse. E deu uma estocada. "Claro que há resistência. Até tive de ouvir uma bobagem 'ah, só entraram dois'. Nas concessões por outorga normalmente é um ou dois". No entanto, para o leilão de abril, a expectativa é de haja maior número de propostas.
O lance do Pátria desbancou a concorrente EcoRodovias, operadora de sete rodovias, que ofereceu R$ 611 milhões, prêmio de 53,8%. Mas o mercado reagiu positivamente ao lance da EcoRodovias, num aceno de que a proposta da empresa indicou o comprometimento de sua administração com "disciplina de capital", após o grupo ter investido em ativos de outros segmentos de transportes que não deram o resultado esperado. A ação da empresa encerrou o pregão com alta de 6,16%, a R$ 9,30.