23/05/16 14h39

Startups apoiadas pela FAPESP melhoram seus modelos de negócios

Agência FAPESP

A startup paulista Scipopulis desenvolve há dois anos um aplicativo para smartphones para oferecer informações de transporte em tempo real baseadas no conhecimento coletivo, com apoio do programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE), da FAPESP.

O aplicativo permite aos usuários do transporte público saberem exatamente quando o ônibus que esperam chegará ao ponto e compartilhar a informação com outros passageiros. A Scipopulis pretende que o aplicativo informe aos passageiros a duração da viagem, o melhor e os piores dias e horários da semana para fazer o trajeto a que estão acostumados e quais os horários alternativos para sair de casa, além de fornecer alertas personalizados sobre o estado da malha viária da sua cidade.

Ao participar do programa de treinamento “FAPESP-PIPE High-Tech Entrepreneurial Training Program”, o cientista da computação Marcio Calixto Cabral, diretor da Scipopulis, identificou que, além dos usuários do transporte público, a tecnologia desenvolvida pela empresa também pode ser útil para diferentes tipos de gestores do sistema de transporte das cidades – o treinamento foi oferecido nos últimos dois meses pela FAPESP em colaboração com a George Washington University (GWU), dos Estados Unidos, para empresas participantes do PIPE.

“Descobrimos que é possível ‘pivotar’ [termo derivado do inglês ‘to pivot’, que designa uma mudança no modelo de negócios original de uma empresa] para outras áreas e atender demandas em relação ao transporte público que não havíamos enxergado antes, como as de prefeituras e órgãos do governo”, disse Cabral à Agência FAPESP.

Essa mudança no modelo de negócios original de uma empresa iniciante de base tecnológica a partir de um contato mais próximo com o mercado é um dos principais objetivos do treinamento.

“Nosso objetivo foi aprender se e como poderíamos oferecer às empresas apoiadas pelo PIPE um programa de treinamento para se tornarem mais rápidas e efetivas no desenvolvimento de seus negócios, mudando a forma como estavam desenvolvendo seus projetos”, disse Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da FAPESP, na abertura do evento de encerramento do programa, dia 19 de maio, na FAPESP.

Para atingir esse objetivo, as 21 empresas selecionadas para participar da primeira edição do programa de treinamento foram estimuladas a realizar, nas últimas sete semanas, entrevistas estruturadas com potenciais clientes, parceiros e concorrentes, de modo a entender suas necessidades, problemas e dificuldades. Ao todo, elas realizaram 1.729 entrevistas.

Em seguida, as equipes das empresas avaliaram se a nova compreensão do cliente validava ou invalidava seu modelo de negócios. Ao detectarem que uma determinada hipótese não era válida, o modelo de negócios da empresa passou por modificações de modo a se ajustar às necessidades do mercado. Os modelos finais foram apresentados no auditório da FAPESP.

“Percebemos que os modelos de negócios das empresas participantes melhoraram muito. Todas as empresas mudaram seus modelos de negócios iniciais e aprenderam muito ao longo do período de treinamento”, avaliou Fabio Kon, membro da coordenação adjunta de pesquisa para inovação da FAPESP.

Algumas empresas descobriram que o que pretendiam desenvolver não tem mercado, mas encontraram ao longo do programa outras possibilidades e reformularam seus modelos de negócios. Outras, descobriram que suas ideias iniciais tinham mercado, mas precisavam passar por uma série de ajustes.

Um número pequeno de empresas percebeu que o que querem desenvolver não tem mercado, de fato, e que é preciso começar do zero ou refazer o projeto inicial. “Identificar isso o quanto antes também é muito bom porque menos recursos e tempo serão investidos em algo que não vai dar certo”, disse Kon.

Metodologia

O programa de treinamento, realizado pela primeira vez no Brasil, é similar ao I-Corps, criado para estimular o desenvolvimento de um ecossistema de inovação nos Estados Unidos.

O I-Corps é financiado pela National Science Foundation (NSF) e realizado em conjunto pela GWU, University of Maryland College Park, Virginia Tech e John Hopkins University.

O programa de treinamento é baseado na metodologia “Customer Development”, desenvolvida por Steve Blank, professor da University of California em Berkeley, da Columbia University e do California Institute of Technology e fundador de diversas startups no Vale do Silício.

O conceito da metodologia criada por Blank é que muitas empresas têm uma ideia, propõem uma solução e definem seu modelo de negócios baseadas em suposições que têm do mercado. Nem sempre, contudo, essas suposições estão corretas, o que só é descoberto quando a tecnologia que desenvolveram é lançada no mercado.

“Queremos que os pesquisadores pensem em resolver problemas em um mundo real”, disse Daniel Kunitz, diretor do programa de treinamento, na abertura do evento. “É preciso que os pesquisadores ao iniciar um novo projeto pensem que isso deve ter alguma aplicação, além de quais os problemas existentes no mercado e como podem ajudar a resolvê-los”, avaliou Kunitz.