08/06/20 10h46

Startup de nutrição online chega até seu celular para crescer na pandemia

A N2B cresceu atendendo academias e empresas de benefícios corporativos. Agora, aplicativo de nutrição online também atende diretamente os interessados em se alimentar melhor

Pequenas Empresas e Grandes Negócios

Este momento de pandemia é de dificuldade para a maioria das empresas -- mas também pode ser o momento de acelerar à força os projetos parados na gaveta. Foi o que aconteceu com a N2B.

A startup de nutrição online atendia apenas empresas, mas também percebeu a oportunidade de atender seus consumidores finais diretamente. A liberação temporária das teleconsultas em nutrição deu mais um impulso a essa nova vertical.

A estratégia está rendendo frutos. Hoje, são mais de 40 mil usuários pagantes. 5 mil teleconsultas foram realizadas em pouco mais de dois meses. Mesmo em um ano marcado pelo fechamento dos centros de bem-estar, a N2B projeta crescer entre 2,5 e 3 vezes sobre 2019.

Ideia de negócio: nutrição online para saúde preventiva

A N2B foi criada pelos administradores Cesar Terrin e Luísa Cusnir em 2016. Os dois eram sócios em uma corretora de seguros para empresas. Em 2014, vendiam desde seguros para shoppings até planos de saúde corporativos. A ideia para a N2B surgiu a partir da última vertente.

"As empresas enfrentam um problema crônico de aumento nos preços dos planos de saúde. Acontece pela inflação médica, mas também porque não se investe em prevenção e as pessoas procuram cada vez mais o atendimento hospitalar", diz Terrin.

Naquela época, apenas a Gympass fornecia um programa de prevenção estruturado para empresas. Enquanto o futuro unicórnio trabalhava com atividade físicas, os sócios tiveram a ideia de criar um modelo de empresa para a empresa (B2B) no ramo de nutrição.

A N2B começou como um diferencial ao vender os planos de saúde. A corretora levava nutricionistas para salas de reuniões das empresas e fazia testes com os funcionários. Com o tempo, as companhias procuravam mais o serviço de nutrição do que os próprios planos de saúde. "Concorríamos com outras 70 mil corretoras, enquanto não havia muitos players na nutrição. Foi uma escolha difícil, mas saímos da nossa sociedade na corretora e apostamos no novo negócio", diz Terrin.

Em 2017, a N2B participou da aceleração na empresa de inovação ACE. Os empreendedores receberam um aporte de R$ 150 mil e transformaram seu modelo de negócios para um modelo mais escalável: o de aplicativo. "As nutricionistas tinham de ir até as empresas, ocupar diversas salas de reuniões e atender milhares de funcionários. Se eventualmente chegássemos a milhares de clientes, não teríamos como suportar nem assegurar qualidade", afirma Terrin.

Pelo aplicativo da N2B, usuários que querem mudar seus hábitos alimentares podem se conectar a profissionais da área de nutrição. Mas a ideia de que as empresas subsidiariam o app não encontrou muito apoio em tempos de recessão econômica. Confiar no patrocínio dos próprios funcionários também era arriscado.

A N2B encontrou um meio-termo: mostrar seu diferencial para outras empresas no mercado de alimentação e saúde. A startup desenvolveu um aplicativo de nutrição para a rede de academias SmartFit oferecer como benefício aos que já faziam exercícios, em formato white label (marca própria). Também firmou parceria com a VR Benefícios, que encontrou em um app de nutrição com marca própria um diferencial para sua proposta de vale-alimentação e vale-refeição.

Foram formas de chegar a um grande número de usuários sem cobrar separadamente pelo aplicativo de nutrição. A N2B já tem parcerias com mais de dez canais de distribuição. Em troca, essas empresas pagam uma taxa mensal para operação da plataforma. A startup também ganha um bônus conforme o número de usuários que aderirem.

Em 2018, a N2B recebeu mais R$ 650 mil do Hospital Albert Einstein. Na incubadora Eretz.bio, investiram no desenvolvimento do aplicativo. "Tínhamos clientes grandes, com demandas absurdas em produto", diz Terrin. Já 2019 testemunhou uma aceleração nos contratos e na validação tecnológica, por meio da residência no Google Campus.

2020: do B2B ao B2C

Este ano, até o momento, está sendo marcado pelo desafio de lidar com a pandemia causada pelo novo coronavírus. Cada parceiro apresenta resultados diferetes para a N2B. Em algumas academias, os consumidores perderam o contato diante do fechamento e pararam de usar o aplicativo de nutrição. Em outras, a solução digital é ainda mais procurada por conta da quarentena.

Entre tantas dificuldades, uma nova possibilidade se abriu. Em 19 de março, o Conselho Federal de Nutrição permitiu a teleconsulta até 31 de agosto deste ano. Com a liberação temporária, a N2B conseguiu incluir temporariamente esse serviço e fornecer um atendimento mais personalizado aos seus usuários.

"Esse desenvolvimento de produto estava nos nossos planos, mas ainda não sabíamos quando seria liberadas as teleconsultas em nutrição. A pandemia acelerou os planos", diz Terrin.

Também puxou a entrada da N2B no mercado de atendimento direto ao consumidor final, ou B2C. A startup já tinha um aplicativo chamado MyNutri, para academias que não podiam pagar por uma interface white label. O mesmo app está sendo divulgando agora como um serviço direto ao interessado em nutrição.

Em troca de uma mensalidade de R$ 59,90, o usuário acessa serviços como cardápio de acordo com perfil e objetivo; chat com nutricionistas para dúvidas gerais; feedback em cima de fotos das refeições; acompanhamento de nutrientes ingeridos e faltantes; e escaneamento de produtos industrializados para avaliação. Desde 19 de março, a N2B também mediou 5 mil teleconsultas.

Para atrair mais usuários, a startup estuda serviços gratuitos para o primeiro contato com a nutrição. Um exemplo é um grupo de receitas criado no aplicativo de mensagens Telegram. A N2B já atendeu mais de 400 mil usuários pagantes, 40 mil deles ativos.

A startup cresceu 4,5 vezes em 2019. Para este ano, projeta crescer entre 2,5 e 3 vezes. O modelo B2C será a receita para o faturamento de 2020 -- pelo menos enquanto academias e empresas permanecem com as portas fechadas.