03/09/18 14h21

Startup aposta em patinetes elétricos como alternativa ao trânsito de São Paulo

Brasileira Ride deu início nesta semana à operação comercial de seu serviço de patinetes compartilhadas; Empresa buscará ampliar número de veículos de acordo com a demanda da cidade

Portal Now Digital

*Carla Matsu

Depois das bikes compartilhadas, a próxima onda da mobilidade urbana promete vir também em duas rodas, mas neste caso sobre patinetes elétricos. Uma nova startup, a brasileira Ride, começou a disponibilizar nesta semana suas patinetes elétricas na região da Avenida Brigadeiro Faria Lima, entre os bairros Pinheiros e Vila Olímpia, em São Paulo.

De forma semelhante a experiência de usuário do Uber e Cabify, as patinetes da Ride também são gerenciadas, encontradas e pagas por meio de um aplicativo disponível para download na App Store e na Google Play. O cadastro é rápido. Além de informar e-mail e senha, o app exige um número de cartão de crédito, uma vez que para desbloquear a patinete, o usuário deverá pagar a taxa inicial de R$ 2,50 e a cada minuto rodado será cobrado R$ 0,50. Após o uso, clientes podem deixar as patinetes estacionadas em bicicletários, paraciclos e outros locais marcados no aplicativo e, no final de cada dia, funcionários da empresa recolhem as patinetes para recarregá-las.

A startup é uma iniciativa dos sócios Marcelo Loureiro, Guilherme Freire e Paula Nader. Loureiro, CEO, da empresa, acompanhou aos poucos a mudança de cenário da mobilidade urbana na Califórnia, para onde se mudou há dez anos. Foi diretor da Spinlister, uma espécie de Airbnb das bicicletas, e foi no mesmo estado ensolarado que viu nascer a Bird - a startup que fez das chamadas e-scooters um novo hype da mobilidade e, em menos de um ano, levantou R$ 400 milhões em rodadas de investimentos. A ideia, pensou Loureiro, é que se um sistema de patinetes parecia funcionar bem em Los Angeles, onde a Bird é baseada, o mesmo encontraria seu caminho em grandes cidades como São Paulo.

Entretanto, para além do hype, a Bird e a sua maior concorrente, a também norte-americana Lime, entraram em contradição com a sua proposta inicial. Se elas se propunham a melhorar o trânsito das cidades, elas conseguiram, criar um grande transtorno. As duas decidiram operar sem a permissão das prefeituras locais e, neste ano, durante o período de um mês, juntas receberam mais de 1.900 queixas em relação aos patinetes. Entre as críticas estavam que as scooters bloqueavam calçadas e até mesmo comprometiam segurança de pedestres. O resultado foi que autoridades precisaram intervir e limitar as licenças e o número de veículos disponíveis em cada área.

Paula Nader, uma das sócias-fundadoras da Ride e CMO, diz em entrevista ao IDG Now! que a decisão de colocar um número limitado de patinetes nas ruas de São Paulo é, inclusive, uma resposta às experiências relativamente frustradas em outros mercados. Por enquanto, a Ride disponibilizou apenas 50 unidades de suas e-scooters. Uma estratégia que Paula diz ter sido bem alinhada com a Prefeitura para estudar a reação, a dinâmica e os possíveis efeitos colaterais de um novo sistema modal.

“É uma das coisas com a qual nos comprometemos. Esse erro não vamos repetir”, reforça Paula em relação ao crescimento desordenado dos serviços nos Estados Unidos. “Vamos colocar uma quantidade muito menor do que gostaríamos, mas queremos fazer um caminho bem feito”, completa.

Ao colocar um número reduzido de patinetes em um área também limitada, a ideia é, segundo Paula, mapear bem a demanda e possíveis abusos. Nos Estados Unidos, muitas das patinetes foram furtadas e outras depredadas.

“Toda a conversa que a gente tem tido com a Prefeitura e com ONGs de mobilidade urbana tem a ver com isso. A gente sabe que pode influenciar se tivermos uma operação impecável. Por isso, estamos começando pequeno e controlado. Queremos uma entrada o mais suave possível para também ter uma influência positiva no redesenho da cidade”, explica Paula.

Uma das estratégias da Ride prevê ainda disponibilizar as patinetes em locais privados, como condomínios residenciais e corporativos.

UMA QUESTÃO DE COMPORTAMENTO

As patinetes da Ride atingem a velocidade máxima de 20 km/h e a recomendação do aplicativo é que usuários se mantenham na ciclovia ou ciclofaixa e evitem as calçadas. Segundo Paula, todo a tecnologia referente ao hardware é proprietária e foi pensada para aguentar o tranco de cidades como São Paulo, além de ser à prova d’água.

Rastreadas por GPS em tempo real, as patinetes serão recolhidas todas as noites por funcionários da empresa, para que também passem por manutenção. Segundo a Ride, o gasto de energia de cada equipamento é equivalente ao necessário para carregar um computador pessoal.

Apesar de não abrir valores de investimento, Paula diz que a Ride conta com investidores-anjo que têm experiência no setor de mobilidade urbana. “Mais que entrar com dinheiro, eles também entram com experiência e conhecimento. É uma troca interessante”, destaca.

Paula não dá uma previsão de quando a Ride ampliará o número de veículos e em quais outros pontos da cidade as pessoas poderão recorrer às patinetes para chegar ao trabalho. “De acordo com a demanda e a partir de todas as métricas da operação, a gente vai aumentar este número e, também, de acordo com a curva de aprendizado das pessoas”, explica.

Para além de iniciativas que preveem o futuro da mobilidade pavimentado por carros autônomos, muito se aposta que soluções individuais, compartilhadas e sustentáveis como bicicletas e as patinetes ajudem a tirar carros das ruas em grandes centros. Tanto que grandes companhias têm olhado para esses "novos" modais como estratégia de negócio. A Uber e sua concorrente Lyft trabalham para atuar no mercado de scooters nos Estados Unidos e, recentemente, a primeira concluiu a compra da startup de bikes compartilhadas Jump.

“A gente acredita que viver em cidades como São Paulo pode ser bem mais agradável. E as patinetes, junto com as bicicletas, são uma modalidade que vai acabar estimulando a cidade a aumentar a quantidade de vias disponíveis para outros meios de transporte que não os carros”, aposta Paula Nader.