SP é única brasileira em ranking de 50 cidades com maior crescimento econômico até 2030
Projeção leva em conta estimativas de aumento de renda e consumo; 17 cidades são chinesas, refletindo tendência de deslocamento do motor econômico mundial do Ocidente ao Oriente
G1São Paulo é a única cidade latino-americana que aparece em estudo entre as mais poderosas do planeta daqui até 2030
Há 100 anos era impossível imaginar um mundo com mais gente vivendo em centros urbanos do que no campo. Seria algo só possível em ficção científica. Hoje, contudo, é uma realidade.
A urbanização é uma das grandes tendências históricas da humanidade, acelerada pela revolução industrial do século 19 e em disparada nos últimos 100 anos.
O melhor símbolo do alcance desse processo é a China, uma sociedade camponesa por excelência que desde o último censo conta com mais habitantes urbanos do que rurais.
Segundo um estudo da consultoria Oxford Economics, que comparou 750 grandes cidades do mundo que concentram 57% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial, essa tendência se aprofundará nos próximos anos.
"As grandes cidades são o motor do crescimento econômico, a inovação, a indústria e os serviços, a demanda e a produção", afirmou Richard Holt, diretor de investigação de cidades globais da Oxford Economics.
"Se hoje essas cidades representam 57% da riqueza mundial, em 2030 esse índice chegará a 61% pelo crescimento contínuo das grandes cidades."
Top 10
O ranking lista as cidades que terão o maior crescimento em renda e consumo até 2030. O estudo confirma três tendências que, apontam analistas, estão mudando as relações de poder no mundo:
Rivalidade China-Estados Unidos pela hegemonia globalDeslocamento do motor econômico mundial do Ocidente ao OrienteImportância crescente do mundo em desenvolvimento em detrimento do mundo desenvolvidoEm 2030, sete das dez cidades com maior crescimento serão chinesas: Xangai (2), Tianjín (3), Pequim (4), Guanzhou (6), Shenzhen (7), Chongqing (9) e Suzhou (10).
Todas terão, em conjunto, um PIB de quase US$ 4 bilhões, ou um terço do PIB atual dos EUA.
Nova York seguirá na ponta do ranking, e Los Angeles no quinto lugar. A Europa estará representada por Londres (9).
As dez posições seguintes no ranking corroboram as três tendências recentes de poder no mundo.
Entre essas cidades, apenas Tóquio, Washington, Chicago e Houston integram o chamado mundo desenvolvido.
Por outro lado, Jacarta (11), São Paulo (13), Istambul (18) e três megacidades chinesas serão os outros polos do crescimento econômico global.
China e a urbanização
Se estendermos a análise às 50 cidades mais poderosas, 17 serão chinesas. O número superará toda a América do Norte e será quatro vezes maior do que o da Europa.
A urbanização nos últimos 25 anos está no centro do crescimento econômico chinês.
Na recessão mundial de 2008-2009, o investimento em infraestrutura urbana teve um papel de destaque no pacote de US$ 500 bilhões que o governo injetou para manter sua economia aquecida.
Já o chamado "Novo Plano de Urbanização Nacional 2014-2020", anunciado há dois anos pelo governo chinês, prevê um megainvestimento de US$ 7 trilhões, aproximadamente a metade do PIB dos EUA.
A projeção é que 70% da população chinesa (cerca de 1 bilhão de pessoas) viverá em cidades em 2030, e as metrópoles do país terão, em média, 13 milhões de moradores.
"Os processos de urbanização implicam investimento gigantesco em serviços como transporte, eletricidade, água, saúde e educação. Tudo isso faz desses processos um grande motor da economia, algo a que muitas vezes não se dá a devida importância", disse Holt.
Impacto econômico e social
Esse efeito dinamizador pode ser observado na análise do impacto conjunto das 750 cidades estudadas pela Oxford Economics.
Em 2030 elas representarão 35% da população mundial, mas em termos econômicos significarão um aumento no PIB de US$ 37 trilhões, ou quase o dobro do atual PIB norte-americano.
O consumo se elevará em US$ 18 trilhões, com um mercado de 220 milhões de lares de classe média e um número equivalente de famílias de alta renda.
A presença crescente das economias emergentes é outro traço da explosão do consumo urbano.
Em consumo de veículos, por exemplo, São Paulo saltará do sétimo ao quarto lugar, e Xangai passará do atual 42º lugar à sétima posição.
"As cidades dos países emergentes darão um grande salto em crescimento, mas em PIB per capita ainda faltará muito tempo até alcançarem os países desenvolvidos", disse o analista da consultoria responsável pelo estudo.
Um morador de Pequim, por exemplo, precisará esperar até a metade do século para alcançar o nível dos países desenvolvidos.
Na Índia precisarão de 50 anos, enquanto em Lagos, na Nigéria, a estimativa remete ao terreno da ficção científica: 150 anos.
América Latina
Com mais de 20 milhões de habitantes e papel importante na produção industrial brasileira, São Paulo é a única cidade latino-americana que aparece entre as mais poderosas do planeta daqui até 2030.
Mas as metrópoles que deverão crescer mais são Lima, no Peru, e Monterrey, no México.
"Esse crescimento se sustentará no tempo porque a economia peruana está sintonizada para o avanço do capital, e se preparou bem em termos de infraestrutura para manter essa tendência. Não é o que ocorre com outras megacidades como São Paulo e Cidade do México, que possuem problemas sérios de infraestrutura", afirmou Holt.
A infraestrutura é um dos grandes desafios do crescimento urbano, e demanda uma política conjunta de habitação, saúde, educação e transporte - algo que, normalmente, ultrapassa a capacidade das autoridades.