Simec começa sua operação no Brasil no meio da crise
valor econômicoEm plena crise histórica da indústria do aço no Brasil, o grupo mexicano Simec acaba de pôr em operação no país sua siderúrgica. O investimento é de US$ 400 milhões e a fábrica está instalada em Pindamonhangaba (SP), a pouco mais de 100 km da região metropolitana de São Paulo, maior centro consumidor de aço do país. A usina, moderna, já está produzindo comercialmente vergalhões - barras usadas para fazer casas, edifícios e obras de infraestrutura - e fio-máquina, um fio grosso de aço para fabricar arames, pregos, e outros itens industriais.
O foco da empresa no Brasil é o mercado da construção civil, que atualmente enfrenta uma fase de forte contração do mercado com menos lançamentos de empreendimentos imobiliários e quase nada de novas obras de infraestrutura. Em torno de 90% da capacidade de produção de aço da usina a forno elétrico será dedicada à fabricação de vergalhões.
O grupo mexicano, um dos líderes nesse segmento no México, e líder em aços especiais na America do Norte, com várias unidades no s Estados Unidos, vai enfrentar no Brasil pesos-pesados da siderurgia mundial e locais: Gerdau, ArcelorMittal e a Votorantim. Vai competir também com a Cia. Siderúrgica Nacional (CSN), que entrou no segmento de aços longos em 2014.
A competição, num mercado que sofre recuo de vendas acima de 16% neste ano e tem previsão de recuar mais 5% em 2016, vai se acirrar ainda mais com a entrada do novo fabricante, é a avaliação de quem atua na indústria do aço. No entanto, é visto como saudável para os consumidores, que terá mais uma opção de compra.
A Simec diz estar confiante de que irá aos poucos ganhar mercado no Brasil, oferecendo um diferencial de atendimento a consumidores desse tipo de aço - construtores no setor imobiliário e de obras pesadas - e apostando que esses clientes buscam uma nova alternativa de fornecimento.
"Não vamos entrar com uma política agressiva de preços para ganhar mercados", fez questão de afirmar ao Valor o mexicano Jaime Moncada Ramos, diretor-geral da GV do Brasil, que está no país há dois anos e desde 1992 atuando no grupo. O nome dado à empresa no país traz o nome Vigil, que é o sobrenome dos cinco irmãos que são os donos do grupo Simec, fundado em 1969 em Jalisco, capital de Guadalajara.
A usina de Pindamonhangaba é o primeiro investimento da Simec fora da América do Norte. A decisão foi tomada em 2012, quando o mercado no país ainda vivia um surto de crescimento.
Segundo Ramos, a previsão é produzir cerca de 25 mil a 30 mil toneladas neste ano e, por volta de agosto de 2016, atingir um patamar mensal de 30 mil. "Vamos começar devagar, buscando nichos de mercado", afirma Ramos, destacando que a empresa chega com um diferencial tecnológico - instalou na usina um equipamento de tratamento térmico de última geração para dar mais qualidade ao aço fabricado.
Potenciais alvos da GV, além dos tradicionais construção civil e distribuição, são os segmentos de pré-moldados e pré-formados de concreto, alguns componentes automotivos e ferramentas.
Por sua localização, tida como logisticamente estratégica, o grupo mexicano vai mirar mercados nos Estados de São Paulo, Minas, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Goiás, Paraná e Santa Catarina. "Nessa região, estaremos prontos para atender clientes em dois dias", afirmou o executivo.
A fábrica paulista do grupo Simec, nessa primeira fase, vai empregar 250 pessoas. Ramos informou que o índice de automatização da usina é alto. O investimento no Brasil contemplava também uma unidade de aços especiais, com foco no setor automotivo. A usina teria 500 mil toneladas. Em dois anos, disse o diretor, o grupo deve retomar o projeto.
Ramos não considera que a entrada da GV no mercado brasileiro vai ter um grande impacto nos atuais fabricantes. "À plena capacidade de produção e vendas, vamos ter em torno de 3% do mercado local de aços longos", disse.
Com receita anual na faixa de US$ bilhões, o grupo Simec tem 20 unidades de produção e laminação de aço no México, EUA e Canadá. Conforme dados em seu balanço, a companhia da família Vigil tem capacidade de produção de 4,2 milhões de toneladas de aço bruto por ano - metade em solo mexicano e a outra metade por meio da Republic Steel, siderúrgica americana que faz aços especiais para os setores automotivo, indústrias, ferramentas e equipamentos de mineração.
Das vendas totais da Simec, 51,5% são aços especiais. O restante, são perfis estruturais usados na construção civil, tanto não residencial como em outras aplicações da área construtiva. O grupo se qualifica como o principal fabricante de perfis do México.
Rufino Vigil, presidente executivo, é quem está na linha de frente das operações, ao lado de três outros irmãos. Ele acompanhou de perto toda a obra da usina, às vezes chegando aqui de manhã e voltando à noite para o México. As obras de instalação da GV tiveram um ano de atraso.