28/06/12 14h18

Setores beneficiados vão aumentar produção

Valor Econômico

Os setores beneficiados com o pacote de medidas de estímulo à produção anunciado ontem pelo governo acreditam que os impactos positivos já serão sentidos este ano. Os produtores de ônibus e retroescavadeiras preveem impacto significativo na produção industrial, e os fabricantes de equipamentos hospitalares estimam crescimento no faturamento. Por outro lado, a diminuição da Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), que fez parte do pacote, não deve ser suficiente para mudar o cenário de investimentos.

O impacto mais significativo deve ficar na indústria de ônibus. O incremento de mais de 8 mil unidades nas compras do governo federal neste ano representa um quarto da produção total brasileira de 2011. De acordo com a Associação Nacional dos Fabricantes de Ônibus (Fabus), as conversas com o governo vinham acontecendo desde 2008, mas ganharam força nos últimos dois meses.

"É um aumento de demanda adicional, que não estava nas previsões para o ano. A estimativa é que a última unidade seja entregue daqui a cinco meses", afirmou o presidente da associação, José Antonio Fernandes Martins. Os ônibus serão destinados a alunos da zona rural do país e farão parte do programa Caminhos da Escola. Atualmente, a frota nacional de ônibus escolares na zona rural é de cerca de 22 mil unidades.

O diretor vice-presidente de operações do grupo Randon, Erino Tonon, disse que a decisão do governo federal de adquirir equipamentos para melhorar a infraestrutura, incluindo retroescavadeiras e motoniveladoras, "está na direção certa" para estimular a economia. "Parece claro que o incentivo ao consumo esgotou", disse.

Conforme Tonon, as 3.591 retroescavadeiras que serão distribuídas aos municípios com menos de 50 mil habitantes correspondem a mais de um terço da produção do segmento no país no ano passado, que chegou a 10 mil unidades. O executivo também elogiou a margem de preferência determinada para os produtos de fabricação nacional, que serão comprados pelo governo mesmo com preços até 10% mais altos do que os importados. "É uma proteção contra as máquinas chinesas", comentou.

A Anfavea, entidade que representa as montadoras instaladas no Brasil, disse que o pacote deve dinamizar as compras governamentais e estimular os mercados de caminhões, ônibus e máquinas agrícolas. Para caminhões, o impacto deve ser menor que nos demais setores, pois as 8 mil unidades representam cerca de 2% da produção anual do setor no Brasil.

Apesar de não ter sido contemplado com o aumento no volume de compras, o setor de equipamentos hospitalares ficou satisfeito com a margem de preferência à produção nacional aplicada a 80 equipamentos de saúde, como tomógrafos e aparelhos de hemodiálise. A Associação Brasileira da Indústria de Artigos e Equipamentos Médicos, Odontológicos, Hospitalares e de Laboratórios (Abimo) prevê que, com a medida, o faturamento bruto das empresas aumente 6% em um ano a partir do início das aquisições. A expectativa é que os efeitos da margem comecem a ser sentidos pela indústria entre 90 e 120 dias após a ratificação das novas regras.

Agora, todo produto fabricado no Brasil pode ser, na média, 15% mais caro do que o importado que ainda assim terá preferência em uma licitação. "Essa é a média, pois a margem varia. Tem produto que tem 8% e produto com 25%", afirmou o presidente da associação Paulo Henrique Fraccaro.

Já a Abraciclo, que representa os fabricantes de motos, mostrou um tom diferente e classificou como "localizada" a ação do governo que incluiu dentro do pacote a compra de 500 motocicletas para a Polícia Federal e a Polícia Rodoviária Federal. Segundo a entidade, a medida não está relacionada aos incentivos que estão sendo discutidos com o governo federal em Brasília, que incluem o corte para zero da alíquota da Cofins, hoje em 3%.

A outra parte do pacote, a redução da TJLP de 6% para 5,5%, teve recepção menos calorosa. Júlio Gomes de Almeida, economista e consultor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), acredita que o acesso a crédito mais barato do BNDES não vai ter efeito significativo no nível do investimento brasileiro. "Há um desânimo entre os empresários em relação ao cenário futuro. A redução não é de se jogar fora, melhora um pouco o quadro, mas deve ter alcance restrito aos projetos que estão na zona de baixa incerteza. Os outros não vão sair do papel por causa dessa queda", afirmou.

Para o economista, a redução foi uma medida complementar àquelas que vêm sendo adotadas desde agosto do ano passado para estimular a atividade. "A queda na Selic, o câmbio em um patamar mais competitivo e a desoneração de alguns setores foram as atitudes mais fortes. O governo parece estar satisfeito com elas e deu mais força a isso com o anúncio de ontem."