03/11/14 16h39

Setor de veículos cresce e analistas preveem 3º mês seguido de expansão da indústria

Valor Econômico

Influenciada principalmente pelo setor automobilístico, a produção industrial deve crescer pelo terceiro mês seguido em setembro, avaliam economistas, mas a sequência de altas ainda não é vista como uma trajetória de retomada consistente. Analistas destacam que o desempenho observado nos últimos meses é insuficiente para recuperar o tombo de 1,9% da produção entre o primeiro e o segundo trimestres, feitos os ajustes sazonais. Além disso, fatores como o enfraquecimento da demanda, o elevado acúmulo de estoques e a confiança em nível deprimido ainda colocam dúvidas sobre a continuidade da expansão.

A média de 17 instituições financeiras e consultorias ouvidas pelo Valor Data aponta que, após avanço de 0,7% em agosto, a produção industrial subiu 0,2% em setembro, sempre em relação ao mês anterior, descontados os fatores sazonais. As estimativas para a Pesquisa Industrial Mensal - Produção Física (PIM-PF), a ser divulgada amanhã pelo IBGE, vão de queda de 0,5% até alta de 1,5%. Sobre o mesmo mês de 2013, a expectativa média é de retração de 1,6%, o que marcaria o sétimo recuo mensal consecutivo nessa ordem.

Mariana Hauer, do banco ABC Brasil, projeta que a produção avançou 0,3% entre agosto e setembro, mas avalia que o crescimento não será espalhado entre os diversos segmentos que compõem a pesquisa do IBGE. A partir de dados da Anfavea, entidade que reúne as montadoras instaladas no país, Mariana calcula que a atividade do setor de veículos saltou 12% na passagem mensal, feitos os ajustes sazonais, principal influência de alta em sua previsão para a PIM-PF.

"A alta da indústria no mês deve ficar concentrada nesse setor, porque outros indicadores antecedentes não mostram variação positiva", diz. Com base em números da Associação Brasileira do Papelão Ondulado (ABPO), a economista calcula que a expedição do material, considerada um bom antecedente da emissão de embalagens, diminuiu 0,3% na passagem mensal. Outro indício ruim seria o recuo de 5,5% do volume exportado de produtos manufaturados no período, sempre de acordo com os ajustes sazonais feitos pelo ABC.

Em relatório, a equipe econômica do Bradesco afirma que, a despeito do aumento de 0,14% da atividade na indústria paulista em setembro, segundo o Indicador de Nível da Atividade (INA) da Fiesp, projeta ligeiro recuo da produção nacional medida pelo IBGE em igual período, de 0,1%. O banco vê como sinais negativos a retração de 1,4% no consumo industrial de gás natural e de 1% no consumo de energia elétrica entre agosto e setembro, respectivamente.

Analisando o conjunto de indicadores que antecedem o comportamento da indústria, Mariana sustenta que o pequeno avanço esperado para a produção em setembro não indica uma tendência de recuperação do setor, embora seu desempenho tenha oscilado menos nos últimos meses. "Talvez quando a queda da confiança seja revertida, possamos perceber alguma recuperação", afirma.

De acordo com a medição da Fundação Getulio Vargas (FGV), a confiança dos empresários industriais cresceu 1,8% entre setembro e outubro, após nove quedas seguidas na comparação mensal. Rafael Bacciotti, da Tendências, ressalta, no entanto, que o indicador acumulou perda de 18,8% no período em que esteve em declínio. "Ainda não dá para falar em reversão", afirma Bacciotti, que trabalha com expansão de 1,5% da produção em setembro ante o mês anterior.

Mesmo esperando alta de maior intensidade no último dado, o economista também é cético em relação à possibilidade de uma reação mais forte da indústria nos últimos meses do ano. Isso porque, apesar da melhora na produção de veículos, não houve reação das vendas, o que indica que o setor continuará estocado. Para a Tendências, a produção industrial vai encolher 2% em 2014, projeção que conta com expansão de 0,3% do indicador entre julho e setembro e um pequeno crescimento no último trimestre, ainda não estimado.

A definição do cenário eleitoral, segundo Bacciotti, pode diminuir incertezas, mas ainda há dúvidas sobre a condução da política econômica no segundo mandato da presidente Dilma Rousseff. Ele ainda cita que estão no radar do empresariado o risco de racionamento e expectativas de elevação dos preços de energia elétrica, fatores que limitam uma retomada da confiança no médio prazo.

Mariana, do ABC, prevê que a produção industrial vai crescer 1,5% em 2015, depois de registrar tombo de 2,5% neste ano. "Não é um número ótimo, mas o cenário já começa a mudar", observa ela, ainda que o avanço seja influenciado também por uma base baixa de comparação e por aumento no número de dias úteis.

Para recuperar competitividade e participação no Produto Interno Bruto (PIB), a economista avalia que a indústria precisará se "reinventar", com maiores investimentos em pesquisa e desenvolvimento.