26/08/10 14h52

Setor de serviços ignora crise e cresce dois dígitos

O Estado de S. Paulo – 26/08/10

O setor de serviços não financeiros ignorou a crise global desencadeada no fim de 2008 e fechou aquele ano com um crescimento de dois dígitos em salários, lucro, número de empresas e de pessoas empregadas. O retrato é resultado da Pesquisa Anual de Serviços, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para analistas, o setor foi pouco afetado pela crise em razão de sua baixa exposição ao mercado externo. "Como um todo, os dados não mostram os sinais negativos originados da crise", comentou a analista do IBGE Ana Carla Magni. A técnica lembrou que, até a crise, a economia mostrava um bom momento em 2008. O setor fechou aquele ano com cerca de 880 mil empresas, número 10,8% superior ao de 2007. Esse crescimento foi puxado pelos serviços prestados às famílias, segmento em que foram criadas cerca de 37 mil novas empresas.

O administrador de empresa Fabio Battistella, de 33 anos, foi um dos empreendedores que começou um negócio nesse período. Com quatro sócios, o ex-executivo da indústria automobilística abriu o restaurante Meza Bar, no Rio. O investimento fora definido antes das turbulências na economia. "Não dava para ficar pensando na crise. Tínhamos de fazer funcionar." A empresa mantém, ainda hoje, os 25 funcionários contratados na abertura. Para o professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Robson Gonçalves, o setor de serviços não esteve tão exposto à crise quanto a indústria. "A indústria brasileira já resistiu bem. O setor de serviços com certeza resistiu melhor ainda", afirmou. O baixo impacto da crise, na avaliação de Gonçalves, se deve também ao crescimento das classes C e D, que passaram a ter acesso a determinados serviços.

"À medida que o nível de renda sobe, as famílias compram mais serviços. Pessoas de baixa renda que entram na classe média baixa passam a assinar TV a cabo, ter acesso a opções de lazer e comer fora. Nesse momento em que o País se encontra, existem segmentos que começam a crescer à frente da média da economia", explica. "Tudo isso está refletido em 2008 e vai continuar aparecendo nas próximas pesquisas."

O setor também registrou números positivos no nível de emprego em 2008, quando houve acréscimo de 860,1 mil postos de trabalho, crescimento de 10,3% ante 2007. Entre os destaques está o segmento de "transportes, serviços auxiliares aos transportes e correio", onde houve um crescimento de 14,7% no número de pessoas trabalhando. Só a atividade de transporte rodoviário de cargas avançou 30,7% no pessoal ocupado no período. Em 2008, as empresas de serviços de informação e comunicação originaram a maior parte (29,9%) do lucro do setor de serviços, que teve receita de R$ 680,1 bilhões (US$ 371,6 bilhões). Para a analista Rosângela Ribeiro, da SLW, o segmento de telecomunicações passou ao largo da crise porque é pouco influenciada pelo mercado externo.