Setor de máquinas projeta puxar retomada industrial
Valor EconômicoA maior parte dos principais setores da indústria deve engatar recuperação mais robusta em 2018, mas nenhum deles espera se desgarrar mais da média projetada para o Produto Interno Bruto (PIB) do que o segmento de máquinas. Depois de perder 45% do faturamento desde 2013 e encolher 3% em 2017, os fabricantes de bens de capital projetam expansão de 5% a 8% em 2018, maior variação entre os vários setores ouvidos pelo Valor.
São dois os motivos da previsão otimista: baixa base de comparação e retomada dos investimentos, diz José Velloso Dias Cardoso, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq). Ainda assim, afirma, a retomada dos investimentos se dará mais em função dos gargalos acumulados na economia após três anos de recessão.
O setor de máquinas faturou cerca de R$ 70 bilhões em 2017 - ante R$ 121 bilhões em 2013. A exportação respondeu por 41% do faturamento em 2016 e 2017. A venda de máquinas representa 12% de toda a exportação industrial brasileira. Em 2017, o consumo aparente (produção mais importações, menos exportações) diminuiu 20% e só não caiu mais porque o setor de máquinas agrícolas cresceu 8%.
Para que a projeção da Abimaq para 2018 se confirme serão necessárias algumas condições, afirma Velloso: a aprovação das reformas, principalmente a da Previdência e a tributária, "a mais importante para o setor produtivo", a manutenção de taxa de juro real baixa e a retomada da oferta de crédito.
Segundo Velloso, uma empresa de médio porte que queira crédito para investir hoje está sujeita a um juro de 15% ao ano pelo programa Finame, do BNDES. Ele considera a taxa alta demais para uma inflação anualizada de apenas 3% e um retorno de investimento que não chega nem perto da rentabilidade do mercado financeiro.
Além do segmento de máquinas, outra indústria que está otimista é a do alumínio. O setor esperava encerrar 2017 em estabilidade, mas termina o ano com expansão projetada de 5%, de acordo com a Associação Brasileira do Alumínio (Abal). Baseado no crescimento histórico de 1,25 ponto para cada ponto percentual de aumento do PIB, o setor espera crescer entre 5% e 6%, afirma o presidente da entidade, Milton Rego.
O otimismo tem mais um componente além da recuperação da economia. O setor vem sendo favorecido pela tendência de substituição do aço por alumínio na produção de automóveis, carrocerias e embalagens. "Como houve crescimento da produção de veículos este ano, a recuperação ocorreu", diz Rego. O consumo de alumínio no setor de transporte cresceu 13% neste trimestre.
A indústria de alumínio vinha trabalhando sem estoques durante a crise. A retomada agora se dá não só pelo aumento do consumo, mas também pela formação de estoques, afirma o executivo. Rego diz que o crescimento deste ano e de 2018 não devolvem a indústria ao nível pré-crise. "O setor recuou dez anos em consumo nesses três anos de recessão." Para recompor o que perdeu seria preciso crescer mais dois anos a 5%, 6% ao ano.
Também a siderurgia não deve recuperar três anos de recessão no curto prazo, estima o presidente do Instituto Aço Brasil, Marco Polo de Mello Lopes. De 2013 a 2016, a produção caiu 8,5%, enquanto as vendas recuaram 32% e o consumo, 35%. O dado exclui do cálculo a Companhia Siderúrgica de Pecém (CSP), em operação há um ano e meio, mas cuja produção é 100% voltada à exportação.
Para Mello Lopes, "uma série de ações positivas e corajosas neste ano deve levar a resultados concretos em 2018". Essas ações devem se refletir nos três setores mais importantes para a siderurgia: construção, automóveis e máquinas e equipamentos. Juntos, respondem por 80% do consumo de aço. Dentre os três, a construção é que sugere melhora mais intensa em 2018. Mesmo assim, porque sai de patamar muito baixo.
As vendas de 2018 da siderurgia devem crescer 4,1% em relação a 2017, estima o instituto, enquanto a produção deve subir 4,9%. As vendas de aço cresceram 1,2% em 2017, de acordo com a entidade, mas com grande participação das importações, que cresceram 33% em relação a 2016. A presença do aço importado teve aumento foi de 33% no mercado brasileiro, na comparação com o ano anterior. As importações já respondem por cerca de 15% do consumo aparente.
De acordo com o executivo, a recuperação só será efetiva com a retomada dos investimentos em infraestrutura. Ele aponta a indústria de óleo e gás como um potencial consumidor do aço brasileiro, que pode deixar de impulsionar o setor caso o governo insista em abrandar a exigência de conteúdo local nos projetos de exploração. De acordo com o Aço Brasil, o país está estacionado no consumo per capita de 86 kg de aço por ano, enquanto em países desenvolvidos o índice é superior a 450 kg por habitante/ano. "Em 1980, a China consumia 34 kg por habitante/ano e o Brasil, 100. Hoje a China consome mais de 500 kg per capita ano."
Para a indústria de base, 2017 não termina bem devido ao baixo nível de investimentos em infraestrutura, em torno de 1,5% do PIB ao ano, afirma Venilton Tadini, presidente da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib). "O nível de investimento [em infraestrutura] é o mais baixo da década, em torno de 1,5% do PIB, com grande participação do setor privado. O país está perto do limite", diz. "Apenas para repor a depreciação, o investimento teria de ser 3% do PIB por ano."
Este ano, diz, 60% dos investimentos foram privados, mas o setor privado "não consegue ser predominante em infraestrutura, porque muitos projetos não têm retorno economicamente viável". Para ele, a criação do teto de gastos do governo tende a complicar a situação, porque, sem reformas institucionais, as despesas obrigatórias continuam elevadas, levando o governo a cortar ainda mais o investimento.
Já o setor de papelão, importante indicador de tendência para o consumo, aposta em expansão de 3,5% para 2018, acima dos 3% previstos pelo Ministério da Fazenda para o PIB, graças à volta do consumo das famílias como "sustentáculo da economia", afirma Gabriela Michelucci, presidente da Associação Brasileira do Papelão Ondulado (ABPO). Segundo ela, o setor termina 2017 com crescimento aproximado de 5% e, com isso, supera as perdas de 2015 e 2016 e volta aos níveis de 2014, ritmo que a ABPO considera "sustentável".
O crescimento de 2018 será menor porque a base de comparação, antes baixa, tornou-se mais robusta. Além disso, o setor não terá, como em 2017, um crescimento intenso do setor agrícola. Gabriela afirma que também o setor de eletrônicos registrou uma melhora a partir do terceiro trimestre, ocasião em que a Black Friday teve participação importante. Para o próximo ano, a indústria de papelão espera participação importante nas vendas de eletrônicos, por conta do tradicional aumento de vendas de TVs em ano de Copa do Mundo. Fora isso, o crescimento deve ser linear nas várias categorias que o setor atende.
Na indústria química, o faturamento em reais cresceu 1,2% em 2017, mas, segundo Fernando Figueiredo, presidente da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), o crescimento "se deu pelo aumento dos importados". De acordo com a entidade, a participação dos importados passou da média de 32% a 33% para 38% neste ano, "porque a produção brasileira não é competitiva".
Figueiredo atribuiu o problema ao custo da matéria-prima e da energia no Brasil, mais alto que nos demais países produtores. No ano, a produção cresceu 0,9% em relação a 2016. Para 2018, o setor espera crescer 1,25 para cada ponto percentual de aumento do PIB, conforme a média histórica dos últimos 20 anos. Segundo Figueiredo, a ampliação de capacidade não virá devido à falta de competitividade. A Abiquim estima que as 150 empresas do setor devem investir R$ 700 milhões em 2018, o que representa apenas manutenção do atual parque produtivo.
Para a construção civil, o ano de 2017 ficou "bem aquém das expectativas", afirma o presidente do Sindicato da Indústria da Construção do Estado de São Paulo (Sinduscon-SP), José Romeu Ferraz Neto. O setor teve queda de 20% em três anos, disse. "Para 2018 a expectativa está atrelada ao crescimento da economia como um todo. Para isso, é vital a reforma da Previdência. Se ela ocorrer, pode-se ter alguma melhoria", diz.
Segundo ele, o ano eleitoral deve ajudar com obras públicas apenas nos municípios, já que União e Estados não poderão fazer grandes investimentos novos devido à lei eleitoral. "Trabalhamos com crescimento de 2% para o setor e 2,5% para o país. Se a projeção do governo se confirmar em 3%, podemos crescer um pouco mais", diz.
Para Ferraz Neto, o setor deve demorar de três a quatro anos para recuperar as perdas da recessão com o nível de atividade e de emprego. A construção cortou 1,3 milhão de trabalhadores nos últimos três anos, quase um terço da mão de obra empregada no setor.