29/12/17 11h24

Setor de máquinas projeta puxar retomada industrial

Valor Econômico

A maior parte dos principais setores da indústria deve engatar recuperação mais robusta em 2018, mas nenhum deles espera se desgarrar mais da média projetada para o Produto Interno Bruto (PIB) do que o segmento de máquinas. Depois de perder 45% do faturamento desde 2013 e encolher 3% em 2017, os fabricantes de bens de capital projetam expansão de 5% a 8% em 2018, maior variação entre os vários setores ouvidos pelo Valor.

São dois os motivos da previsão otimista: baixa base de comparação e retomada dos investimentos, diz José Velloso Dias Cardoso, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq). Ainda assim, afirma, a retomada dos investimentos se dará mais em função dos gargalos acumulados na economia após três anos de recessão.

O setor de máquinas faturou cerca de R$ 70 bilhões em 2017 - ante R$ 121 bilhões em 2013. A exportação respondeu por 41% do faturamento em 2016 e 2017. A venda de máquinas representa 12% de toda a exportação industrial brasileira. Em 2017, o consumo aparente (produção mais importações, menos exportações) diminuiu 20% e só não caiu mais porque o setor de máquinas agrícolas cresceu 8%.

Para que a projeção da Abimaq para 2018 se confirme serão necessárias algumas condições, afirma Velloso: a aprovação das reformas, principalmente a da Previdência e a tributária, "a mais importante para o setor produtivo", a manutenção de taxa de juro real baixa e a retomada da oferta de crédito.

Segundo Velloso, uma empresa de médio porte que queira crédito para investir hoje está sujeita a um juro de 15% ao ano pelo programa Finame, do BNDES. Ele considera a taxa alta demais para uma inflação anualizada de apenas 3% e um retorno de investimento que não chega nem perto da rentabilidade do mercado financeiro.

Além do segmento de máquinas, outra indústria que está otimista é a do alumínio. O setor esperava encerrar 2017 em estabilidade, mas termina o ano com expansão projetada de 5%, de acordo com a Associação Brasileira do Alumínio (Abal). Baseado no crescimento histórico de 1,25 ponto para cada ponto percentual de aumento do PIB, o setor espera crescer entre 5% e 6%, afirma o presidente da entidade, Milton Rego.

O otimismo tem mais um componente além da recuperação da economia. O setor vem sendo favorecido pela tendência de substituição do aço por alumínio na produção de automóveis, carrocerias e embalagens. "Como houve crescimento da produção de veículos este ano, a recuperação ocorreu", diz Rego. O consumo de alumínio no setor de transporte cresceu 13% neste trimestre.

A indústria de alumínio vinha trabalhando sem estoques durante a crise. A retomada agora se dá não só pelo aumento do consumo, mas também pela formação de estoques, afirma o executivo. Rego diz que o crescimento deste ano e de 2018 não devolvem a indústria ao nível pré-crise. "O setor recuou dez anos em consumo nesses três anos de recessão." Para recompor o que perdeu seria preciso crescer mais dois anos a 5%, 6% ao ano.

Também a siderurgia não deve recuperar três anos de recessão no curto prazo, estima o presidente do Instituto Aço Brasil, Marco Polo de Mello Lopes. De 2013 a 2016, a produção caiu 8,5%, enquanto as vendas recuaram 32% e o consumo, 35%. O dado exclui do cálculo a Companhia Siderúrgica de Pecém (CSP), em operação há um ano e meio, mas cuja produção é 100% voltada à exportação.

Para Mello Lopes, "uma série de ações positivas e corajosas neste ano deve levar a resultados concretos em 2018". Essas ações devem se refletir nos três setores mais importantes para a siderurgia: construção, automóveis e máquinas e equipamentos. Juntos, respondem por 80% do consumo de aço. Dentre os três, a construção é que sugere melhora mais intensa em 2018. Mesmo assim, porque sai de patamar muito baixo.

As vendas de 2018 da siderurgia devem crescer 4,1% em relação a 2017, estima o instituto, enquanto a produção deve subir 4,9%. As vendas de aço cresceram 1,2% em 2017, de acordo com a entidade, mas com grande participação das importações, que cresceram 33% em relação a 2016. A presença do aço importado teve aumento foi de 33% no mercado brasileiro, na comparação com o ano anterior. As importações já respondem por cerca de 15% do consumo aparente.

De acordo com o executivo, a recuperação só será efetiva com a retomada dos investimentos em infraestrutura. Ele aponta a indústria de óleo e gás como um potencial consumidor do aço brasileiro, que pode deixar de impulsionar o setor caso o governo insista em abrandar a exigência de conteúdo local nos projetos de exploração. De acordo com o Aço Brasil, o país está estacionado no consumo per capita de 86 kg de aço por ano, enquanto em países desenvolvidos o índice é superior a 450 kg por habitante/ano. "Em 1980, a China consumia 34 kg por habitante/ano e o Brasil, 100. Hoje a China consome mais de 500 kg per capita ano."

Para a indústria de base, 2017 não termina bem devido ao baixo nível de investimentos em infraestrutura, em torno de 1,5% do PIB ao ano, afirma Venilton Tadini, presidente da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib). "O nível de investimento [em infraestrutura] é o mais baixo da década, em torno de 1,5% do PIB, com grande participação do setor privado. O país está perto do limite", diz. "Apenas para repor a depreciação, o investimento teria de ser 3% do PIB por ano."

Este ano, diz, 60% dos investimentos foram privados, mas o setor privado "não consegue ser predominante em infraestrutura, porque muitos projetos não têm retorno economicamente viável". Para ele, a criação do teto de gastos do governo tende a complicar a situação, porque, sem reformas institucionais, as despesas obrigatórias continuam elevadas, levando o governo a cortar ainda mais o investimento.

Já o setor de papelão, importante indicador de tendência para o consumo, aposta em expansão de 3,5% para 2018, acima dos 3% previstos pelo Ministério da Fazenda para o PIB, graças à volta do consumo das famílias como "sustentáculo da economia", afirma Gabriela Michelucci, presidente da Associação Brasileira do Papelão Ondulado (ABPO). Segundo ela, o setor termina 2017 com crescimento aproximado de 5% e, com isso, supera as perdas de 2015 e 2016 e volta aos níveis de 2014, ritmo que a ABPO considera "sustentável".

O crescimento de 2018 será menor porque a base de comparação, antes baixa, tornou-se mais robusta. Além disso, o setor não terá, como em 2017, um crescimento intenso do setor agrícola. Gabriela afirma que também o setor de eletrônicos registrou uma melhora a partir do terceiro trimestre, ocasião em que a Black Friday teve participação importante. Para o próximo ano, a indústria de papelão espera participação importante nas vendas de eletrônicos, por conta do tradicional aumento de vendas de TVs em ano de Copa do Mundo. Fora isso, o crescimento deve ser linear nas várias categorias que o setor atende.

Na indústria química, o faturamento em reais cresceu 1,2% em 2017, mas, segundo Fernando Figueiredo, presidente da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), o crescimento "se deu pelo aumento dos importados". De acordo com a entidade, a participação dos importados passou da média de 32% a 33% para 38% neste ano, "porque a produção brasileira não é competitiva".

Figueiredo atribuiu o problema ao custo da matéria-prima e da energia no Brasil, mais alto que nos demais países produtores. No ano, a produção cresceu 0,9% em relação a 2016. Para 2018, o setor espera crescer 1,25 para cada ponto percentual de aumento do PIB, conforme a média histórica dos últimos 20 anos. Segundo Figueiredo, a ampliação de capacidade não virá devido à falta de competitividade. A Abiquim estima que as 150 empresas do setor devem investir R$ 700 milhões em 2018, o que representa apenas manutenção do atual parque produtivo.

Para a construção civil, o ano de 2017 ficou "bem aquém das expectativas", afirma o presidente do Sindicato da Indústria da Construção do Estado de São Paulo (Sinduscon-SP), José Romeu Ferraz Neto. O setor teve queda de 20% em três anos, disse. "Para 2018 a expectativa está atrelada ao crescimento da economia como um todo. Para isso, é vital a reforma da Previdência. Se ela ocorrer, pode-se ter alguma melhoria", diz.

Segundo ele, o ano eleitoral deve ajudar com obras públicas apenas nos municípios, já que União e Estados não poderão fazer grandes investimentos novos devido à lei eleitoral. "Trabalhamos com crescimento de 2% para o setor e 2,5% para o país. Se a projeção do governo se confirmar em 3%, podemos crescer um pouco mais", diz.

Para Ferraz Neto, o setor deve demorar de três a quatro anos para recuperar as perdas da recessão com o nível de atividade e de emprego. A construção cortou 1,3 milhão de trabalhadores nos últimos três anos, quase um terço da mão de obra empregada no setor.