31/05/10 11h14

São Martinho acelera plano de expansão

Valor Econômico

Em 2008, quando definiu seu último plano estratégico de crescimento, o grupo São Martinho previa atingir em 2020 uma capacidade de moagem de 30 milhões de toneladas de cana-de-açucar, ante as 14 milhões a 15 milhões atuais. O aumento garantiria uma participação de mercado de 2,5% a 3%, considerando-se as projeções de moagem de 900 milhões de toneladas no país no fim desta década. Mas as profundas mudanças ocorridas no segmento do ano passado para cá, marcadas por investimentos de novos players - inclusive petroleiras -, e forte consolidação, motivou a revisão do planejamento. A forma como a São Martinho atua não vai mudar, mas alguns projetos deverão ser concretizados mais rapidamente.

Mas isso não significa, afirma Fábio Venturelli, CEO do grupo, que a São Martinho vai entrar em uma corrida desenfreada para crescer, como aconteceu com alguns grupos do segmento no passado recente e que, em alguns casos, gerou mais problemas do que soluções. No entanto, continua, pisar no acelerador é, agora, "totalmente prioritário". Venturelli se refere aos três pilares sobre os quais se sustentam o plano de crescimento da empresa. Entre eles está a expansão da capacidade instalada propriamente dita, que parte dos ativos existentes, mas avança também em outras frentes. A unidade goiana da São Martinho, a Boa Vista, está em obras para expandir a capacidade de 2,5 milhões de toneladas para 4 milhões no curto prazo. Mas o objetivo, segundo o CEO, é que ela chegue a entre 7 milhões e 8 milhões de toneladas. "A estratégia passará, ainda, por construção de novas usinas, aquisições e parcerias estratégicas. Será uma combinação de todos estes elementos. Antes do fim deste ano teremos este horizonte pavimentado".

Num ano em que quase todas as empresas do ramo foram afetadas pelas chuvas durante a moagem, o grupo São Martinho conseguiu moer mais do que em 2009 e bater recordes de processamento na usina que leva seu nome - a maior do mundo -, com 8 milhões de toneladas. A empresa conseguiu maximizar produção de açúcar, que subiu 26,5%, para aproveitar os preços internacionais que atingiram patamares recordes. Apesar de ser um ano de turbulências nos mercados, a São Martinho reduziu o endividamento, fechando os últimos 12 meses com uma relação dívida líquida equivalendo a 2,97 vezes o Ebitda.

Nesse sentido, Venturelli afirmou que o crescimento terá que ocorrer em um modelo que replique o desempenho atual. A diversificação de produtos, sobretudo os de maior valor agregado, também é uma das vertentes da empresa. O principal passo dessa estratégia foi a joint venture com a Amyris Biotechnologies, parceria que tende a extrapolar a fronteira de especialidades químicas produzidas a partir do caldo da cana e avançar em pesquisas de novos combustíveis produzidos a partir da mesma matéria-prima.

A logística, segundo pilar de crescimento, está no prumo com a expansão do terminal ferroviário localizado dentro da fazenda onde está a usina São Martinho. Ali, a capacidade de transporte passará de 800 mil toneladas de açúcar para até 3 milhões, em uma parceria com a Rumo Logística, controlada pela Cosan, o maior grupo do setor do mundo. O projeto vai ampliar o acesso da São Martinho aos trilhos da ALL, com a qual a Cosan mantém contrato de longo prazo, e aos próprios terminais açucareiros da Cosan no porto de Santos.

Até o fim de agosto, a companhia deverá anunciar o montante de investimentos necessário para ampliar a capacidade do terminal. Mas, segundo Venturelli, trata-se de um valor entre R$ 20 milhões (US$ 11 milhões) e R$ 50 milhões (US$ 27,8 milhões). A empresa também pretende tocar, ainda sem prazo anunciado, a construção do terminal hidroviário do porto de São Simão, em Goiás, próximo da Usina Boa Vista, a mais nova unidade em construção do grupo. A intenção, segundo Venturelli, é sair de barcaças com etanol de São Simão, cruzar uma parte de Minas Gerais, e chegar ao município de Conchas, no interior de São Paulo. Ele afirma que a companhia já tem todas as licenças para operar, mas a data da construção do terminal no porto goiano ainda não está definida. "A economia no custo do transporte pode chegar a 20%", diz Venturelli.