Santos Brasil investe R$ 2,6 bilhões para ampliar capacidade no Porto de Santos até 2026
Inovações tecnológicas e sustentabilidade impulsionam eficiência operacional; confira entrevista com Ricardo Miranda, diretor de Tecnologia da empresa
A TribunaA meta da Santos Brasil é ampliar a capacidade do Tecon Santos, no Porto de Santos, dos atuais 2,4 milhões de TEU (contêiner padrão de 20 pés) para 3 milhões até 2026. Para isso, reservou R$ 2,6 bilhões e já investiu R$ 1,3 bilhão. Em 2024, a companhia está injetando R$ 420 milhões, elevando a capacidade para 2,6 milhões de TEU. Contudo, além de equipamentos e obras de pátio, o crescimento do maior terminal de contêineres da América Latina está vinculado à tecnologia. Em entrevista para A Tribuna, o diretor de Tecnologia da Santos Brasil, Ricardo Miranda, explicou de que forma a inovação tecnológica e a sustentabilidade contribuirão para a eficiência operacional e melhores condições de trabalho e segurança.
O plano de investimentos da Santos Brasil inclui quais tecnologias?
O nível de digitalização dos terminais já é bastante avançado com o uso de IoT (internet das coisas em português), inteligência artificial, realidade aumentada, digital twin (gêmeo digital), vídeo analítico e automação. A nuvem pode ser um acelerador da inovação e quase 40% do nosso processamento é executado remotamente. Devemos passar de 50% em 2025. Estamos adotando ferramentas que mudam a rotina do trabalho, democratizando tecnologias de análise de dados e assistentes pessoais (IA generativa).
A Santos Brasil está operando remotamente os RTGs (guindastes de pátio) elétricos?
Sim, somos pioneiros no Brasil na operação de equipamentos 100% elétricos e operados a distância. Atualmente, 47 RTGs operam no terminal, sendo 39 a diesel, que serão desmobilizados até 2031, e oito elétricos. Já foram encomendados mais oito elétricos. Essa nova geração de guindastes possui mecanismos avançados de segurança com câmeras, laser scanners e sensores.
É mais seguro para os trabalhadores?
Eles saem de um ambiente de trabalho hostil e solitário para um ambiente ‘padrão escritório’. Os operadores não precisam mais subir 120 degraus para chegarem à cabine de comando do equipamento. Acabam as restrições físicas para a seleção dos operadores. Sem essa tecnologia, por exemplo, seria inimaginável uma mulher grávida operar um guindaste. Agora é possível. E com a operação remota, há um ganho de produtividade. É possível operar o equipamento sentado e em pé, já que as mesas de controle remoto contam com regulagem de altura. Além disso, o ambiente controlado proporciona menor risco de doenças ocupacionais.
Quais tecnologias serão implementadas?
As tecnologias digitais não andam sozinhas, investimos também nas clássicas como ERP (Enterprise Resource Planning - Planejamento de Recursos Empresariais em português) e CRM (Customer Relationship Management - Gestão de Relacionamento com o Cliente), além de infraestrutura On-Premises e na nuvem. Buscamos equilíbrio na integração de máquinas, pessoas e tecnologias. Em 2025, pretendemos adotar estações de simulação para o treinamento de operadores e utilizar 5G privado no pátio de contêineres.
Qual é o custo-benefício?
Além dos cálculos financeiros, temos benefícios não mensuráveis. No caso dos e-RTG, valorizamos o bem-estar dos operadores. Além disso, cada equipamento elétrico evita a emissão de cerca de 20 toneladas de CO2 por mês no meio ambiente. A tecnologia traz produtividade e regularidade às nossas operações, além de ser um componente importante para alcançarmos nossa meta estratégica de sermos Net Zero até 2040. A substituição de todos os RTGs movidos a diesel, inclusive, está entre as medidas de maior impacto para alcançarmos esse objetivo.
Como é retorno do investimento em inovação?
Podemos capturar os benefícios dentro do ano ou de forma mais prolongada no tempo. Estações de simulação para treinamento, por exemplo, têm um retorno de investimento de curto prazo. Os investimentos que fizemos em conectividade, onde migramos nossa rede de dados para a tecnologia SD-WAN (Software Defined Network), começamos a colher os frutos financeiros nos anos seguintes. Também investimos em mitigação de riscos, como segurança cibernética. Além de tecnologia, temos questões de infraestrutura das vias públicas no entorno do porto, regras trabalhistas, níveis de automação, alinhamento de marés e profundidade do canal. Tecnologias digitais e operacionais (IT e OT) são sempre fatores relevantes para aumentar a competitividade dos portos.