Santos, a capital dos contêineres: eles trazem cargas, geram empregos, e movimentam a economia
Pelo complexo santista, hoje, passam cerca de 40% de todos os contêineres movimentados no Brasil
A TribunaO contêiner é uma instituição em qualquer porto quando o assunto é carga. Em Santos, não é diferente. No primeiro semestre deste ano, o complexo portuário santista, o principal do Brasil e da América Latina, movimentou 1,85 milhão de TEU (unidade equivalente a um contêiner de 20 pés). Ao longo de 2022, foram 4,9 milhões de TEU. Os dados, fornecidos pela Autoridade Portuária de Santos (APS), atestam a imensidão com a qual convivem diariamente os quatro terminais especializados.
O diretor executivo da Associação Brasileira dos Terminais de Contêineres (Abratec), Caio Morel, atesta a importância de Santos para os contêineres com outro dado: pelo complexo santista, hoje, passam cerca de 40% de todos os contêineres movimentados no Brasil.
"O transporte de mercadorias de alto valor agregado em contêineres constitui a expressão máxima da globalização das trocas mundiais, que tem na economia brasileira um de seus grandes players. O Porto de Santos representa o verdadeiro catalizador do setor produtivo paulista, o mais importante do País".
Para combinar com esse autêntico universo, há uma variada cadeia de empregos. Este tema, por sinal, foi abordado na 2ª edição do Summit Porto-Indústria, promovido pelo Grupo Tribuna no começo do mês. Com isso, ficaram apenas nas fotografias as cenas de estivadores carregando sacos de café nas costas e acomodando a carga nos navios, como explica Leandro Carelli Barreto, especialista em transporte marítimo de contêineres e sócio da Solve Shipping.
“Embora a gente não veja mais dezenas de estivadores a bordo, os porões dos navios e as embarcações são muito maiores do que antigamente. O volume de exportação e importação no Brasil também aumentou. Surgiram diversas empresas, como as de agenciamento de cargas, de manutenção e reparo, terminais para estufagem, os retroportuários e outros empregos em cascata, agilizando a operação desses navios, em mais quantidade do que na época pré-contêiner”.
Variedade e reindustrialização
A diversificação também se aplica para as cargas de contêineres: café, carnes, produtos químicos, frutas frescas e outros alimentos perecíveis, peças para veículos, pneus, eletroeletrônicos e muitos outros. Há ainda soja em grão, açúcar, celulose, farelo de soja, milho e sucos cítricos. Essas cargas são operadas, em sua maioria, por outras modalidades, como a granel, em sacos ou solta.
“Antes, você tinha pouca previsibilidade e rastreabilidade da carga desde o embarque até o destino. Hoje, as empresas sabem exatamente desde o dia em que se colhe a manga no pé até a data em que a carga chegará ao terminal para embarcar e chegar nas prateleiras na Europa. Há um processo de digitalização e de planejamento proporcionado pelos contêineres para diversos setores e, cada vez, mais, se tornam importantes no sucesso para viabilizar novos negócios”, detalha o especialista.
Para a realidade econômica melhorar ainda mais, é necessário aumentar o valor agregado das exportações brasileiras, afirma Barreto. “Atualmente, o valor médio da tonelada da carga importada pelo Brasil em contêineres gira em torno de US$ 5 mil a US$ 6 mil, enquanto o valor médio da tonelada exportada pelo País está em US$ 1,5 mil. Estamos exportando produtos com baixo valor agregado e importando artigos de alto valor agreagado, como eletrônicos, peças de automóveis e maquinários”.
O quadro, aparentemente negativo, é visto pelo especialista como algo positivo. “É uma oportunidade que o Brasil tem de não só exportar o algodão, mas também roupas. Em vez de exportar a madeira, fazer isso com o móvel. É uma chance de reindustrialização. Há muito tempo, o setor produtivo demandava uma reforma tributária para que isso ocorresse e vemos esse tópico avançando, destravando amarras para que possamos virar esse jogo, exportando produtos com maior valor agregado”.
E o futuro?
Quando o assunto é o futuro do contêiner e do transporte de cargas, o céu é o limite. Tanto Morel quanto Barreto destacam pontos positivos a serem explorados e muito do que se projeta passa por sustentabilidade e tecnologia.
"O futuro do Porto de Santos é bastante promissor, pois o Brasil tende a crescer sua participação no comércio internacional, onde ocupa a 26ª posição, apesar de ser a 12ª maior economia do mundo. Especial atenção deve ser dada por toda a sociedade, incluindo o setor público e os investidores, para os investimentos em infraestrutura e expansão de capacidade necessários a atender a demanda por crescimento e manter Santos como maior porto da América Latina", destaca o diretor executivo da Abratec.
Para Barreto, o setor vive um momento único, voltado à descarbonização e mirando a redução drástica das emissões de gases do efeito estufa. "Com certeza, essa é uma das pautas que vai dominar o setor, mas ele está se desenvolvendo muito no que diz respeito à tecnologia, com o surgimento de novas tendências e demandas. Com isso, vão aparecer novas oportunidades para quem estiver ligado nessa evolução e se antecipar”.
O especialista observa que, atualmente, as empresas têm utilizado cada vez mais a tecnologia, desde a cotação do frete, a instrução de embarque, passando por todo o desembaraço e a rastreabilidade. “Cada vez mais esse setor vai demandar profissionais, como programadores, aptos a trabalhar para conferir agilidade nas entregas e recebimentos de cargas. Não adianta só armadores, terminais e empresas de transporte terrestre investirem em tecnologia. É muito importante que as pessoas se capacitem para surfar junto nessa onda”.