Saab firma contrato de fornecimento de caças com governo
Valor EconômicoApós cinco anos de espera pelo desfecho da disputa pelo fornecimento de aeronaves de combate ao programa F-X2, da Força Aérea Brasileira (FAB), a empresa sueca Saab anunciou ontem a assinatura do contrato de venda de 36 caças supersônicos Gripen NG. O valor total do pedido, segundo informou a empresa, é de aproximadamente SEK 39,3 bilhões - cerca de US$ 5,4 bilhões. O montante, segundo a Saab, também inclui simulador de voo, suporte logístico inicial e armamentos.
O contrato de aquisição e o acordo de compensação industrial e tecnológica ("offset") foram assinados em 24 de outubro, conforme antecipou o Valor no dia 2 deste mês.
O Projeto F-X2 buscou a padronização das frotas da aviação de caça brasileira, responsável pela defesa do espaço aéreo do país. O Gripen NG substituirá os Mirage F-2000, F-5M e AMX, cuja vida útil acaba a partir de 2015, 2021 e 2023, respectivamente.
Considerando a orientação estratégica da área de defesa, o projeto F-X2 prevê a aquisição de um total de 100 aeronaves. O contrato inicial de 36 aeronaves, segundo o presidente da Copac (Comissão Coordenadora do Programa Aeronave de Combate), brigadeiro, José Augusto Crepaldi Affonso, servirá como base para futuras negociações.
A assinatura do contrato de aquisição, segundo o brigadeiro, tinha como condição a assinatura do acordo de offset. "As principais parcerias industriais e tecnológicas já estavam delineadas desde a apresentação do relatório final, em 2010. O que houve agora foi uma atualização e confirmação das atividades de cada um dos parceiros nacionais", explicou.
A Embraer Defesa & Segurança, Odebrecht Defesa & Tecnologia, Inbra Aerospace, Ael Sistemas e Akaer são as principais parceiras da Saab no programa de desenvolvimento do Gripen NG para a FAB. "O projeto vai possibilitar ao nosso parque industrial um novo salto tecnológico, mas agora em um cenário mais específico, porque o nível de maturidade tecnológico e industrial atual está mais avançado", disse.
Cada indústria beneficiada, todavia, segundo ele, será capaz de assimilar tecnologias e conhecimentos que garantirão mais competência e competitividade no cenário nacional e mundial.
Sobre o contrato de financiamento dos caças, o brigadeiro disse que o processo corre conforme o previsto e sendo analisado pelas autoridades competentes. A aprovação do contrato está prevista para o próximo ano. "Estamos orgulhosos de estar lado a lado com o Brasil nesse importante programa. Já existe uma longa história de sucesso da cooperação industrial entre os dois países, e este acordo histórico leva essa parceria a um novo nível", disse em nota o presidente do conselho de administração da Saab, Marcus Wallenberg.
O presidente e CEO da Saab, Håkan Buskhe, ressaltou que o contrato com o Brasil fortalece a posição da Saab como produtor de aviões de caça líder mundial, assim como reforça e a plataforma de crescimento da companhia.
O presidente da Copac destacou ainda que todo o processo do F-X2 foi alicerçado em duas premissas básicas: dotar a FAB de uma moderna aeronave de caça multi-emprego e capacitar a indústria nacional no desenvolvimento e produção de um futuro caça de quinta geração.
O diretor da divisão aeronáutica da Saab, Lennart Sindahl, disse que a montagem final de 15 dos 36 caças supersônicos Gripen NG, será feita no Brasil, nas instalações da Embraer, principal parceira da Saab no projeto.
O contrato firmado entre o Comando da Aeronáutica e a Saab, segundo Crepaldi, não prevê solução intermediária de antecipação de aeronaves Gripen da versão atual. "Esta solução foi oferecida pelo governo sueco e está sendo negociada diretamente entre os dois governos, sem nenhum caráter comercial". Segundo ele, não há nenhuma definição em relação ao número de aeronaves e aos custos relacionados. "Essa discussão ainda está na fase de viabilidade de projeto".
O caça foi selecionado pela FAB em 18 de dezembro de 2013. O processo de seleção para o novo avião de combate da FAB, foi iniciado em 1995. Em 2009, o ex-presidente Lula chegou a anunciar a escolha do caça francês Rafale como vencedor da concorrência, durante visita do então presidente da França, Nicolas Sarkozy, mas o governo acabou recuando, pois não houve consulta à FAB, que já teria uma análise técnica que favorecia o avião sueco.
A Boeing ficou perto de ganhar o contrato depois que se aproximou da Embraer, com quem fechou uma parceria na área de defesa, mas o escândalo de espionagem da Agência Nacional de Segurança norte-americana tirou as chances políticas do negócio.
O Gripen NG, da Saab, que era bastante criticado por ainda ser um produto em desenvolvimento e com menor alcance, voltou à condição de favorito na disputa, com a proposta de desenvolvimento conjunto com a indústria brasileira do setor e de ampla transferência de tecnologia.