15/09/15 14h47

Roteiro seguido à risca

Com investimento de R$300 milhões, Braspress vai quadruplicar sua capacidade de armazenamento

Valor Econômico

O raciocínio claro, a precisão nas palavras e os modos gentis não escondem o estilo competitivo e o ritmo incansável do mineiro Urubatan Helou, dono da Braspress. Sua liderança sobre os 8,6 mil colaboradores, 6 mil funcionários diretos, é percebida no modo como as coisa acontecem dentro da empresa que realiza 18 mil coletas por dia e 60 mil entregas diárias, o que significa mais de 1 milhão de despachos no mês.

“Eu trabalho 24 horas por dia. E meus executivos também. Se eu preciso, ligo para eles a qualquer hora. Não tem problema interromper o sono. Sempre digo que 100% de esforço é o que nossos concorrentes estão dando. Se fizermos o mesmo. empatamos, mas estamos aqui para vencer”, destaca. Anualmente, os caminhões da Braspress rodam cerca de 96 milhões de quilômetros. Consumindo cerca de 20 milhões de litros de combustível.

Todos os dias na hora do almoço Helou deixa sua sala no escritório de São Paulo, na zona norte da capital, e vai para a mesa redonda que fica nunca canto do refeitório dos funcionários. É lá que a diretoria religiosamente se reúne para almoçar – todos vão chegando logo depois do chefe e existe uma ordem certa em torno da grande mesa. Ao lado direito de Urubatan, seus filhos Tayguara e Urubatan Júnior. Ao lado esquerdo, os diretores comercial e financeiro. Depois vêm o sócio e melhor amigo, Milton Petri, e os demais diretores.

Torcedor do Santos, filho de comunista perseguido nos anos 1960, leitos do conservador João Pereira Coutinho, Helou cerca=se de seus executivos de confiança para controlar as várias empresas que formam a “organização”, como ele gosta de se referir aos seus negócios. Uma empresa no setor imobiliário, uma empresa logística, um banco e uma empresa que consolida o transporte rodoviário com o aéreo. Todas existem para apoiar o sucesso da Braspress.

Na transportadora, são 95 filiais em todos os Estados. Mais de 1,8 mil veículos próprios e um contingente de 350 caminhões chamados agregados. Neste ano, a Braspress se prepara para inaugurar nova sede em Guarulhos (SP), com 250 mil metros quadrados de área construída. Serão investidos R$ 300 milhões, sendo R$ 190 milhões de recursos próprios e R$ 110 milhões captados no mercado.

“Vamos quadruplicar nossa capacidade instalada”, afirma o empresário, que prevê para 2015 repetir os R$ 900 milhões faturados em 2014. “Este ano poderia ter sido pior se não tivéssemos sido extremamente agressivos em nossa política comercial”, observa.

A empresa foi fundada em 1977, quando Helou saiu de uma antiga sociedade especializada no transporte para a indústria cinematográfica. Da paixão pelo cinema trouxe o nome da empresa nova, que deveria ser Brasil Express. A ideia do nome é em homenagem ao romance de Agatha Cristir, "Assassinato no Expresso Oriente", que virou filme estrelado por Peter Ustinov.

Desde o inicio, Helou deu muito importância à questão da tecnologia. Ele afirma que a Braspress foi a primeira empresa do Brsil a ter telemetria em todos os veículos e simulador de direção para os motoristas. Hoje, sua central de monitoramento apresenta uma visão instantânea e precisa de cada um dos milhares de caminhões redando pelo país. Uma equipe se reveza 24 horas por dia para resolver questões que vão de um pneu furado a falhas mecânicas.

“Quando implementamos a telemetria e o simulador, eu disse a minha equipe que, se conseguíssemos evitar pelo menos um acidente o investimento estaria pago”, conta. Ele ainda se emociona ao se lembrar de acidentes fatais que, segundo diz, o fazem repensar todo o negócio, “Já tivemos acidente em que morreram oito pessoas. Isso é muito difícil. Dá vontade de parar tudo, porque não estamos nesse negócio para causar transtorno à vida das pessoas. AO contrário.”

A tecnologia está presente na segurança, mas também na organização dos despachos. A Braspress acaba de comprar mais um “sorter” para equipar nova sede. Trata-se de uma esteira “inteligente” que, a partir da leitura dos códigos de barra nas embalagens, é capaz de dirigir cada pacote para o caminhão que o levará a seu destino. A sede do Rio de Janeiro abriga, segundo Helou, um dos maiores sistemas informatizados de organização de despachos de toda a América Latina.

Para estimular as 95 filiais a conseguirem melhores resultados, sempre o empresário criou um jogo de conservação da frita. A partir de dados reais, as filiais são comparadas em itens que dizem respeito aos cuidados com os veículos e, anualmente, as três melhores são premiadas. “Ao mesmo tempo que exigimos um comprometimento do colaborador, tomamos muito cuidado para evitar que a competição não vire um assédio, porque as piores filiais acabam expostas”, explica.

Com toda a engrenagem ficada nos bons resultados, a Braspress encontra tempo e recursos para realizar trabalhos voluntários. Todos os meses são feitas dezenas de transportes gratuitos para casas assistenciais, organizações não governamentais (ONGs) e hospitais. Além disso, a empresa organiza doações e apoia numerosas iniciativas sociais.
“Sendo bem honesto, nunca é agradável ter um caminhão parado na porta de casa, porque sempre faz barulho e produz fumaça”, admite. “Então, por que não torna-lo um pouco mais útil à vida das pessoas?”, justifica.

Foi a partir desta lógica que nos anos 1990 Helou decidiu apoiar campanhas voltadas para encontrar pessoas desaparecidas. Uma das medidas adotadas for mandar imprimir fotos com os rostos dessas pessoas nas carrocerias dos caminhões da Brapress que circulam pelo país. Agora, em 2015, pela primeira vez, uma pessoa foi encontrada graças à foto na lataria de uma caminhão das Braspress. Silvio Cesar Corraini, morador de São Paulo, desaparecido em 2011, foi encontrado bem longe de casa. Sua foto foi reconhecida por responsáveis pelo Grupo de Apoio a Alcóolicos Anônimos da Igreja de São Francisco, em Serra (ES), onde Silvio foi acolhido três meses antes.