RMC ganha força e abre espaços no setor do agronegócio
Na contramão das exportações, que sentiram o impacto da crise e recuaram 15%, o volume de vendas de produtos agrícolas e pecuários para outros países aumentou 50% em cinco anos
Correio PopularEmbora a Região Metropolitana de Campinas (RMC) seja predominantemente industrial, o setor do agronegócio vem ganhando espaço. O volume financeiro das exportações do setor cresceu 50% em cinco anos, saltando de US$ 345,9 milhões em 2010 para US$ 518,9 milhões no ano passado.
A expansão vai na contramão das exportações em geral da RMC, que foram afetadas pela crise da economia mundial e no mesmo período tiveram queda de 15%. Apesar de ainda representar uma parcela pequena do comércio com o exterior, a participação do agronegócio no total das exportações também teve alta nos últimos anos. Em 2010, a venda de produtos agrícolas e agropecuárias para o Exterior representava 6,7% das exportações, e no último ano atingiu 11,8%. O levantamento foi realizado pelo Observatório de Indicadores Metropolitanos, com base em dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.
Principal gerador de divisas cambiais do Brasil, com negociações anuais que ultrapassam US$ 20 bilhões, complexo de soja (grão, farelo e óleo) obteve a maior participação nas exportações do agronegócio na RMC, representando 32,7% do total, equivalente a US$ 170,0 milhões. De 2010 até o ano passado, as exportações de complexo de soja tiveram expressiva alta de 1.734,5%. Em Campinas, a soja foi o terceiro produto mais exportado no ano passado, e a venda do produto para o exterior rendeu US$ 111,2 milhões. Depois aparecem fibras e produtos têxteis (14,9%), carnes (11,2%) e complexo sucroalcooleiro (8,6%). Juntos, os dez principais itens exportados do setor na região somam US$ 467,9 milhões, o que corresponde a 90% do total.
Para o economista Paulo César Grandi, professor da Institute of Business Education — Fundação Getúlio Vargas (FGV), o aumento nas exportações do agronegócio não é reflexo somente do crescimento da produção, mas também da boa infraestrutura oferecida pela região, que conta com o Aeroporto de Viracopos e a malha férrea, além da cotação do dólar favorável.
“Um dos motivos para isso é o aumento das cargas do terminal de Viracopos, e mesmo que não seja produzido aqui é contabilizado e agrega valor. O agronegócio é uma vocação do Brasil e a tendência é de crescimento. Com o dólar valorizado tem facilidade para exportar, principalmente as commodities como carne, soja, café, porque fica mais barato”, avalia o economista.
O especialista lembra que a presença de grandes multinacionais do setor agrícola e agropecuário, como a Cargill, Monsanto, Unilever, Louis Dreyfus e Basf, entre outras, facilita a produção e o escoamento do agronegócio. “Sempre perto de portos e aeroportos se estabelecem uma cadeia de empresas exportadoras e importadoras, via aeroporto. Também tem uma linha férrea que favorece. A soja, por exemplo, em sua maioria vai pelo porto de Santos. Essas empresas funcionam como entreposto, mas não necessariamente para aqui”, acrescenta Grandi. O especialista acredita que a expansão do agronegócio na região não será passageiro e a participação do setor nas exportações da RMC deve crescer. “É uma tendência aumentar mais, existem vários países que necessitam da exportação de alimentos e o Brasil é um dos maiores do mundo. Vai ter crescimento, existem muitos investimentos de empresas locais e multinacionais”, projeta.
O engenheiro-agrônomo José Augusto Maiorano, diretor do escritório de Campinas da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (Cati), afirma que a área utilizada para produção agrícola e agropecuária não teve aumento expressivo. “A região é grande e a área agrícola não tem como crescer, o que aumenta é a produtividade. E vem muita coisa de fora que passa por aqui, por exemplo empresas que trazem a soja e moem”, explicou. Para Maiorano, o item produzido na região e que teve o maior crescimento, foi a carne de frango, beneficiada pelo aumento do preço da carne bovina e da cotação do dólar, que favorece à comercialização ao mercado externo. “A produção de frango está aumentando para o mercado externo, até pelo aumento do preço da carne bovina, o que ajudou”, explica Maiorano.