04/11/24 14h06

RMC criou 36,3 mil empregos em nove meses, 5 mil a mais que em todo o ano passado

Acumulado de janeiro a setembro mostra alta de 17,2% em relação aos doze meses de 2023; setor de serviços foi o que mais gerou novos postos no último mês

Correio Popular

A Região Metropolitana de Campinas (RMC) criou 36.334 empregos com carteira assinada nos noves primeiros meses deste ano, 17,2% a mais do que todo 2023, quando foram geradas 31.002 vagas. A informação é do Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Novo Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego. O acumulado foi atingido após fechar setembro com a geração de 3.422 postos, o segundo melhor mês neste semestre e o terceiro seguido de saldo positivo. Ele ficou atrás apenas de julho, com 5.362 novas vagas.

“Esse dado mostra com um cenário de maior confiança na economia, com mercado de trabalho aquecido, gerando muitas oportunidades, e uma demanda por consumo”, afirmou ontem a economista Eliane Navarro Rosandiski, pesquisadora de emprego do Observatório PUC-Campinas. Para a especialista, que também é professora da PUC-Campinas, o dado é positivo, apesar de setores políticos olharem desfavoravelmente os indicadores econômicos. Segundo eles, o aumento do emprego pode gerar uma maior demanda de consumo e causar inflação. Porém, a economista lembrou que a taxa inflacionária segue sob controle, dentro da meta prevista para o ano.

Para Cailane Queiroz, recepcionista de um consultório odontológico no Centro de Campinas, o momento é bom para conseguir um emprego. “Eu não acho que está difícil. Está difícil para quem não quer trabalhar”, afirmou ela, feliz com a colocação. Ela atua no setor que mais gerou empregos na RMC em setembro, o de serviços.

Dos cinco setores analisados pelo Novo Caged, quatro tiveram mais contratações do que demissões. O segundo com melhor desempenho foi a indústria, com a criação de 1.158 vagas, seguido pela construção civil (552) e agropecuária (196). O único segmento em que as demissões superaram as contrações em setembro foi o do comércio, com o fechamento de 293 postos de trabalho.

Salário em alta

O sinaleiro Rogério Ferreira Nunes, que trabalha na obra de um edifício no Cambuí, comemora o emprego em alta por resultar em um salário maior. Ele atua no setor que atualmente paga a maior média salarial para os admitidos, R$ 2.737,63. “O valor está bom. Dá para tocar a vida”, disse Rogério Nunes, sem entrar em detalhes sobre o contracheque. A média da construção civil é 16,19% superior à média geral, R$ 2.356,11. A inflação acumulada em 12 meses encerrados em setembro é de 4,42%, de acordo com o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Para Eliane Rosandiski, o nível salarial em alta da construção é resultado do setor aquecido. “Esse boom do ponto de vista do emprego é em virtude dos vários lançamentos residenciais que estão tendo, em especial no município de Campinas”, explicou a pesquisadora do Observatório PUC. O mercado imobiliário da cidade teve o lançamento de 6.017 novas unidades no primeiro semestre deste ano, 25,7% a mais em comparação aos 4.784 de igual período de 2023, de acordo com pesquisa feita pelo Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Locação ou Administração de Imóveis Residenciais ou Comerciais do Estado de São Paulo (SecoviSP) em parceria com a Brain Inteligência Estratégica

Sem parar

Segundo a professora da Faculdade de Economia da PUCCampinas, o desempenho da construção civil é importante por puxar o crescimento de uma grande cadeia econômica, que vai desde indústrias de materiais de construção, como cimento, aço, revestimento e outros, até construtoras e prestadores de serviço. É o caso do motorista Paulo Roberto da Silva, que atua com o recolhimento de materiais recicláveis em obras.

“Só fica desempregado quem não gosta de trabalhar”, opinou. De acordo com ele, a recolocação no mercado de trabalho está fácil nesse momento. “Se sair da empresa hoje, amanhã estou em outra”, disse Roberto da Silva. O salário inicial médio da construção na RMC é atualmente superior ao da indústria (R$ 2.601,95), tradicionalmente o que paga melhor. Esses dois setores puxam a média para cima e criam uma realidade à parte. Os outros três grupamentos pagam salários abaixo da média. O valor inicial de setor de serviço é de R$ 2.262,44.

Para a recepcionista Cailane Queiroz, essa situação torna os candidatos a emprego mais exigentes. “Muitos querem um salário maior, carga horária menor e não querem trabalhar aos sábados”, explicou. No comércio, o salário médio inicial na RMC ficou em R$ 2.157,26 enquanto o agropecuário teve o menor valor, R$ 1.879,01. Mesmo assim, é 33,07% superior ao atual salário mínimo (R$ 1.412).

Eliane Rosandiski ressaltou também a geração de empregos na indústria, indicando o bom momento do setor após anos seguidos de crise, agravada pela pandemia de covid-19 em 2020. “Em setembro, (a indústria) foi o segundo gerador de emprego. Ela está conseguindo manter o que a gente vem observando na média acumulada ao longo do ano. Esse setor é importante por pagar bons salários, o que ajuda a movimentar a economia”, afirmou a pesquisadora do Observatório PUC-Campinas.

Outros dados

No acumulado de janeiro a setembro, o segmento industrial criou 8.215 novos postos de trabalho, alta de 75,38% em relação às 4.684 vagas geradas em igual período de 2023. Para a economista, os indicadores indicam a continuidade do bom desempenho do setor nos próximos meses. As empresas da Região Metropolitana de Campinas registraram em setembro o melhor mês do ano em exportações e o segundo melhor para o mês em 12 anos. Elas venderam ao exterior US$ 460,59 milhões (R$ 2,68 bilhões), apontou a Comex Stat, plataforma de balança comercial do Ministério da Indústria, Comércio e Serviços (MDIC). 

Mesmo o comércio, único setor com saldo negativo em setembro, explicou a economista, deve ter uma reversão no quadro neste final de ano. Estamos chegando na época da Black Friday, do Natal, quando o comércio normalmente amplia as contratações”, afirmou Eliane Rosandiski. Apesar do resultado negativo do mês, o comércio acumula a criação de 2.191 empregos nos nove primeiros meses do ano. Das 20 cidades da RMC, 17 tiveram alta na oferta de empregos em setembro. Campinas registrou a abertura de 1.247 novas vagas. Na cidade, a alta foi puxada por serviços (845), construção (401) e indústria (71). Dois setores apresentaram saldo negativo, comércio (-52) e agropecuária (-18).

Na Região Metropolitana, apenas três municípios tiveram queda na oferta de empregos em setembro. Nova Odessa liderou com o fechamento de 168 vagas. De acordo com o Novo Caged, quatro setores da cidade tiveram saldo negativo, indústria (-25), comércio (-56), construção civil (-6) e serviços (-81). O segmento agropecuário teve estabilidade, com cinco contrações e o mesmo número de demissões. As outras cidades com redução na oferta de empregos foram Santo Antônio de Posse (-46) e Santa Bárbara d'Oeste (-19). Porém, as três cidades apresentaram resultado positivo no acumulado de janeiro a setembro, com Santa Bárbara d´Oeste gerando 1.191 empregos; Nova Odessa, 570; e Santo Antônio de Posse, 172.

Saldo de empregos criados na RMC em 2024

Mês...................................................................Total

Janeiro...............................................................3.587

Fevereiro.............................................................9.399

Março..................................................................7.344

Abril.....................................................................4.508

Maio.....................................................................1.041

Junho....................................................................-745

Julho.....................................................................5.362

Agosto..................................................................2.416

Setembro..............................................................3.422

TOTAL..................................................................36.334