22/06/08 11h49

Rio Preto terá centro de alta tecnologia na área cardíaca

O Estado de S. Paulo - 22/06/2008

A ligação entre o novo Parque Tecnológico de São José do Rio Preto (400 km ao norte de São Paulo) e pelo menos 50 mil pessoas com problemas cardíacos é um longo talho no peito. O corte preciso, do pescoço até a cintura, é a marca dos pacientes que passaram pela cidade de 400 mil habitantes nos últimos 42 anos procurando cura para doenças do coração. Ali, por iniciativa de um pequeno grupo de médicos, surgiu em 1966 o segundo pólo de cardiologia do Estado. Iniciativa semelhante, protagonizada por algumas das mesmas pessoas, está criando o único centro de alta tecnologia do País voltado para a área biomédica - de tratamento e produtos. "É uma espécie de Embraer do coração", sustenta Domingo Braile, cirurgião fundador das duas corporações em torno das quais o parque está sendo planejado, a Braile Biomédica e o Instituto de Moléstias Cardiovasculares (IMC). A peculiaridade do processo é que quase tudo corre por conta da iniciativa privada. O Estado - e em porção maior o município - participam na condição de agências de fomento: oferecem a infra-estrutura e cuidam das facilidades de apoio, como transporte, energia ou meios de ocupação. Os fatores de atração servem para motivar as empresas, que têm acesso aos lotes do parque por meio de uma concorrência. Nas propostas, são considerados fatores ambientais, criação de conhecimento original, novos empregos, possibilidades de mercado e integração ao conjunto produtivo. Funcionam em São José do Rio Preto 630 empresas médicas - uma para cada 634 habitantes. A cidade é rica: é a 17ª do País em fortunas pessoais, a 2ª em longevidade e a 3ª em escolaridade. Na rede de hospitais, quase toda sustentada por contratos do Sistema Único de Saúde (SUS), é possível fazer transplantes de órgãos e todos os procedimentos cardiovasculares ou de caráter experimental, como as terapias que utilizam células-tronco. É de Rio Preto que saem válvulas cardíacas feitas com o pericárdio bovino, tecido que envolve o coração do boi, para 25 países - algo em torno de 162 unidades por mês para clínicas da União Européia, Leste Europeu, Oriente Médio, Ásia, Indochina e América Latina. O fabricante é a Braile Biomédica. Em outra instituição âncora do Parque Tecnológico, o IMC, o médico Oswaldo Grecco prepara uma revolução. Até 2012, ele pretende ter um segundo complexo em funcionamento, o Instituto de Reparação e Recuperação Tecidual. Entre as dez corporações que já se cadastraram para integrar o complexo - de setores como biotecnologia, biomedicina, tecnologia da informação e mecânica fina - a Cryopraxis, que funciona no campus da Universidade Federal do Rio de Janeiro, está investindo R$ 4 milhões (US$ 2,45 milhões) em São José do Rio Preto, em um sofisticado complexo, a maior instalação brasileira de armazenamento de células-tronco obtidas nos cordões umbilicais.