Retomada industrial em 2017 foi maior nas áreas de alta tecnologia
Valor EconômicoA recuperação da indústria brasileira iniciada em 2017 foi mais expressiva em segmentos que fazem uso mais intensivo da tecnologia. Enquanto os fabricantes de bens com alto conteúdo tecnológico produziram 2,8% a mais no ano passado na comparação com 2016, a indústria de baixa tecnologia viu sua produção crescer 2%.
No meio do caminho, o setor de média-alta tecnologia se destacou e avançou 5,8%. Na outra ponta, o de média-baixa tecnologia foi o único a mostrar retração no período, de 0,9%.
No geral, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) registrou expansão de 2,2% na atividade da indústria de transformação em 2017, depois de queda de 18% nos quatro anos anteriores. A retomada observada no ano passado - ainda modesta se comparada à perda de produção acumulada entre 2013 e 2016 - foi puxada principalmente pela indústria automobilística, que, com alta de 17,8%, foi a maior influência positiva sobre a camada de média-alta intensidade tecnológica.
O complexo eletrônico - que agrega os ramos de televisão, material de escritório e informática e pertence ao setor de alta tecnologia- cresceu 19,6% no ano. As desagregações pelo nível tecnológico foram feitas pelo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), com base em metodologia adotada pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
As faixas de alta e média-alta intensidade tecnológica têm desempenho bastante relacionado ao ciclo econômico, observa Rafael Cagnin, economista-chefe do Iedi e autor dos cálculos. Por isso, elas lideraram a reação da atividade industrial no ano passado, também impulsionados pela baixa base de comparação do ano anterior.
Juntas, as indústrias de alta e média-alta tecnologia responderam por 80% do crescimento do setor de transformação em 2017, ou seja 1,8 ponto da alta total, que atingiu 2,2%.
A tendência de retomada dos setores com maior uso de tecnologia ficou mais clara no último trimestre do ano passado, observa Cagnin, o que é uma boa sinalização para este ano. De outubro a dezembro de 2017, a produção do segmento de média-alta tecnologia avançou 11,1% sobre igual período de 2016.
A atividade da indústria de alta tecnologia subiu 8,4% na mesma comparação, enquanto os segmentos de média-baixa e baixa tecnologia cresceram 3,6% e 3,1%, respectivamente.
A dinâmica atual da recuperação industrial, com maior protagonismo de setores mais tecnológicos, é favorável, afirma o economista, porque tem potencial para puxar outros ramos de atividade. "A indústria automotiva, por exemplo, segue muito importante, porque tem forte encadeamento com outros setores", diz Cagnin.
Segundo o economista, o aumento da produção da indústria automobilística foi mais influenciado pelas exportações em 2017, mas a redução dos juros e a reação das concessões de crédito para famílias já deram início a uma melhora no mercado doméstico, que deve se acentuar ao longo deste ano.
"Há um estímulo ao consumo após um longo período de redução de gastos", disse Cagnin, o que vale também para demais bens duráveis que tiveram boa performance em 2017.
Não fosse o desempenho negativo das indústrias farmacêutica e de máquinas e equipamentos elétricos, que recuaram 5,3% e 3,5% no ano passado, respectivamente, a expansão nas indústrias de média-alta e alta tecnologia no ano passado teria sido ainda maior, nota Cagnin.
Enquanto o primeiro segmento está bastante relacionado ao comportamento do mercado internacional, afirma ele, o de bens de capital para o setor elétrico é impulsionado por investimentos em infraestrutura, que não ocorreram, diz. "O investimento grande não veio."
A indústria de média-baixa tecnologia foi a única categoria que diminuiu sua produção em 2017, em 0,9%, em seu quarto ano seguido de redução. Os maiores responsáveis pela queda foram os segmentos de petróleo refinado, álcool e afins (-4,1%) e de minerais não metálicos (-3,1%).
"A boa notícia é que a maioria dos ramos da média-baixa registrou alta no quarto trimestre e derivados de petróleo ficaram em virtual estabilidade (-0,1%)", comenta Cagnin, o que é um indício favorável para 2018.