06/03/18 13h46

Retomada industrial em 2017 foi maior nas áreas de alta tecnologia

Valor Econômico

A recuperação da indústria brasileira iniciada em 2017 foi mais expressiva em segmentos que fazem uso mais intensivo da tecnologia. Enquanto os fabricantes de bens com alto conteúdo tecnológico produziram 2,8% a mais no ano passado na comparação com 2016, a indústria de baixa tecnologia viu sua produção crescer 2%.

No meio do caminho, o setor de média-alta tecnologia se destacou e avançou 5,8%. Na outra ponta, o de média-baixa tecnologia foi o único a mostrar retração no período, de 0,9%.

No geral, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) registrou expansão de 2,2% na atividade da indústria de transformação em 2017, depois de queda de 18% nos quatro anos anteriores. A retomada observada no ano passado - ainda modesta se comparada à perda de produção acumulada entre 2013 e 2016 - foi puxada principalmente pela indústria automobilística, que, com alta de 17,8%, foi a maior influência positiva sobre a camada de média-alta intensidade tecnológica.

O complexo eletrônico - que agrega os ramos de televisão, material de escritório e informática e pertence ao setor de alta tecnologia- cresceu 19,6% no ano. As desagregações pelo nível tecnológico foram feitas pelo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), com base em metodologia adotada pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

As faixas de alta e média-alta intensidade tecnológica têm desempenho bastante relacionado ao ciclo econômico, observa Rafael Cagnin, economista-chefe do Iedi e autor dos cálculos. Por isso, elas lideraram a reação da atividade industrial no ano passado, também impulsionados pela baixa base de comparação do ano anterior.

Juntas, as indústrias de alta e média-alta tecnologia responderam por 80% do crescimento do setor de transformação em 2017, ou seja 1,8 ponto da alta total, que atingiu 2,2%.

A tendência de retomada dos setores com maior uso de tecnologia ficou mais clara no último trimestre do ano passado, observa Cagnin, o que é uma boa sinalização para este ano. De outubro a dezembro de 2017, a produção do segmento de média-alta tecnologia avançou 11,1% sobre igual período de 2016.

A atividade da indústria de alta tecnologia subiu 8,4% na mesma comparação, enquanto os segmentos de média-baixa e baixa tecnologia cresceram 3,6% e 3,1%, respectivamente.

A dinâmica atual da recuperação industrial, com maior protagonismo de setores mais tecnológicos, é favorável, afirma o economista, porque tem potencial para puxar outros ramos de atividade. "A indústria automotiva, por exemplo, segue muito importante, porque tem forte encadeamento com outros setores", diz Cagnin.

Segundo o economista, o aumento da produção da indústria automobilística foi mais influenciado pelas exportações em 2017, mas a redução dos juros e a reação das concessões de crédito para famílias já deram início a uma melhora no mercado doméstico, que deve se acentuar ao longo deste ano.

"Há um estímulo ao consumo após um longo período de redução de gastos", disse Cagnin, o que vale também para demais bens duráveis que tiveram boa performance em 2017.

Não fosse o desempenho negativo das indústrias farmacêutica e de máquinas e equipamentos elétricos, que recuaram 5,3% e 3,5% no ano passado, respectivamente, a expansão nas indústrias de média-alta e alta tecnologia no ano passado teria sido ainda maior, nota Cagnin.

Enquanto o primeiro segmento está bastante relacionado ao comportamento do mercado internacional, afirma ele, o de bens de capital para o setor elétrico é impulsionado por investimentos em infraestrutura, que não ocorreram, diz. "O investimento grande não veio."

A indústria de média-baixa tecnologia foi a única categoria que diminuiu sua produção em 2017, em 0,9%, em seu quarto ano seguido de redução. Os maiores responsáveis pela queda foram os segmentos de petróleo refinado, álcool e afins (-4,1%) e de minerais não metálicos (-3,1%).

"A boa notícia é que a maioria dos ramos da média-baixa registrou alta no quarto trimestre e derivados de petróleo ficaram em virtual estabilidade (-0,1%)", comenta Cagnin, o que é um indício favorável para 2018.