19/04/11 14h35

Resina verde chega ao dia-dia do consumidor

Valor Econômico

O uso do plástico fabricado a partir da cana-de-açúcar, por isso batizado de "verde", vem ganhando espaço na indústria de consumo. Com forte apelo ecológico, a resina verde atrai principalmente o público de alta renda. Já é usado em sacos de lixo e logo chegará aos supermercados levando iogurtes e às praias nos tubos de protetor solar.

A Braskem, a única produtora de polietileno renovável no mundo, admite uma expansão da demanda por parte das companhias de embalagens alimentícias, higiene e limpeza, cosméticos e fabricantes de sacos e sacolas de supermercados. A empresa, que costuma fechar acordos de exclusividade com esses clientes, está em conversações ainda com a indústria automobilística, que busca substituir peças de metais dos automóveis por peças de plástico.

Acreditando na conscientização do consumidor com relação à redução do uso de produtos derivados de petróleo, a Embalixo, fabricante de sacos de lixo, é uma das empresas que adotou a resina verde. A companhia colocou no mercado em fevereiro os sacos feitos a partir da matéria-prima renovável. A empresa vende cerca de 130 toneladas de saco verde por mês, enquanto a venda do saco feito de polietileno tradicional (a partir do petróleo) está no patamar de 300 toneladas por mês. Até o fim deste ano, a companhia espera vender cerca de 2 mil toneladas do produto verde e 3,6 mil toneladas do saco de petróleo.

A projeção está baseada na redução da utilização das sacolinhas de supermercado - que muitas pessoas acabam usando como saco de lixo - principalmente por parte das classes de alta renda. A Embalixo acredita que os produtos diferenciados têm boa aceitação nesse público e, para ganhar mercado, projeta investimentos de R$ 1,5 milhão (US$ 937,5 mil) para a divulgação do novo produto. O argumento mais importante na defesa da resina verde (principalmente na hora do marketing) é realmente o ambiental. Dados do mercado apontam que na fabricação de uma tonelada de polietileno de cana-de-açúcar, se retira 2,5 toneladas de carbono do ar.

Em época de petróleo caro, outra grande vantagem da matéria-prima é a possibilidade de aplicá-la em qualquer produto que antes utilizava polietileno tradicional, já que ambas resinas têm as mesmas características. Desse modo, são poucas as adaptações que os fabricantes que utilizam o plástico verde têm de fazer em suas linhas de produção. "Nossa unidade pode ser convertida tanto para produzir o saco renovável, quanto o comum", explicou Costa.

O setor de alimentos também se beneficia dessa característica. A Danone promete colocar neste primeiro semestre os lácteos Activia e o Danoninho em garrafinhas de polietileno verde. Neste momento, a adoção da matéria-prima encontra-se em fase de validação fabril, ou seja, estão sendo testadas suas características e formas de adaptação dentro das linhas de produção. "Acreditamos que não é necessária grande adaptação (de nossa produção) para receber a embalagem de resina verde. E não voltamos atrás: queremos usar materiais sustentáveis em nossos produtos", contou a diretora de sustentabilidade da empresa, Adriana Matarazzo.

Por outro lado, a desvantagem da resina verde fica por conta do preço. De 20% a 50% mais cara do que a matéria-prima originada do petróleo, o produto pesa sobre os negócios das empresas. Para colocar o saco de lixo renovável no mercado e torná-lo competitivo, a Embalixo, por exemplo, absorveu completamente esse custo e lançou o produto final em preço semelhante ao comum. Agora, as expectativas da companhia é que as vendas cresçam e tornem possíveis ganhos de escala produtiva, para que não seja necessário um aumento futuro do preço do saco de lixo verde.

A J&J também acredita no apelo mercadológico e no aumento das vendas com o plástico verde. A empresa pretende lançar o Sundown com embalagem originada da matéria-prima no verão 2011/12. "Acreditamos que é um investimento natural que estamos fazendo na marca e não vamos repassar o custo ao consumidor", explicou o gerente de marketing do Sundown, Marcelo Scatolini. A explicação para a resina verde ser mais cara envolve o custo do etanol e o conceito do produto. A Braskem, que detém esse monopólio, afirma que o custo de fabricação da matéria-prima, em geral, não é maior do que o da produção da resina proveniente do petróleo. Segundo a empresa, a resina verde é a mais barata dentre os biopolímeros (polímeros de origem renovável ou biodegradável), devido ao processo e da escala da produção.