13/01/11 11h39

Receita de rodovias chega a US$ 4 bi

Valor Econômico

A receita somada das quatro maiores concessionárias de rodovias do país - CCR, OHL, EcoRodovias e TPI -, responsáveis por 26 das 52 estradas sob administração privada no Brasil, deve bater em 2010 a marca de R$ 7 bilhões (US$ 4 bilhões), conforme estimativas preliminares. O crescimento é de 22% em relação a 2009, quando faturaram R$ 5,7 bilhões (US$ 2,9 bilhões). O resultado é respeitável frente a outros setores da economia, mas usual no ramo - entre 2008 e 2009, o crescimento somado das quatro foi de 27%. Ao contrário de outros anos, contudo, desta vez a fatura não é resultado da chegada de novos ativos nem de um ricochete inflacionário. A maior explicação é mesmo o crescimento da economia.

Segundo representantes do setor, o resultado excepcional de 2010 de alguma forma regenerou os traumas provocados pela crise do início de 2009, que deixou aquele ano com crescimento no volume de veículos próximo a zero. Na ocasião, os grupos foram salvos por uma inflação fora do comum no ano anterior - reajustes de até 15% nos pedágios - e o impacto da chegada dos lotes de estradas leiloadas pelo governo federal e de São Paulo entre 2007 e 2008.

No ano que passou, foi o crescimento da economia que segurou o resultado. Segundo Arthur Piotto, diretor financeiro e de relações com investidores da CCR, o aumento na frota de veículos, retomada da atividade industrial - puxando o tráfego de caminhões - e mais dinheiro nas mãos dos consumidores são alguns traços que explicam os bons resultados da empresa. O setor rodoviário, diz, é particularmente sensível ao crescimento do PIB. Cálculos do ramo sugerem uma elasticidade próxima a 1,5 - para cada ponto a mais no PIB, o volume de veículos aumenta 1,5 ponto.

O IGP-M, índice de inflação usado na maioria das concessões da CCR, teve participação moderada este ano. Na Autoban, maior concessão do grupo - responsável por mais de um terço de sua receita - o reajuste, aplicado em julho, foi de 4,17%. O resultado foi semelhante em outras concessões, em geral com reajustes no meio do ano - que assim, não captaram o recrudescimento inflacionário registrado na segunda metade de 2010. O IGP-M fechou 2010 em 11%.

Os representantes das empresas normalmente rejeitam a tese do jogo de "ganha-ganha", pela qual um ano de inflação alta acaba garantindo uma boa receita para o ano seguinte, em um reflexo peculiar da indexação das tarifas. De acordo com Piotto, ao contrário do que se afirma, as concessionárias não gostam de inflação. "Se pudéssemos escolher entre inflação e crescimento, escolheríamos crescimento", diz. A explicação é que a inflação acaba rebatendo também nos custos da concessão, e logo na sua rentabilidade.

A EcoRodovias, que segue pouco atrás da OHL no posto de maior concessionária em faturamento, tem ganhado com aumento de tráfego e ainda colhe um resultado acima do esperado com a Ayrton Senna/Carvalho Pinto, arrematada no início de 2009. O fluxo de tráfego subiu acima do esperado, captando clientes da vizinha Presidente Dutra, no trecho entre São Paulo e o Vale do Paraíba. Segundo Marcelino Seras, presidente da EcoRodovias, o público foi mais rápido para identificar a nova rota - que ficou com pedágios mais baratos com a mudança de mãos do Estado para a empresa.

No terceiro trimestre, a receita da empresa aumentou em 28% entre 2010 e 2009, mas mesmo excluído o efeito da chegada da Ayrton Senna, a receita cresceu 18%. A empresa deve bater com facilidade a marca de R$ 1,2 bilhão (US$ 706 milhões) em receita de pedágios em 2010. Segundo Seras, graças a rotas de tráfego ligadas a turismo e comércio internacional, a empresa tem uma maior sensibilidade à evolução da economia - a elasticidade do tráfego ao PIB é calculada em duas vezes, e não 1,5 vez.