Reator Multipropósito Brasileiro dará autonomia na produção de radioisótopos
Agência CT&IO Reator Multipropósito Brasileiro (RMB) pode dar autonomia ao país na produção de radioisótopos e ampliar a capacidade nacional em pesquisa de técnicas nucleares, além de gerar recursos para o governo. Esses são alguns benefícios enumerados pelo coordenador do projeto RMB na Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen), José Augusto Perrotta.
O RMB é um reator nuclear de pesquisa e produção de radioisótopos – elementos ativos dos radiofármacos, que são empregados como agentes no diagnóstico e no tratamento de câncer e outras doenças. As aplicações se estendem à agricultura, indústria e meio ambiente. A estrutura será construída em Iperó (SP), ao lado do Centro Experimental de Aramar, da Marinha do Brasil, onde se desenvolve o protótipo do submarino nuclear brasileiro.
Perrotta explica que, hoje, o Brasil importa radioisótopos para a produção de radiofármacos, utilizados na medicina nuclear. "Isso chega a mais de 400 clínicas, onde são realizados quase 2 milhões de procedimentos por ano, se considerarmos todas as aplicações. E o Sistema Único de Saúde corresponde a 30% da demanda nacional”, explica o coordenador. “Nós importamos acima de US$ 15 milhões anuais e vendemos isso processado para as clínicas por cerca de R$ 120 milhões anuais. Ou seja, o RMB vem para suprir esses gastos de US$ 15 milhões e ainda existe a possibilidade de duplicar a quantidade de radiofármacos ofertada à sociedade. O empreendimento vai faturar recursos financeiros, além da autonomia e da pesquisa.”
O RMB tem múltiplas finalidades. De acordo com Perrota, o RMB fornecerá toda a gama de radioisótopos produzidos em reator, seja para a saúde ou para aplicações industriais, como a gamagrafia, e também para usos gerais em meio ambiente e agricultura, por meio de traçadores nucleares.
Outra função seria criar capacidade nacional para testar e qualificar materiais e combustíveis nucleares. "Isso geraria conhecimento e segurança em projetos com reatores de potência, tanto para geração de energia quanto para propulsão naval. São testes fundamentais para quem desenvolve o ciclo tecnológico e fabrica esses produtos, como o Brasil."
Perrotta afirma ainda que o Reator Multipropósito Brasileiro facilitaria, ainda, a instalação de um laboratório nacional de pesquisas com feixes de nêutrons. "Seria uma espécie de complemento ao Laboratório Nacional de Luz Síncrotron, o LNLS, em Campinas", afirmou. "Lá, eles trabalham com radiação eletromagnética, vinda de um acelerador de elétrons. E aqui [no RMB] a gente extrairia nêutrons para fazer a mesma análise de materiais, mas por outro caminho."
Implementação
O projeto básico de engenharia do RMB está pronto e o empreendimento já possui licenças prévias do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e da Diretoria de Radioproteção e Segurança Nuclear da Cnen. "Então, estamos dando prosseguimento agora, com o projeto de detalhamento, e caminhando para a licença seguinte, que permite a instalação e a construção da obra."
A Estratégia Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (Encti) de 2016 a 2019 cita o RMB como um dos projetos de pesquisa que colocarão o país na fronteira do conhecimento, ao lado do Sirius, anel de luz síncrotron do LNLS, ligado ao Centro Nacional de Pesquisas em Energia e Materiais (CNPEM), em Campinas, e do Laboratório de Integração e Testes do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (LIT/Inpe), em São José dos Campos (SP).