06/07/18 11h38

Raízen negocia compra de usina do grupo Zogbi no interior de SP

Valor Econômico

A Raízen Energia, joint venture entre Cosan e Shell, está negociando a aquisição da Usina Rio Pardo, localizada em Avaré (SP) e pertencente ao grupo Zogbi, conforme apurou o Valor com três fontes familiarizadas com as negociações e que preferiram não se identificar.

As condições da negociação ainda não estão definidas, mas uma das possibilidades é que a Raízen assuma cerca de R$ 200 milhões em dívidas da Usina Rio Pardo, segundo duas dessas fontes. Outra pessoa a par das conversações disse que os detalhes da operação poderiam ser fechados até o fim deste mês.

Procurado pelo Valor, Fábio Zogbi, dono do grupo, confirmou que há conversas com a Raízen Energia em andamento, mas negou que esteja em discussão o repasse de parte das dívidas da Rio Pardo. "Estamos fazendo uma negociação com a Raízen. Existem algumas conversas adiantadas. Não tem nada fechado ainda. Essa informação do valor e de que seria através de assunção de compromissos é equivocada", afirmou ele. "Pode ser que não ocorra nenhuma negociação", acrescentou.

Também procurada, a Raízen Energia, por meio da assessoria de imprensa, "nega a existência de qualquer negociação pelos ativos em questão".

A Usina Rio Pardo vem enfrentando problemas de fluxo de caixa nas últimas safras, com dívidas de R$ 450 milhões, parte delas vencidas, e perspectiva de baixo desempenho operacional. Recentemente, a companhia começou a ser acionada na Justiça por credores cobrando dívidas. Entraram com pedidos de cobrança, por exemplo, o Banco Fibra, demandando o pagamento de uma dívida de R$ 2,7 milhões, e o Banco Indusval, com um crédito de R$ 9,8 milhões. A Justiça chegou a bloquear até R$ 1,9 milhão de uma dívida com certificados de recebíveis do agronegócio (CRA) administrados pela securitizadora Gaia Agro.

De acordo com uma das fontes, para viabilizar a venda à Raízen, o grupo Zogbi, que também atua no mercado de cartão de crédito, poderia ficar com R$ 250 milhões em dívidas da usina, encerrando assim sua atuação no setor sucroalcooleiro.

Para ser concretizada, a transação com a Raízen ainda precisaria ser acertada com a Albioma, companhia francesa de energia elétrica que administra o parque de cogeração de energia a partir do bagaço de cana da Usina Rio Pardo, de acordo com uma das fontes. Em 2014, a Albioma adquiriu, por R$ 137 milhões, o direito de uso desse ativo pelo período de 20 anos.

Caso o negócio seja fechado, será a segunda aquisição de usinas pela Raízen Energia desde 2017. Em meados do ano passado, a companhia adquiriu duas usinas que eram do grupo Tonon, dentro de seu processo de recuperação judicial. Os dois ativos hoje integram o "cluster" da Raízen na região de Jaú (SP).

A Usina Rio Pardo integraria o mesmo "cluster" caso o negócio vá adiante. Além disso, a Raízen passaria a operar bem perto da única usina que o grupo Usina Furlan deverá manter em operação nesta safra, após vender canaviais à própria Raízen. Isso significa que as duas concorreriam pelos mesmos canaviais de fornecedores.

Fontes no mercado avaliam que a Raízen pode enfrentar dificuldades no início se adquirir a Usina Rio Pardo devido à falta de cana nesta safra por causa do clima seco, que deve reduzir a produtividade até o fim da safra atual, a 2018/19. A própria Cosan já informou o mercado que a Raízen Energia deverá moer menos cana nesta temporada, entre 62 milhões e 66 milhões de toneladas. Na safra passada, a empresa moeu 61,2 milhões de toneladas, inclusive abaixo do previsto inicialmente.

A joint venture Cosan-Shell chegou a desativar no ano passado duas usinas suas, uma em Dois Córregos e Araraquara, ambas no Estado de São Paulo, para priorizar o aumento da moagem de cana nas unidades adquiridas da Tonon. Para duas fontes do mercado, faria sentido a Raízen suspender as atividades de mais uma planta caso acerte a aquisição de mais uma usina neste momento. A princípio, o grupo Zogbi processaria 1,2 milhão de toneladas de cana na usina, metade de sua capacidade total.