Raízen avança no etanol de 2ª geração
Combustível feito com palha e bagaço de cana deve ter custos de produção menores
O Estado de S. PauloA Raízen, joint venture entre Shell e Cosan, completa neste ano sua primeira safra com produção contínua de etanol de segunda geração (2G) na Usina Costa Pinto, em Piracicaba (SP). Muito à frente da tradicional tecnologia adotada no etanol produzido com caldo (1G), o 2G é feito com resíduos da colheita e do processamento de cana-de-açúcar, como palha e bagaço.
Trata-se de um aproveitamento adicional em relação ao que se faz hoje, já que a palha costuma ficar na lavoura, cobrindo o solo, e o bagaço vira combustível na cogeração de energia. O objetivo da Raízen é atingir uma produção de 42 milhões de litros até 2018, apostando em custos de produção do 2G menores do que os do 1G até o fim da década.
Segundo estudo divulgado no ano passado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), em parceria com o Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE), a redução de custos deve ocorrer mesmo em 2020, quando produzir o 2G custará entre R$ 0,70 e R$ 0,50 por litro, enquanto o 1G, R$ 0,90 a R$ 0,70. Basicamente, isso se dará pelo próprio desenvolvimento tecnológico e biotecnológico do setor.
Obstáculos. Inaugurada em julho de 2015, a Usina Costa Pinto mantém a produção de etanol 2G ainda com algumas dificuldades mecânicas, grande parte delas relacionada à natureza da matéria-prima processada. Mas nada que faça a companhia repensar seus planos originais. “Queremos chegar aos 42 milhões de litros até 2018”, disse o diretor executivo de Tecnologias e Projetos da empresa, Antonio Alberto Stuchi, ao Broadcast Agro, serviço de notícias do agronegócio em tempo real do Grupo Estado. Na atual temporada, a Costa Pinto deve processar 16% dessa capacidade instalada, ou 6,7 milhões de toneladas.
Além do 2G, a Raízen fabrica na Costa Pinto o 1G. Considerando-se os dois derivados, a indústria tem capacidade para mais de 100 milhões de litros por safra. A construção da unidade de 2G e a instalação dos equipamentos necessários demandaram investimentos de quase R$ 250 milhões, dos quais cerca de R$ 200 milhões provenientes de financiamento do BNDES.
A empresa tinha por objetivo produzir em torno de 10 milhões de litros de etanol 2G ainda no ano passado, quando a usina trabalhou em fase de “análise”, conforme definiram os responsáveis à época. Entretanto, o desempenho ficou bem abaixo da expectativa inicial, com apenas 1,4 milhão de litros. “Tivemos vários problemas na indústria”, explicou Stuchi, destacando dificuldades com a filtragem da lignina, presente nos colmos e palha, para a produção de álcool.
Regime contínuo. Para a atual safra, foram feitos alguns ajustes e a produção já está em 5,5 milhões de litros, podendo chegar a 6,7 milhões até meados de dezembro, quando a Raízen tende a encerrar os trabalhos de colheita de cana. “Hoje trabalhamos em regime contínuo, mas bem abaixo de nossa capacidade. Os problemas são mecânicos, de filtragem, não de processo. Eles foram identificados e já os estamos atacando”, garantiu Stuchi.
O diretor destacou que é possível dar outro salto na produção no ano que vem, a exemplo do avanço de 380% observado entre 2015 e 2016, graças ao ganho de eficiência. Conforme o executivo, nos dois últimos meses a Usina Costa Pinto tem fabricado 211 litros de etanol 2G por tonelada de biomassa seca (palha e bagaço). Ainda está abaixo do “target” de 289 litros por tonelada, mas tal meta só não foi alcançada em razão dos problemas já citados.
Atingir esse volume seria um passo importante para que a Raízen torne viável seu projeto de levantar um total de oito usinas de etanol 2G, com capacidade de produção de 2 bilhões de litros por ano. O plano por ora está em “hibernação” até que a Costa Pinto alcance a excelência. De acordo com Stuchi, o momento é de aprendizado, mas as próximas unidades deverão demandar investimentos maiores, com ganho de escala em equipamentos.