RA de Campinas responde por um em cada oito novos carros vendidos no Brasil
Mais de 320 mil unidades saíram das fábricas instaladas na região, com participação de 13,04% dos 2,48 milhões de automóveis leves comercializados
Correio PopularA Região Administrativa (RA) de Campinas se consolida como um dos maiores polos da indústria automotiva no Brasil. Ela concentra hoje o maior número de montadoras do país, com cinco empresas mantendo seis unidades em operações em cinco cidades: Indaiatuba, Sumaré, Itirapina, Piracicaba e Iracemápolis. Em 2024, um em cada oito carros novos vendidos no mercado nacional foram produzidos na RA de Campinas, de acordo com a Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave).
Os dados constam no estudo “O desafio do setor automotivo no Estado de São Paulo”, da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade), que apontou ainda a presença de 15 fabricantes no país, distribuídas por nove Estados e 25 municípios. No total, São Paulo tem 17 unidades entre fábricas, centro de distribuição de peças e campo de provas, permanecendo na liderança do segmento. No Estado, as demais estão instaladas na Região Metropolitana de São Paulo (4) e nas RAs de Sorocaba (3), São José dos Campos (3) e Central (1).
Os dados da entidade que congrega as concessionárias revelaram que 323.416 unidades saíram das fábricas instaladas na região, com uma participação de 13,04% dos 2,48 milhões de automóveis e comerciais leves vendidos no país. Além das plantas, uma fabricante tem um campo de provas em Indaiatuba, a Fazenda Cruz Alta, onde desenvolve ou testa todos os carros nacionais e importados lançados no país.
A produção regional é maior, por exemplo, que todo o mercado de automóveis do Chile, o terceiro maior da América do Sul. No ano passado, os chilenos compraram 302.266 carros novos, segundo a Associação Nacional Automotiva do país (Anac). Na Argentina, a segunda colocada, foram vendidos 424 mil veículos, apontou a associação de concessionárias de automóveis locais (Acara).
“Nós costumamos dizer que o trecho entre Campinas e Sorocaba é hoje o corredor asiático do país”, disse o gerente de Indicadores Econômicos da Seade, Vagner Bessa. Ele referiu-se à concentração de empresas do setor automobilístico originárias da Ásia. Das empresas instaladas na RA de Campinas, apenas a proprietária do campo de provas é dos Estados Unidos. As demais são do Japão, Coreia do Sul e China.
Reflexos
A indústria automotiva emprega na região 13,7 mil funcionários. O número não inclui as contratações feitas pela montadora de Iracemápolis, em fase da formação da equipe para inaugurar sua fábrica no primeiro semestre deste ano. Ela está contratando 700 funcionários para diversos cargos, com técnico de manutenção, operador de produção, operador de qualidade, analista com formação em engenharia e técnico especializado em sistemas produtivos.
De acordo com pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI) o rendimento dos trabalhadores do setor é, em média, 9,6% superior ao dos funcionários da agropecuária e dos serviços. No setor de indústria extrativa, a diferença chega a 30%. O levantamento teve como base os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD), feita mensalmente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Para superintendente de Economia da CNI, Mário Sérgio Telles, três fatores explicam a indústria pagar maiores salários. São eles a maior produtividade, oferta de salários melhores para reter talentos e predominância de empresas de médio e grande portes, que valorizam profissionais com maior escolaridade. “A indústria é um setor mais complexo e moderno, por isso a rotatividade de mão de obra é mais prejudicial que em outros setores. Então, paga-se mais para reter os trabalhadores para evitar o custo de perder essas pessoas. O fato de a indústria ter muitas empresas grandes, que valorizam profissionais muito qualificados e com maior escolaridade, principalmente em setores tecnológicos, também contribui para salários mais altos”, afirmou Mário Telles.
Cadeia
A renda maior acaba beneficiando toda a cadeia econômica local. Ela possibilita um maior poder de consumo, impactando desde a padaria do bairro do trabalhador, até supermercados, lojas de roupa e prestação de serviço, como escolas particulares e salões de beleza. Para o gerente da Seade, a expansão das montadoras na RA ocorreu por causa do “processo de desindustrialização de São Paulo e dos grandes investimentos que a região de Campinas recebeu ao longo dos últimos anos.”
Piracicaba é hoje a segunda maior fabricante de veículos paulistas, atrás apenas de São Bernardo do Campo, o berço da indústria automobilística brasileira, e a terceira do país. A segunda colocação nacional fica com Betim (MG). As outras montadoras estão instaladas em Paulista (PE); Anápolis e Catalão (GO); Porto Real, Resende e Itatiaia (RJ); Araquari e Joinville (SC); Gravataí (RS); São José dos Pinhais (PR) e Camaçari (BA).
De acordo com Vagner Bessa, a chegada de uma empresa do setor movimento movimenta todas as engrenagens da cadeia produtiva, atraindo para o seu entorno a instalação de fornecedores e prestadores de serviço, como fábrica de autopeças e empresas de logística. Uma multinacional espanhola anunciou no final do ano passado um investimento de R$ 100 milhões na montagem de uma nova fábrica em Piracicaba, a oitava dela no Brasil. Ela está prevista para entrar em operação no quarto trimestre deste ano, gerando 150 novos empregos.
A empresa especializada na fabricação de componentes metálicos para a indústria automotiva atenderá a montadora instalada na cidade e tem planos para atender também outros clientes, explicou a gerente comercial da multinacional, Daniara Nascimento. A indústria atua no Brasil há 27 anos e tem plantas em Betim, Sorocaba, Taubaté e Santa Isabel (SP); São José dos Pinhais (PR); e Gravataí (RS), sempre se instalando próxima de montadoras. Atualmente, ela emprega 5,4 mil funcionários no país.
Desafio
O estudo da Seade apontou como o próximo desafio da indústria automotiva a eletrificação dos veículos, como forma de aderir ao processo de descarbonização em curso no cenário mundial. A transição energética levará à substituição ou redução do consumo da gasolina através da produção de carros híbridos ou elétricos. A pesquisa apontou que os veículos com essa tecnologia no país representaram 4,3% do mercado nacional em 2023.
As montadoras instaladas na RA de Campinas estão se reforçando para fazer a transição energética. Elas preveem investir R$ 9,65 bilhões na modernização de fábricas para a produção de veículos eletrificados. Desse total, R$ 4,2 bilhões serão investidos por uma multinacional japonesa ao longo de seis anos na planta de Itirapina para a produção de veículos híbridos e no desenvolvimento de dois novos modelos.
“Em 2030, visualizamos um potencial de produção de 150 mil unidades em Itirapina”, disse o presidente da montadora na América do Sul, Arata Ichinose. Esse número representa um aumento de 50% em comparação aos 100 mil fabricados em 2024. Os investimentos na RA de Campinas vêm na carona de um pacote de investimentos de R$ 130 bilhões, anunciado pela indústria automobilística no Brasil no ano passado.