Projetos de eficiência energética, geração e petróleo estão no radar
Valor EconômicoEficiência energética, energia elétrica, gás natural e petróleo são quatro setores de interesse para empresas francesas com negócios no Brasil. A alta do preço de energia elétrica, que no mercado cativo chegou a 70% em alguns Estados, está impulsionando a área de gestão e eficiência da Schneider Electric. Muitas empresas que compram energia do mercado cativo agora buscam consultoria para migrar para o mercado livre, onde podem comprar livremente de comercializadoras ou geradoras.
No segmento cativo (formado por residências, pequenas indústrias e varejo) o preço do MWh está em cerca de R$ 250, enquanto no livre está em R$ 180 o MWh. "Esse é o momento mais aquecido de migração dos últimos cinco anos", diz Renata Lourenço, gerente de contas estratégicas, energia e sustentabilidade da Schneider.
A eficiência energética é outra vertente em crescimento. A alta dos preços da energia reduziu o prazo de retorno financeiro e melhorou a viabilidade de uma série de projetos, o que tem feito crescer a demanda de varejistas e indústrias. "Isso traz uma redução de custo operacional e ainda pode se converter em receita adicional, já que uma parte dessa energia não usada pode ser comercializada", afirma.
Em petróleo, os olhares estão sobre a camada pré-sal. Em julho, a Petrobras registrou a produção de mais de 850 mil barris por dia na área, marca atingida em menos de uma década. Na Bacia de Campos, a estatal levou quase 25 anos para chegar a esse patamar e teve de contar com a abertura de mais de 400 poços, enquanto no pré-sal foram menos de 50, o que atesta sua alta produtividade. Há alguns poços que estão produzindo 30 mil barris por dia, dobro do verificado no Golfo do México.
Em 2013, a francesa Total, presente no Brasil desde 1975, participou do consórcio - que reúne as estatais chinesas CNPC e Cnooc, a Shell e a Petrobras - vencedor do primeiro leilão de uma área do pré-sal realizado pelo governo federal. O volume de barris recuperáveis é estimado entre 8 bilhões e 12 bilhões, o que representaria de 44% a 66% das reservas brasileiras. A Total detém 20% do consórcio que explorará o ativo por 35 anos. Ter acesso a esses recursos traz maior segurança para suas reservas nos próximos anos e para que a empresa possa manter sua produção na próxima década. Por ter 20% do consórcio de Libra, a Total desembolsou R$ 3 bilhões para participar da exploração do campo, licitado pelo valor total de R$ 15 bilhões em outubro de 2013.
Gás natural é outro interesse da França no Brasil. Associado ao óleo extraído do pré-sal, há gás. Nas estimativas da Empresa de Pesquisas Energéticas (EPE), órgão estatal de planejamento do setor de energia, em 2024 a oferta de gás deverá ter um incremento na produção líquida potencial: dos 56 milhões de m3 do ano passado para 99 milhões de m3 diários. Em paralelo, a matriz elétrica do país está calcada na geração hidrelétrica, mas, com a construção de usinas a fio d'água, sem grandes reservatórios, a dependência das chuvas tem sido maior. A capacidade de armazenamento das hidrelétricas caiu de 6,3 meses para 4,7 meses em dez anos.
As termelétricas a gás natural, que em momentos de estiagem nesse início do ano responderam por um terço da energia consumida no país, deverão ter espaço crescente na matriz. Na 13ª Rodada da Agência Nacional do Petróleo (ANP), realizada neste mês, a busca por gás natural para projetos termelétricos ganhou apelo entre as participantes, entre elas o grupo franco-belga Engie (ex- GDF Suez), que arrematou presença em seis blocos licitados, associando-se à Parnaíba Gás Natural em dois blocos no Maranhão, e se unindo à canadense Alvopetro em quatro blocos no Recôncavo Baiano.
A Engie também tem relevante participação no setor hidrelétrico, sendo a principal acionista, com 40%, da usina hidrelétrica de Jirau, no rio Madeira, um dos três maiores projetos em construção no país, com capacidade instalada de 3750 megawatts (MW) e potência suficiente para abastecer mais de dez milhões de residências. O grupo franco-belga também participa do grupo de estudos, ao lado da francesa EDF, da usina de São Luiz dos Tapajós, no Pará, que o governo pretende licitar em 2016.
O empreendimento será o maior projeto hidrelétrico do país nos próximos anos, com investimentos previstos de R$ 26 bilhões e oito mil megawatts de potência. "Pretendemos licitar em 2016", diz o presidente da Empresa de Pesquisas Energéticas (EPE), órgão estatal de planejamento, Mauricio Tolmasquim.
As encomendas do setor de energia estão no radar da Alstom. Em geração, a empresa francesa, que celebrou 60 anos de presença no país em 2015, inaugurou, ano passado, em Taubaté (SP), seu sexto centro global de tecnologia para P&D de geração hidrelétrica. Com foco em turbinas do tipo Kaplan, utilizadas em hidrelétricas de baixa queda, o centro tem importância estratégica para a empresa no Brasil, em que mais de metade do potencial hidrelétrico se localiza na região Norte.