Projetos da Orygen e Bionovis recebem recursos do BNDES
Valor EconômicoO Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) aprovou financiamento de R$ 401 milhões para instalação das fábricas da Bionovis e da Orygen para produção de medicamentos biotecnológicos. A previsão é que o investimento total nos empreendimentos some R$ 1,1 bilhão. A Bionovis receberá R$ 201 milhões, enquanto a Orygen terá R$ 200 milhões. Os recursos estão no âmbito do programa BNDES Profarma.
Na Bionovis o valor total a ser aplicado é de R$ 629,1 milhões. Já a unidade da Orygen vai exigir R$ 546 milhões. As duas fábricas devem produzir, juntas, 13 medicamentos voltados para o combate ao câncer e a doenças autoimunes.
No caso da Bionovis, a nova fábrica já está sendo construída no município de Valinhos (SP). Terá capacidade para produzir 400 quilos de proteínas terapêuticas, mas com possibilidade de elevar capacidade, informou o presidente da empresa, Odnir Finotti.
"Existe demanda reprimida por esses medicamentos, por serem de alto valor. Hoje eles são importados", disse, acrescentando que o início da produção será em 2018. A intenção da companhia é exportar em torno de 30% da produção quando estiver em plena capacidade.
O executivo preferiu não informar números estimados de faturamento, devido ao fato de a Bionovis ser companhia ainda nascente. Mas disse que os sócios elevaram estimativa de aporte de capital para o período de 2012 a 2020, de R$ 500 milhões a R$ 750 milhões. A empresa é uma joint venture formada em 2012 pelas farmacêuticas Aché, EMS, Hypermarcas e União Química.
Já a Orygen, formada pelas farmacêuticas Biolab e Eurofarma, planeja para 2019 o início de produção na fábrica em construção em São Carlos (SP), informou o presidente da empresa, Andrew Simpson.
A nova unidade terá capacidade de produção de 200 quilos por ano. O plano da companhia é, após consolidar a operação, começar a fabricar medicamentos próprios cuja tecnologia de elaboração seja totalmente brasileira. De acordo com Simpson, a Orygen já assinou, com entidade de pesquisa, parceria para elaboração de medicamento biotecnológico inovador, cuja patente será brasileira. Ele disse que a companhia deve divulgar mais detalhes, no próximo mês, sobre a parceria e o projeto.
"O país deve ter a primeira fábrica de remédios biotecnológicos ainda este ano" disse o chefe de departamento de Produtos para Saúde do BNDES, Pedro Palmeira. A primeira fábrica, em Embu das Artes (SP), tem previsão de entrada em operação no 2º semestre. Pertence à empresa Libbs, que obteve um crédito de R$ 252,1 milhões do BNDES, aprovado em 2013. O projeto vai absorver recursos totais de R$ 571,9 milhões.
Na prática, a ideia por trás da aprovação dos financiamentos, de acordo com o chefe de departamento do BNDES, é criar um novo parque industrial tecnológico no país, voltado para remédios biotecnológicos. Trata-se de um mercado que movimenta em torno de US$ 100 bilhões no mundo, segundo dados da consultoria britânica Evaluate Pharma.
Os medicamentos biotecnológicos são produzidos a partir da biossíntese, ou seja, células modificadas geneticamente que dão origem a proteínas, hormônios ou a outros fluidos. Não substituem os sintéticos, mas são complementares e se mostram eficazes no combate às doenças crônicas - principalmente câncer. Isso porque os sintéticos combatem células boas e ruins, com fortes efeitos colaterais; já biotecnológicos agem na célula doente e preservam as demais, reduzindo impacto da medicação.
Para Palmeira, o crédito para as três fábricas representa o fim de um ciclo iniciado em 2009. "Foi quando começamos a trabalhar no desafio de construir um segmento [de biotecnologia] dentro do BNDES Profarma", disse. Ele informou que o BNDES notou "janela de oportunidade" entre 2014 e 2018, quando alguns medicamentos biotecnológicos importantes perderiam patente - e, consequentemente, teriam custo de produção reduzido.
A partir de 2009, o banco, assim como a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), começaram a delinear a construção de Parcerias para o Desenvolvimento Produtivo (PDPs) envolvendo a estruturação de joint-ventures de empresas brasileiras para produzir biotecnológicos.
O projeto previu apoio de companhias multinacionais. Estas fariam a chamada "transferência de tecnologia" pois detinham a experiência para fabricar o produto aliado às compras feitas pelo governo. O maior comprador desse tipo de medicamento no país é o governo, devido as necessidade de Sistema Único de Saúde (SUS).
A atuação do banco na área de biotecnologia na indústria farmacêutica levou as liberações do subprograma Profarma Biotecnologia a atingir R$ 210 milhões em 2015, mais que o dobro de 2014 (R$ 94 milhões). Ao ser questionado se prevê novas aprovações, Palmeira apenas comentou este ano deve ser de consolidação dos projetos já apoiados.
O crescimento do setor no Brasil segue tendência mundial. Estudo da Evaluate Pharma mostrou que os biotecnológicos representaram 24% das vendas do mercado farmacêutico mundial em 2015, com previsão de chegar a 25% este ano; e 27% em 2020.