23/04/18 12h16

Projeto visa capacitar idoso para ser MEI

Diário do Grande ABC

A oportunidade de empreender não tem idade. Um projeto desenvolvido na região visa capacitar idosos com mais de 60 anos e aposentados para a criação dos seus próprios negócios e, consequentemente, para a volta desta população ao mercado de trabalho. Inicialmente, a estimativa é que cerca de 500 pessoas sejam atendidas pela iniciativa.

Idealizador do projeto, o economista e consultor econômico e financeiro Aparecido de Faria afirmou que a criação foi motivada por conta do aumento na expectativa de vida, que atualmente é de 75,8 anos no País de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Segundo ele, o aposentado pode até dobrar a sua renda ao se regularizar como MEI (Microempreendedor Individual). “A ideia é que com o projeto, pelo menos o aposentado dobre o ganho atual que tem com a aposentadoria. Ele pode aumentar a sua renda em, no máximo, cerca de R$ 7.000 a mais”, disse.

Para que a ideia saia do papel, a estimativa é a de que os custos sejam de R$ 2,1 milhões. Montante que os envolvidos, como as associações, tentam buscar por meio de parcerias e patrocínios. De acordo com Faria, a intenção é apresentar ao Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas). “Estamos aguardando uma agenda. O pensamento é que o curso tenha duração de 18 meses. Serão pelo menos seis professores de finanças e gestão, com a estimativa de que cada um ganhe cerca de R$ 7.000 ao mês, já se tem um grande gasto. Além disso, queremos que os profissionais visitem o local do trabalho e identifiquem as prioridades dos negócios.”

O projeto prevê que a capacitação aos aposentados aconteça por meio de seis ações estratégicas. Entre elas estão a apresentação de ideias inovadoras, montagem e estruturação de cada projeto, elaboração de planos de negócios , implantação física e avaliação que determina a continuidade de cada negócio do ponto de vista financeiro. As aulas deverão ocorrer em espaços nas cidades de Santo André, São Bernardo e Mauá, para facilitar aos alunos com dificuldade de locomoção.

O presidente da Associação dos Trabalhadores Aposentados e Pensionistas do Grande ABC, Etevaldo Santiago de Araújo, elogiou o projeto. Ele mesmo seria um dos participantes, já que possui uma marcenaria, mas nunca pensou nisso como uma forma de empreendedorismo, somente como hobby (leia mais abaixo).

“É uma novidade, algo que a gente sempre pensou em fazer, mas é preciso um grande planejamento, como o que foi feito. A maioria das iniciativas como essa, é destinada aos mais jovens, que ainda estão começando a carreira, mas quem tem 60 anos ou mais, e durante todo este tempo foi dedicado ao trabalho, é esquecido. Muitas famílias ainda são sustentadas pela aposentadoria, então é uma iniciativa que deve abranger muita gente”, contou.

Ex-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André e Mauá, e atualmente no comando da secretaria paulista de Emprego e Relações do Trabalho, Cícero Martinha (SD), que chegou a conhecer o projeto antes da nomeação para a Pasta, afirmou que acredita na iniciativa para movimentação do mercado de trabalho. “Cada vez mais vemos o número de empregos com carteira assinada diminuir. Hoje, com a expectativa de vida aumentando, as pessoas se aposentam e, muitas vezes, ficam jogando dominó ou em casa. Tem gente que se adapta, mas tem gente que não. Então, é uma forma de aumentar a qualidade de vida e ter uma condição de rendimento.”

 

Hobby pode virar opção de formalização

Presidente da Associação dos Trabalhadores Aposentados e Pensionistas do Grande ABC, Etevaldo Santiago de Araújo, 78 anos, tem a marcenaria como hobby desde que se aposentou, há cerca de 15 anos. Durante todo este período, em que confecciona esculturas de madeira em casa, ele nunca pensou em se formalizar como empreendedor.

Para se ter ideia da paixão de Araújo, logo que deixou o trabalho de funileiro industrial, ele fez um curso de marchetaria, técnica de decoração de móveis, algo que sempre admirou. “Eu simplesmente confecciono de forma amadora. Quando tem algum feriado, principalmente, faço para me distrair”, afirmou o morador de Mauá, que tem uma oficina em casa, para confeccionar as esculturas.

“Se o projeto for em frente, o que acreditamos que vai acontecer, eu gostaria de ser incluído. Também quero servir de exemplo para que mais pessoas se interessem e consigam gerar maior fonte de renda”, completou.

 

ORIENTAÇÃO

De acordo com o gerente regional do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), Paulo Sérgio Cereda, o empreendedorismo na terceira idade é saudável, tanto para o empreendedor quanto para o mercado, já que a abertura das microempresas gera atividade econômica. “Você faz a economia girar. Além do que, estas pessoas acabam se tornando mais saudáveis por estarem ativas no mercado”, disse.

Porém, ele pondera que alguns cuidados devem ser tomados, por isso, acredita que o projeto é benéfico para as orientações. “Mesmo para o MEI (Microempreendedor Individual), que é a forma mais simples de abertura,são necessários cuidados com marketing, números, entre outras questões. Mesmo assim, é necessário estar na internet, já que hoje ou você está no mundo virtual ou está morto. E a principal dificuldade para esta faixa etária é a questão das redes sociais”, explicou Cereda.