Projeto setorial vai estimular exportação
Valor EconômicoUm projeto setorial deve ser anunciado neste segundo semestre com o objetivo de impulsionar as vendas externas de equipamentos eólicos e estabelecer a indústria brasileira como fornecedora para as Américas. Três instituições uniram esforços com esse objetivo: Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica), Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) e a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil).
"Estamos fazendo um diagnóstico do potencial de mercado e das ações necessárias para melhorar o ambiente de negócios", diz Maria Luisa Cravo, gerente de investimentos da Apex.
Elbia Gannoum, presidente da Abeeólica, diz que os sete fabricantes brasileiros de aerogeradores, e suas respectivas cadeias de fornecedores, formadas por mais de mil empreendimentos, possuem uma capacidade somada para fornecer os equipamentos necessários para a geração de 2.800 MW novos por ano. O Brasil, porém, contrata por ano 2.000 MW. "Existe uma capacidade ociosa de 800 MW que poderia estar sendo exportada", diz.
Além disso, avalia Elbia, países vizinhos como Uruguai, Argentina, Chile e Peru estão elaborando planos de expansão de geração de energia eólica. O potencial de contratações soma 3.000 MW por ano. Isoladamente, porém, são mercados pequenos que não geram escala produtiva para atrair uma indústria que demanda capital intensivo, como a de equipamentos eólicos. O mapeamento mercadológico realizado pela Apex inclui ainda México, Colômbia, Estados Unidos, Cingapura e países da África como alvos potenciais.
A indústria brasileira de equipamentos eólicos é relativamente jovem, foi constituída principalmente nos últimos cinco anos com a entrada no país de algumas das principais produtoras globais de aerogeradores e sua cadeia de fornecedores de partes e peças. Empresas que foram atraídas pela expansão do parque eólico nacional e também por um trabalho realizado pela Apex de atração de empreendimentos estrangeiros para o mercado brasileiro.
"Temos uma indústria moderna, mas o custo de produzir no Brasil é alto", diz Elbia Gannoum. Para ela, seria adequada a concessão de incentivos tributários para equalizar os custos produtivos como ocorre no exterior.
Roberto Veiga, presidente do Conselho de Energia Eólica da Abimaq, diz que a qualidade da produção brasileira é boa, a taxa de câmbio favorece as exportações, porém a indústria perde competitividade devido ao custo logístico e também pela baixa produtividade, consequente do modelo de negócio do setor eólico no país, com demanda irregular oriunda de leilões públicos de energia. "Uma demanda contínua e distribuída ao longo do ano de forma linear traria ganhos de escala e competitividade", diz.
Segundo dados da Apex, o Brasil exportou US$ 428 milhões em equipamentos eólicos em 2015, provenientes basicamente de negócios de duas empresas, a Tecsis e a Wobben Enercon.
Fernando Real Alves da Silva, presidente da Wobben Enercon, fabricante de aerogeradores, componentes e pás eólicas, diz que as exportações da unidade brasileira são destinadas principalmente à Europa e ao Canadá e representam cerca de 30% do faturamento da companhia. Para 2016, a previsão é de um crescimento de 10% nas vendas ao exterior. Apesar do foco da empresa ser o e mercado interno, Silva diz que o desempenho no exterior poderia ser muito melhor se não fosse a burocracia excessiva, a demora no processo, e a baixa qualidade logística. "Isso inibe exportações. O cliente compara o Brasil com outros mercados."
A deficiência logística também é a principal preocupação de Marcelo Soares, presidente Tecsis, empresa de Sorocaba, cidade do interior paulista, que em 2015 exportou metade de sua produção de 3.600 pás, tendo os Estados Unidos como principal destino. Volume que deve ser repetido em 2016.
O transporte de uma pá eólica - equipamento que pesa 15 toneladas - entre Santos (SP) e Houston (EUA), custa de US$ 25 mil a US$ 30 mil, cerca de 15% de seu valor. "O concorrente que está próximo do cliente ou conta com uma estrutura logística mais econômica leva vantagem", diz. "Mas nossa fábrica é bastante competitiva, em média produzimos com um custo 10% inferior aos concorrentes, o que mantém os negócios", afirma.
A Tecsis está mudando sua estratégia de negócios no exterior para ganhar competitividade. Até recentemente a empresa se responsabilizava por entregar seus produtos no Porto de Santos, mas agora passará a se responsabilizar por toda a logística até a porta do cliente. "A ideia é que o cliente não tenha mais preocupações com burocracia e logística, apenas compare preço final e nossa qualidade", diz Soares.