Produtores do Noroeste paulista investem na produção eficiente da cachaça
Produtores paulistas estão empenhados em fabricar a cachaça, bebida tipicamente brasileira e que envolve várias etapas na produção, com maior eficiência
Diário da RegiãoCercada pela cana-de-açúcar para produção de diversos produtos em todo Noroeste paulista, a produção de cachaça é mais uma opção aos produtores que estão investindo na bebida. Terceiro destilado mais consumido no mundo, a cachaça movimenta mais de R$ 15 bilhões anualmente no Brasil, conforme dados do Instituto Brasileiro da Cachaça (Ibrac). Os segredos para uma boa bebida incluem o corte da cana-de açúcar e a qualidade das cultivares que serão incorporadas, da destilação ao envelhecimento, ao destilado mais famoso do País.
O estado de São Paulo se destaca na produção da cachaça, bebida com denominação típica e exclusiva da aguardente de cana produzida no Brasil, tendo como matéria-prima o mosto fermentado do caldo da cana-de-açúcar. Segundo o produtor e integrante da Câmara Setorial da Cachaça no estado paulista, Diego Pavão, a produção de cachaça tem ganhado força para fomentar ainda mais o destilado em todas as cachaçarias de São Paulo.
“Em 2021 foi lançado um livro para divulgar a cachaça de alambique no estado de São Paulo, o que deve valorizar ainda mais a cadeia produtiva da bebida, especialmente de pequenos produtores”, destaca Diego. De acordo com dados da Secretaria estadual de Agricultura, com toda a produção - entre a industrial e a de alambique - o estado paulista é o maior produtor, consumidor e exportador da cachaça brasileira.
Qualidade
Na produção da cachaça, segundo Diego, o produtor deve estar atento aos diversos fatores da cadeia produtiva da bebida, como a escolha das variedades de cana-de-açúcar, o tempo de fermentação, o processo de destilação e o envelhecimento da bebida. “Cada um desses fatores pode influenciar na qualidade final da cachaça, tornando-a mais suave, mais aromática, mais complexa ou mais encorpada”.
Diego conta que cresceu observando a família envolvida na produção do destilado que leva o rótulo de Cachaça Pavão, e tem volume de 1 mil litros anuais da bebida. Há seis anos, Diego também resolveu trabalhar com a venda da bebida, que leva um blend de leveduras consideradas selvagens, e é produzida em alambique. “Em nossa produção da cana-de-açúcar tem ainda o corte manual, com alambique de fogo direto, tudo bem artesanal”, ressalta.
Ele explica ainda a diferença entre a destilação em coluna e a destilação de alambique. “Existem boas marcas de cachaça de destilação de coluna, que é uma produção mais industrial, em grande escala. Porém, a destilação de alambique é mais sensorial, os aromas da cana são preservados”, diz Diego.
Cada produtor, de acordo com Diego, tem uma receita própria e uma maneira de produzir a cachaça, e ainda, deve ser levado em conta o envelhecimento da bebida. “Importante destacar que a cachaça, assim como o vinho, tem o terroir, um termo francês que se refere às características geográficas, climáticas, de solo e de vegetação de uma região, e que influencia na produção de um determinado produto agrícola, como acontece também com a cachaça”.
Engenho tradicional
Com o final da safra da cana-de-açúcar na região de Rio Preto, o produtor João Pulici está satisfeito com a produção da cachaça em engenho tipicamente tradicional, localizado no município de Cedral. Há oito anos, o produtor iniciou a atividade na cadeia produtiva da cachaça, e atualmente, vem ampliando o engenho, com volume de produção diário de 350 litros. Atualmente, a produção está indo tão bem que João decidiu deixar a advocacia para seguir apenas como produtor de cachaça.
“Estou muito satisfeito com a produção deste ano, e também foi um longo processo até chegar à certificação que consegui junto ao Mapa (Ministério da Agricultura e Pecuária), para o rótulo da cachaça Dom Alexandre”, afirma. João conta ainda que, para o processo da cachaça utiliza a destilação de alambique e o envelhecimento em tonel de madeiras como as de jequitibá rosa, amendoim e carvalho francês.
Entre as opções em destilar em alambique ou em coluna, João diz que tudo depende do capricho de quem produz a bebida. “Toda a forma de destilação precisa respeitar os equipamentos, não pode ter pressa. As duas cachaças, tanto de alambique como a de coluna, são boas”. Segundo o produtor, o segredo da produção de cachaça é a limpeza do ambiente, além de fazer tudo com muita calma. (CC)
Exportações refletem em aumento da produção
Em 2022, de acordo com dados da Secretaria de Comércio Exterior e compilados pelo Ibrac, o Brasil teve recorde na exportação da cachaça. Foram US$ 18,47 milhões exportados, o maior valor dos últimos 12 anos e 54,74% maior que as exportações de 2021. Da produção na cidade de Mirassol, a família Tápparo também aumentou a exportação da cachaça, ampliando ainda os países para onde destina o produto.
Breno Tápparo, sócio proprietário da empresa, pontua que a empresa está mantendo o foco na exportação dos produtos da cachaçaria. “Começamos a exportar em 2019 para os Estados Unidos e agora já ampliamos as comercializações para a União Europeia, principalmente para Reino Unido, Holanda, Portugal e França”.
O engenho Dom Tápparo teve início com o avô de Breno, a terceira geração da família que está no negócio há mais de quatro décadas. A marca também já ganhou prêmios internacionais como a melhor cachaça mundial. “Quando meu avô começou, ainda mantinha o corte manual e a destilação de alambique. Mas hoje, já ampliamos muito a produção, com volume de 2 mil litros por hora da bebida”, comenta Breno.
O consumo da cachaça ao redor do mundo tem aumentado, e Breno diz que a exportação teve aumento de 1 mil % nas vendas da marca da empresa. “O apelo é muito forte lá fora, é o mercado da saudade, porque a cachaça é um produto genuíno nosso e que remete ao Brasil”. Além disso, o produtor diz que a alíquota para exportar o produto impulsiona ainda mais o setor, já que é quase zero em termos de taxas pagas pelos empresários.