15/06/10 10h53

Produtividade eleva capacidade de oferta

Valor Econômico

Nos 12 meses encerrados em abril, a indústria de transformação instalada no Brasil foi capaz de aumentar a oferta interna de bens em 2,4% (em relação aos 12 meses anteriores) com um menor número de horas pagas e com menos pessoal ocupado. Ou seja, a indústria saiu da crise com uma capacidade de produção superior àquela existente no pré-crise. Pelo cálculo mais simples possível, a produtividade da indústria cresceu 4,7% nos 12 meses encerrados em abril passado.

Pela Pesquisa Industrial Mensal (PIM) do IBGE, a produção industrial no setor de transformação cresceu 2,38% (12 meses até abril em relação aos 12 meses anteriores), enquanto o total de horas pagas ficou 2,22% menor na mesma comparação pela Pesquisa Industrial Mensal de Emprego e Salário (Pimes), também do IBGE. Por setores, a produtividade melhorou em 12 dos 16 segmentos analisados. Se a conta for feita apenas olhando os primeiros quatro meses do ano, os dados são quase absurdos - o aumento da produtividade na média da indústria fica em 15%.

Recuperar produtividade após quedas intensas de produção é fácil, pois há sempre capacidade ociosa, máquinas pouco utilizadas, funcionários voltando a produzir em período integral e mesmo novas contratações. O dado dos primeiros quatro meses deve, por isso, ser bastante relativizado. O dado de 12 meses é importante, contudo, porque ele indica a recuperação da produção da indústria brasileira está ocorrendo com menos funcionários. Como milagres não existem, a indústria fez isso ou porque fez ajustes na linha de montagem, ou porque novas máquinas (investimento) foram incorporadas à produção ou porque ela terceirizou parte da produção. De qualquer forma, a indústria saiu da crise mais eficiente e com maior capacidade de produção.

Mesmo considerando que esse cálculo de produtividade do trabalho na indústria é bastante simplificado (porque apenas cruza volume de produção com horas pagas), ele não pode ser desconsiderado ao sinalizar que existe um fator de produção - o trabalho - que ainda está sendo subutilizado. Como a indústria não retomou o nível de emprego que mantinha no período anterior à crise, ela ainda conta com a possibilidade de fazer novas contratações para elevar sua capacidade de produção. Esse tipo de aumento da produtividade (com menos horas trabalhadas) ajuda a entender porque em alguns setores o auge da produção industrial já foi alcançado ou mesmo superado enquanto o nível de utilização da capacidade instalada (o Nuci) ainda não foi batido, como na indústria de alimentos, de químicos, calçados e na produção de automóveis.

Outro dado que explica a maior elasticidade do Nuci são os recentes desembolsos do BNDES à indústria. No ano passado eles cresceram 66% e nos primeiros três meses deste ano mais 22%, com algumas sinalizações importantes: alta de 460% para a indústria têxtil, 500% para confecções, 200% para o setor de calçados e 270% para móveis. São crescimentos expressivos para valores ainda pequenos, mas eles crescem em setores submetidos a uma forte competição externa e sinalizam a intenção de resistir e, talvez, recuperar parte do mercado agora atendido por bens importados.