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Produção precisa de investimento de qualidade

Valor Econômico - 26/04/2007

Só os investimentos em inovação e no desenvolvimento industrial é que permitirão ao Brasil melhorar sua inserção no jogo do comércio mundial, agregando valor às suas exportações e gerando mais e melhores empregos. O setor privado tem um papel fundamental nessa questão. Mas o Estado também tem que induzir o aprimoramento tecnológico, promovendo e defendendo o interesse nacional. A avaliação é de Renato Baumann e João Carlos Ferraz, diretores da Comissão Econômica para a América Latina e Caribe, a Cepal. Uma peça-chave é o investimento direto estrangeiro (IED). Para os economistas da Cepal, o governo precisa atrair investimentos de qualidade. A idéia é que o investimento estrangeiro esteja vinculado à produção de insumos intermediários, à formação de joint-ventures e à contratação de pessoal local para atividades de pesquisa e desenvolvimento. Atualmente, a maior parte da pauta de exportações do Brasil é de recursos naturais: 32,6% de tudo o que é exportado. Segundo dados da Cepal, as vendas externas de produtos manufaturados de média e alta tecnologia representam, respectivamente, 24,9% e 7,9% das exportações. Esses números refletem a estrutura da indústria brasileira, na qual menos da metade do valor agregado (42,4%) é criado pelos setores de maior intensidade tecnológica. Nos países desenvolvidos, esse percentual é de 62,1%. Uma grande desvantagem para o Brasil está no setor de equipamentos de rádio, televisão e telecomunicações, que representam apenas 3,1% do valor agregado da indústria, contra 21,2% dos países desenvolvidos. Falta também visão de longo prazo às empresas brasileiras. Segundo Ferraz, as companhias chinesas e indianas querem crescer agora para se tornarem empresas mundiais no futuro. "Aqui no Brasil nossas empresas crescem e quando estão no auge, são vendidas para transnacionais". Nesse sentido, acredita Renato Baumann, mesmo em um ambiente internacional restritivo, com organizações de controle como a Organização Mundial do Comércio (OMC), existem graus de liberdade para que o governo faça políticas industriais pro-ativas. Ele propõe que na questão tecnológica o país adote regras mais rígidas para a divulgação de patentes e conceda mais proteção às inovações locais. É preciso também uma política de incentivos que englobe subsídios não específicos, como o fornecimento de infra-estrutura e impostos setoriais, e também subsídios a pequenas empresas. No que diz respeito às políticas de investimento, Baumann reitera a necessidade de monitorar os investimentos diretos estrangeiros.