24/08/11 16h02

Posição estratégica

Valor Econômico

A exploração gradual do pré-sal, que tem boa parte de suas reservas na Bacia de Santos, e os investimentos no maior porto do país, que concentrou em 2010 quase um terço da balança comercial brasileira, posicionam a Baixada Santista como centro estratégico para o crescimento nacional. Ao lado de oportunidades que poderão criar um ciclo virtuoso de investimentos, governo e iniciativa privada também terão de destravar gargalos e criar um modelo de desenvolvimento para a região que capacite mão de obra, evite o descontrole habitacional e proporcione renda e bem-estar social para a população. Essas questões foram debatidas segunda-feira durante o seminário "Desafios e Oportunidades na Baixada Santista", promovido pelo Valor .

A importância da nova fronteira fica clara ao se analisar os números da Petrobras . A meta da estatal é elevar sua produção dos atuais 2,1 milhões de barris por dia de petróleo para 3,1 milhões barris por dia em 2015 e 4,9 milhões em 2020. As reservas existentes na camada pré-sal, que se estende de Santa Catarina ao Espírito Santo, respondem hoje por 2% da produção da empresa, mas pularão para 18% em 2015 e, em 2020, responderão por 40% da produção de petróleo no Brasil.

A Petrobras vai investir  US$ 224,7 bilhões entre 2011 e 2015. Pouco mais da metade desse montante será direcionada à área de exploração e produção de petróleo. Serão investidos US$ 64,3 bilhões na camada pós-sal e  US$ 53,4 bilhões na área de pré-sal. A Bacia de Santos terá grande destaque de investimentos na nova fronteira exploratória, podendo receber cerca de 90% dos US$ 53,4 bilhões destinados ao pré-sal, afirma José Luiz Marcusso, gerente geral da unidade de negócios de exploração e produção da Bacia de Santos. "A produção da Petrobras e parceiros no pré-sal da Bacia de Santos está em 60 mil barris por dia, mas deve superar 100 mil barris no fim do ano. E, em 2017, deve chegar a um milhão de barris por dia", afirmou.

A Bacia de Santos deverá ter um papel tão estratégico quanto a Bacia de Campos para a empresa. Para atender ao crescimento do novo foco de produção, a empresa está construindo um complexo de três torres de prédios no centro de Santos, com capacidade para mais de seis mil funcionários, onde funcionará, no fim de 2013, a nova sede da Petrobras na região. "Está sendo estudada a implementação de um centro de pesquisas da empresa", disse Marcusso.

O governo paulista também está de olho nas oportunidades criadas pelo pré-sal. Em janeiro, foi instituído o Conselho Paulista de Óleo e Gás, que reúne 14 secretarias de Estado e a iniciativa privada para avaliar impactos ambientais, estudar a rede de fornecimento da Petrobras, acelerar a qualificação profissional e incentivar a pesquisa. "Vamos lutar pela parte dos royalties a que São Paulo tem direito, mas nossa preocupação vai além, queremos potencializar as oportunidades e estimular a renda", afirmou o secretário paulista de energia, José Aníbal, presente ao seminário.

Um desafio será qualificar mão de obra. Estima-se que cada emprego direto gerado pela Petrobras crie cinco indiretos. Mais de 50 mil profissionais serão exigidos na Baixada Santista até 2014, segundo estimativas do secretário de assuntos metropolitanos, Edson Aparecido, que frisou que o governo dará prioridade à mão de obra local e regional, evitando movimentos migratórios. Para isso, investirá em formação básica e técnica e na promoção da educação de jovens e adultos.

Também está no radar um novo campus da USP em Santos, que terá o curso de engenharia do petróleo, assim como a revitalização de centros de cursos de formação técnica. Outro desafio será formar uma rede de fornecedores capacitados a atender às demandas da empresa.

Ao lado do pré-sal, o porto de Santos tem previsão de investimentos privados e públicos (previstos no PAC 2) de R$ 8,2 bilhões. "O porto deverá passar por uma grande ampliação, chegando a movimentar 230 milhões de toneladas em 2024", destacou José Roberto Serra, presidente da Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp). Em 2010, foram movimentadas 96 milhões de toneladas de cargas. Neste ano estão previstas 103 milhões.

"A cidade pode tornar-se base de apoio às plataformas no mar e base de suporte naval", afirmou João Paulo Tavares Papa, prefeito de Santos. No momento, trabalha-se no aumento da profundidade do porto, de 13 metros para 15 metros, e da largura, de 150 metros para 220 metros. Ainda estão sendo aplicados cerca de R$ 620 milhões na melhoria dos acessos rodoviários ao porto, para desafogar as vias que chegam ao porto e também são usadas por veículos de passeio.