Pós-Copa traz oportunidades econômicas e de avanço político para o Brasil
Legado deixado pela Copa inclui relações internacionais, atração de investimentos e turismo
Jornal A CidadeCom o mundo morrendo de amores pelo que aconteceu no Brasil desde 12 de junho, o país sai com a imagem valorizada aos olhos de boa parte do planeta. Se a seleção deu vexame, a organização do Mundial de futebol não decepcionou.
Não houve caos aéreo, apagão, falta de internet nos estádios ou problemas de segurança. Se o sucesso do evento não vai resolver os problemas de logística do Brasil, nem baixar os custos de produção, cria oportunidades econômicas em diversos setores que deveriam ser aproveitadas. É o que afirmam especialistas ouvidos pelo UOL Esporte sobre o que a Copa poderá deixar como legado para o Brasil do ponto de vista econômico.
De acordo com Marcelo Proni, diretor associado do Instituto de Economia da Unicamp (Universidade de Campinas), entre as possibilidades que surgem para o país com a Copa estão o fechamento de acordos bilaterais e a atração de novos investimentos. Segundo ele, isso é possível porque o torneio transcorreu sem violência, caos em aeroportos ou falta de organização. A lembrança que fica é de um país alegre e que recebe bem os visitantes.
Proni diz que a hospitalidade brasileira era conhecida dos estrangeiros, mas a capacidade de realizar e a existência de uma infraestrutura mínima são as "novidades" que reforçam a posição nacional. "O efeito é maior entre europeus e americanos, porque os latino-americanos já conheciam a realidade brasileira. Cabe aos diplomatas do Itamaraty capitalizar a atenção voltada para o país neste mês", afirma o pesquisador, que é autor do livro "A Metamorfose do Futebol" e de vários artigos sobre economia do esporte.
O professor diz também que o Mundial valorizou a "marca" Brasil, e isto pode significar ganhos principalmente para setores econômicos que lidam com a brasilidade, porque a aceitação para o país está em alta. "Não vai fazer vender mais minério de ferro, soja ou laranja. Mas se você tem uma empresa de frutas tropicais ou do setor de moda, pode explorar o sucesso da Copa. Os fabricantes de biquínis brasileiros são um exemplo de quem pode sair ganhando".
Finalmente, Proni observa que as associações de empresários também devem agir para aproveitar o ganho de imagem gerado pela Copa. Esta lógica se aplica especialmente ao turismo, setor que teria as melhores perspectivas no período pós-Mundial.
Para Marustschka Moesch, professora do Centro de Excelência em Turismo da UNB (Universidade Nacional de Brasília), em um primeiro momento, o turismo será beneficiado pela propaganda boca a boca, marketing muito mais eficaz do que qualquer campanha.
Ela ressalta que o Brasil não pode ignorar os países da América Latina. "Vale lembrar que houve uma invasão de torcedores da América do Sul e do México. Este público tem interesse em conhecer o país, e irá ouvir coisas boas de quem veio para cá", destaca. Além disso, o Brasil tem maiores condições de atrair o turista do subcontinente latino-americano do que o de outras partes do mundo. "Os europeus viajam muito dentro do próprio continente, e os americanos, para o Caribe", diz a professora.
Além dos ganhos econômicos, há outras vantagens que podem advir da experiência, sob a ótica da sociologia. De acordo com Max Rocha, professor e pesquisador do Núcleo Interdisciplinar de Pesquisa sobre Futebol e Modalidades Lúdicas da USP (Ludens), o futebol funcionou como instrumento de incentivo de discussão dos problemas brasileiros. Por isso, a população sai mais politizada da Copa.
O professor ressalta que os protestos que antecederam o Mundial ajudaram a consolidar movimentos sociais como Passe Livre, MTST (movimento dos sem-teto) e Comitê Popular da Copa. Ele avalia que a politização do evento faz a largada das eleições ter as digitais do torneio de futebol. Mas este cenário se aplica em um primeiro momento, e não há certezas que continuará até o dia da votação.
Apontada por todos como crucial para evolução do futebol brasileiro, a reforma na administração da modalidade é considerada pouco provável pelo pesquisador do Ludens. Rocha explica que é impensável qualquer alteração enquanto a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) estiver no controle do esporte no país, em virtude da estrutura arcaica que teria a entidade.
Rocha declara também que a Copa pode aproximar o Brasil dos outros países da América Latina. "Este intercâmbio é pequeno por questões de ocupação de território, o país ser voltado para o litoral e vinculado à Europa. Mas a "invasão" de colombianos, argentinos, chilenos, mexicanos e outros pode estreitar os laços".